Avaliação Completa
Blazer
DLX e Executive V6 4x4
O
único utilitário esportivo nacional passa por nosso crivo,
em duas versões e com câmbio automático e manual
Texto: Fabrício Samahá
Pode um veículo nacional concorrer de igual para igual com os
importados de sua categoria? Sem dúvida -- e o Blazer é mais um
exemplo disso. O utilitário esportivo da GM, única opção do
segmento produzida no Brasil, obteve o reconhecimento do mercado
e agora da imprensa especializada, sendo eleito Utilitário
Esportivo do Ano por jornalistas reunidos pela revista
Autoesporte. Depois de uma avaliação rápida com a versão topo-de-linha
Executive V6 4x4 de câmbio automático, submetemos o Blazer DLX
V6 4x4 a uma Avaliação Completa, incluindo trechos fora-de-estrada.
Lançado no Brasil em 1995, com motor de quatro cilindros, 2,2
litros e 106 cv, tração traseira e acabamento básico ou DLX, o
Blazer logo ganhou novas opções: o motor turbodiesel Maxion, de
2,5 litros e 95 cv; o soberbo V6 de 4,3 litros e 180 cv, ainda
hoje o motor mais potente utilizado num veículo de passageiros
brasileiro; a versão de topo Executive, disponível também com
câmbio automático; e em maio deste ano a opção de tração
nas quatro rodas. Embora muitas vezes adquirido por modismo e não
por necessidade prática, o recurso era bastante aguardado pelos
que utilizam seus veículos no fora-de-estrada ou mesmo em
frequentes acessos a sítios e fazendas. A propósito, o projeto
do Blazer e do pickup S10 brasileiros previa desde o início tração
integral, razão para um ressalto no assoalho dianteiro direito,
sob o qual fica a caixa de transferência, que nas versões 4x2 não
é utilizado.
A versão DLX V6 com tração integral custa entre R$ 43.881 e R$
49.050. O segundo valor abrange opcionais como bancos dianteiros
individuais com console central, alarme de controle remoto, rádio/toca-CD,
ar-condicionado, console de teto e, no caso do V6, câmbio automático.
Rodas de alumínio, pára-choques e retrovisores na cor do veículo,
faróis de neblina e bagageiro no teto vêm de série.
O Executive 4,3 V6 4x4 é o topo-de-linha e cobra por isso: R$ 50.903,
aí somados os opcionais toca-CD, câmbio automático, controle
de velocidade e pintura perolizada. Sem esses itens o preço fica
em R$ 47.478. Todo o resto vem de fábrica, como revestimento em
couro do volante, bancos e painéis de porta, apliques imitando
madeira nas portas e no console, regulagem elétrica do banco do
motorista e ar-condicionado. Rodas e faixas laterais em dourado,
molduras laterais na cor da carroceria e lanternas traseiras fumê
distinguem essa versão sofisticada, com ar que lembra os
importados.
Boa
capacidade de porta-malas, 456 litros, mas deveria haver
cobertura de série para
proteger a carga da visão externa; conforto no banco traseiro
poderia melhorar
As linhas robustas e agradáveis do Blazer continuam bem-aceitas
três anos após o lançamento. A frente desenhada para o modelo
brasileiro, com formas mais suaves que a original norte-americana,
confere-lhe jeito de automóvel. A linha '99 recebeu uma leve
reestilização, com grade maior e pára-choque de estilo mais
agressivo -- já apelidado de "tubarão" pelo mercado
--, que não equipavam as unidades avaliadas, ainda do modelo '98.
Todas as versões possuem terceira luz de freio elevada e barras
de proteção no interior das portas.
Internamente há bom espaço para cinco pessoas, com
possibilidade de seis no DLX avaliado. A alta posição de
dirigir ajuda a explicar o sucesso desses veículos mundo afora.
Transmite segurança e propicia ampla visibilidade do trânsito.
Poderia ser melhor a posição dos pedais, deslocados para a
esquerda por causa do túnel central de transmissão. O painel é
completo e funcional, com conta-giros, voltímetro, manômetro de
óleo e relógio digital. O som bem audível das luzes de direção
evita esquecê-las ligadas. Formas algo retilíneas contrastam
com a modernidade da saída de ar na tampa do porta-luvas e do
comando de luzes, que fica devendo em praticidade: é difícil
passar de faróis para lanternas. Já deveria haver ajuste de
altura para os cintos dianteiros, obrigatório em 1999 pelo novo
Código.
Console imitando madeira, revestimento em couro, regulagem elétrica do banco do motorista: requinte no Executive
(foto: divulgação)
No Blazer DLX o acabamento geral agrada. O encosto central do
banco (dividido em 1/3 e 2/3) torna-se um porta-objetos. Como
opcional, o passageiro central pode dar lugar a um apoio de braço
e porta-objetos espaçoso, com lugar para copos, fitas-cassete e
moedas -- mas não para CD, embora haja opção de toca-CD no
sistema de áudio... Muito charmosos a iluminação de cortesia
no assoalho dianteiro e o console de teto, com quatro luzes de
leitura, indicador de temperatura externa, bússola digital,
local para óculos e até para controle remoto de garagens.
Quando não há o console o DLX oferece curiosas luzes de leitura
incorporadas ao retrovisor interno.
O Executive impressiona pela sofisticação: parece conter de
tudo, desde o revestimento em couro dos bancos, volante e painéis
de portas, com o logo da versão bordado nos encostos, até pára-sóis
duplos (podem proteger frente e lateral ao mesmo tempo, algo útil
em estradas sinuosas) com espelhos iluminados. Portas e console
recebem apliques imitando madeira, bem integrados ao estilo da
versão. Há duas tomadas de energia além do acendedor de
cigarros -- para conectar telefone celular e computador portátil,
por exemplo -- e o banco do motorista dispõe de regulagem elétrica
para distância e altura, além de amplo ajuste de inclinação.
A regulagem do encosto, porém, permanece manual.
O motor V6 de 4,3 litros e 180 cv, o mais potente num veículo
nacional de passageiros (clique aqui para saber mais sobre técnica), pode ser acoplado à tração integral e
a um câmbio automático -- importado dos Estados Unidos como o
propulsor -- de quatro marchas e controle eletrônico, bastante
suave nas mudanças. Com ele vem o controle automático de
velocidade, de grande conveniência em viagens, ao dispensar a
aceleração e evitar que se exceda por distração a velocidade
pretendida. Passível de aperfeiçoamento, porém, a posição da
alavanca leva o cotovelo do motorista a colidir com o console
central.
Sair de um automóvel médio e passar a um Blazer V6 causa
algumas (agradáveis) surpresas. Os 180 cv movem as quase duas
toneladas com grande agilidade. Acelerar rapidamente, efetuar
ultrapassagens ou manter boa velocidade de viagem não exige
esforço algum. Em números, toda essa força representa 11
segundos de 0 a 100 km/h (11,9 segundos com câmbio automático)
e velocidade máxima de 179 km/h (172 km/h no automático). O
curso bastante longo do acelerador, que exige movimento incomum
do pé e transmite sensação de fraqueza na versão quatro-cilindros,
passa a ser fator de segurança no V6.
O estilo das três versões ainda agrada -- em particular com a decoração sofisticada da Executive, que chega às rodas douradas
(foto: divulgação)
Nos engates do câmbio manual e no peso da embreagem, de comando
hidráulico, o Blazer deve pouco a um automóvel. A direção
agrada pela maciez e pela relação baixa (variável de 13:1 a 15:1),
que exige pouco movimento para contornar curvas ou esquinas. Mas
as rodas esterçam pouco, o que aumenta o diâmetro de giro,
dificultando o retorno em ruas, e implica um longo vaivém em
manobras de estacionamento.
Certos detalhes indicam qualidade e boas soluções no Blazer,
como o revestimento fonoabsorvente no capô, a pequena borracha
que evita ruídos de chave junto à coluna de direção, a luz de
aviso de uso do cinto (só se apaga ao ser afivelado) e as cinco
posições temporizadas do limpador de pára-brisa. Faltam,
contudo, temporizadores da luz interna e dos comandos elétricos
de vidros, encostos de cabeça dianteiros ajustáveis na versão
DLX básica (só vêm nos bancos individuais, opcionais),
interruptor para desligar as luzes internas com a porta aberta e
cobertura do compartimento de bagagem -- oferecida como acessório
nas concessionárias GM, mas deveria ser de série. Também
poderia mudar o comutador de farol alto/baixo, para impedir sua
ligação involuntária já em facho alto, que ofusca outros
motoristas. E permanece um irritante alarme ao se abrir a porta
do motorista com a chave no contato -- que nem serve como
indicador de portas malfechadas, pois as demais não o acionam.
São detalhes que não comprometem o conjunto. Poderia, é
verdade, ser suavizada a suspensão e reprojetado o banco
traseiro, onde o assoalho alto e o encosto baixo e vertical
provocam desconforto. Mas a contínua evolução do Blazer indica
que a GM está atenta ao produto -- e a solução para essas
deficiências não deve demorar.