Validade estendida

Nos países emergentes e até nos de vanguarda, modelos de
décadas passadas continuam à venda ao lado dos sucessores

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

O Citi Golf feito na África do Sul, quatro gerações atrás do modelo atual vendido lá: caso dos mais curiosos de modelos que resistem ao tempo

Quem esperava que o Uno desaparecesse com a chegada do Palio, em 1996, certamente se surpreende com seu fôlego no mercado até hoje

Corsa Classic e Fiesta: exemplos de aumento de peso e dimensões no sucessor, que contribui para a permanência da versão antiga por anos

Quando a General Motors lançou uma nova geração do Corsa, em 2002, provavelmente tinha a intenção de substituir em pouco tempo a anterior, então produzida já havia oito anos. Isso ocorreu logo com a versão hatch, mas não com o sedã, que — renomeado Classic — permanece firme e forte no mercado até hoje.

O que se viu nesse caso é mais comum, aqui e no exterior, do que se possa imaginar. Se nos mercados desenvolvidos o normal é que sucessor e sucedido convivam quando muito por alguns meses, nos países de menor poder aquisitivo torna-se freqüente o fabricante manter à venda, por anos a fio, uma geração anterior ou o modelo que antecedeu ao atual.

É o que também acontece hoje no Brasil nas linhas Gol, com segunda e terceira geração em simultâneo (vale notar que não são quarta e quinta, como alguns acreditam); Focus, com as versões 1,6-litro do modelo antigo ao lado do novo com motor 2,0-litros; Bora e Jetta, sedãs mexicanos que correspondem à quarta e à quinta gerações do Golf, nesta ordem; e Citroën Xsara Picasso e C4 Picasso, a primeira nacional e a outra importada, e por isso bem diferentes em preço.

De certo modo isso vale ainda para Astra e Vectra, pois a versão brasileira deste último tem a carroceria do Astra alemão (tanto no hatch quanto no sedã), e para Mille e Palio — embora o veterano Fiat de 24 anos demonstre tal vitalidade que não surpreenderá se, em alguns anos, continuar em linha quando o Palio for substituído... Alguns podem pensar em Peugeot 206 e 207, mas aqui — ao contrário da Europa, onde o 207 é um novo carro — eles são o mesmo modelo, separados apenas por uma reestilização parcial. Idem para o Palio Fire e as demais versões.

Por que isso acontece? O fator mais freqüente é o de custos: o novo carro chega maior ou mais sofisticado, além de trazer o impacto dos investimentos no projeto (que devem ser amortizados pela venda inicial a valor mais alto) e o sabor de novidade, cujo apelo para o consumidor se reflete na definição de preço. Com isso, surge uma lacuna abaixo desse modelo, que pode ser ocupada por outra linha mais acessível ou... pela antiga geração, quase sempre simplificada no acabamento e disponível apenas com motores menos potentes.

Como o consumidor é tão mais sensível a preço quanto mais baixo o segmento de mercado, fica fácil entender como um carro mais antigo e não muito mais barato — caso do Mille em relação ao Palio Fire — se sustenta em produção por tanto tempo. Outro aspecto a se considerar é o de tamanho e peso. É tendência mundial, já há algumas décadas, que os carros cresçam — se não em comprimento, pelo menos em largura, altura e entreeixos — a cada geração. Para alguns compradores, não há necessidade de acompanhar essa majoração ao trocar de carro, o que torna atraente continuar com um modelo antigo.

Some-se ao aumento de tamanho a necessidade de atender a normas de resistência a impactos mais severas, e o resultado é um aumento de peso que chega a 200 kg em alguns casos. É evidente que esse carro não pode ter o mesmo motor do antecessor ou, se o tiver, não conseguirá os mesmos desempenho e economia. Mais uma explicação para o interesse pela geração “passada”. Continua

 

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Data de publicação: 25/11/08

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