Texto: Fabrício Samahá – Fotos: divulgação
Mais de 60 anos se passaram desde o início de atividades da Porsche como fabricante, em 1948, até o lançamento de seu primeiro automóvel (não utilitário) com quatro portas, o Panamera, em 2010. Nesse período, contudo, a empresa de Stuttgart concebeu alguns carros-conceito que previam a atenção aos passageiros do banco traseiro enfim realizada pelo Panamera.
A primeira ideia nesse caminho, ainda com apenas duas portas, foi revelada em 1984. Desenvolvido em exemplar único para presentear Ferdinand “Ferry” Porsche em seu 75°. aniversário, o modelo 942 (alguns o chamam de 928-4) era derivado do 928, o grande esportivo com motor V8 dianteiro que estava em produção desde 1977. A distância entre eixos foi alongada em importantes 25 cm, passando a 2,75 metros, e a linha de teto foi modificada a fim de oferecer mais espaço para cabeça aos passageiros de trás.
O 942 (acima), que usava o motor V8 de 5,0 litros com quatro válvulas por cilindro e 320 cv do 928 S4, trazia detalhes que o cupê de série ainda não possuía, como faróis com refletor elipsoidal e os novos para-choques que seriam adotados dois anos mais tarde no modelo de produção.
Aquele presente a Ferry foi o ponto de partida para um estudo de viabilidade de produção, denominado H50 (foto no alto) e concluído três anos depois, em 1987. Além das maiores dimensões que no 928 de linha, o carro — quase uma perua pelas formas da traseira — trazia pequenas portas adicionais com abertura para trás, sem maçanetas aparentes por fora, de certa forma como no Mazda RX-8 lançado mais de 20 anos mais tarde. As portas dianteiras, enormes no 928 original, foram encurtadas e um arranjo simulava a ligação entre o vidro da quinta porta e os laterais traseiros, o que não havia no 942.
Deixado no esquecimento por duas décadas, esse protótipo voltou a ser lembrado com o lançamento do Panamera, também um quatro-portas com motor V8 dianteiro. Hoje o H50 (fotos acima) pode ser visto no museu da empresa.
O 928 sempre foi encarado pelos puristas como um falso Porsche, por não seguir as tradições de motor traseiro de cilindros opostos e arrefecido a ar. Embora abrir mão do motor posterior fosse uma necessidade para um carro com mais espaço para passageiros e bagagem, a empresa decidiu trabalhar em outro projeto de quatro portas, com maior semelhança de linhas ao clássico 911: o 989 (abaixo).
Concluído em 1988 sob comando do projetista Ulrich Bez, o conceito usava uma plataforma com 2,83 m entre eixos e motor V8 dianteiro refrigerado a líquido, mas não o mesmo do 928 — era uma unidade inédita com ângulo de 80° entre as bancadas de cilindros e cilindrada não conhecida, que fontes afirmam estar entre 3,6 e 4,2 litros. A potência prevista, 300 cv, estava próxima à do 928 S4.
O desenho foi elaborado pelo holandês Harm Lagaay, que trabalhara para a Porsche entre 1971 e 1977 (quando criou o 924) e se tornaria chefe de Estilo da marca em 1989, tendo mais tarde projetado os modelos 968, 911 das séries 993 e 996, Boxster, Cayenne e Carrera GT. A influência de elementos do 989 pode ser vista em gerações posteriores do 911, como os faróis da série 993 e as lanternas traseiras da 996.
Por que o 989 nunca chegou às ruas? Há quem atribua a desistência à saída de Ulrich Bez da empresa, mas razões econômicas são as mais prováveis: de 1989 a 1991 a Porsche enfrentou um período conturbado, no qual o lançamento de um carro de quatro portas, ainda mais com características opostas às do 911, teria sido considerado arriscado demais. Embora a fábrica tenha informado de início que destruiu o único protótipo, publicações recentes afirmam que ele ainda existe.
Presente de Natal
Antes mesmo dos projetos oficiais, uma versão de quatro portas do 911 chegou às ruas por meio de transformação. William J. Dick, Jr., da Porsche Cars Southwest — concessionária da marca em San Antonio, no Texas, EUA —, insistia que a fábrica oferecesse um carro mais espaçoso para a família. Não sendo atendido, encomendou à empresa Troutman-Barnes, de Los Angeles, uma adaptação sobre o 911 S.
O carro foi bastante alongado (nada menos que 53 cm) entre eixos e recebeu mais duas portas, que se abriam para trás, enquanto as janelas laterais traseiras mantinham a forma do 911 cupê. Dois bancos individuais como os dianteiros foram aplicados para os passageiros e, atrás deles, vinha uma plataforma de bagagem revestida em madeira. O exemplar foi um presente de Dick a sua esposa no Natal de 1967.