Ford EcoSport: a evolução em desenho de um pioneiro

 

Sem temer a perda de sua identidade, o utilitário adota a
filosofia da marca e nasce no Brasil como produto mundial

Texto: Edilson Luiz Vicente – Fotos: divulgação

 

Se procurarmos por uma palavra que defina bem o novo Ford EcoSport, essa palavra pode ser evolução. Podemos claramente vê-la ao analisarmos o estilo do novo modelo em relação ao antigo, seja pelos resultados estéticos que a Ford vem alcançando a respeito de sua identidade de estilo, seja por mostrar que é possível ter uma filosofia de estilo madura e global, sem distinção em relação aos mercados emergentes.

Ao aplicar sua filosofia global de estilo ao novo EcoSport, a Ford não fica restrita a apenas alguns mercados ou regiões: ela divulgou que o venderá em mais de 100 países, o que pode se traduzir em um ganho muito maior. Afinal, é sabido que os custos para se fazer o estilo de um carro ser agradável ou não são quase os mesmos. Assim, a Ford pode estar dando uma bela tacada com essa estratégia.

Enquanto havia apenas fotos disponíveis do novo EcoSport — e sobretudo fotos feitas de uma posição baixa —, podia-se ter a impressão de que tanto o carro quanto a frente seriam altos demais e que as rodas aparentavam ser pequenas, mesmo com o aro de 16 pol das versões FreeStyle e Titanium. No entanto, ao vivo essas impressões se desvanecem e o primeiro impacto é bem positivo — e então notamos que tudo está em um bom equilíbrio.

Aliás, equilíbrio é outra palavra que pode ser usada para definir seu estilo, pois as boas proporções da carroceria e de todos os elementos que compõem o desenho, como faróis, lanternas, contornos dos vidros, molduras, estão em harmonia. Não há nada que seja grande ou pequeno demais ou mesmo que esteja fora de lugar.

 

 

Se o EcoSport anterior foi um grande sucesso, seria esperado que a Ford mantivesse uma identidade de estilo entre ele e seu sucessor. Aqui, o que se viu foi uma surpresa. Da primeira geração, a segunda herdou de forma inteligente somente o necessário para manter sua linhagem: a ideia de que o vidro traseiro forma um gráfico único, contornando a traseira com as janelas laterais; o estepe preso à tampa, que provoca controvérsias, mas foi indicado em pesquisas de público; e as dimensões compactas.

No mais, ele é tão diferente do anterior que, se a Ford tivesse resolvido mudar seu nome (como aconteceu em 1998 do Escort para o Focus), é provável que ninguém estranhasse. Inspirando modernidade, ao mesmo tempo em que recebeu um estilo mais sofisticado e com linhas mais fluidas, dinâmicas e refinadas, o “Eco” não perdeu a aparência robusta. Mesmo ganhando um visual mais jovial e esportivo, continua bem caracterizado como um utilitário esporte.

As superfícies têm mais complexidade de formas e refinamento do que na geração anterior e são bem executadas, o que resulta em maior qualidade de aparência e construção — um dos principais requisitos da linguagem de estilo global que a Ford divulgou na ocasião do lançamento. Aliás, esses requisitos foram seguidos à risca: o EcoSport está bem alinhado com os mais novos produtos da marca e o estilo foi pensado para evidenciar as intenções do produto e salientar seus atributos, resultando em um modelo que tende muito mais a agradar do que a produzir rejeição ou indiferença a seu estilo.

Quando o EcoSport não tinha concorrência no Brasil e era um produto restrito à América Latina e outros poucos mercados, já tinha suas qualidades estéticas. Sempre foi considerado mais “honesto” que os modelos “aventureiros” disponíveis, poucos centímetros elevados do solo em relação a suas versões originais e carregados de ornamentos plásticos, que revelavam nada mais que um esforço para simular a aparência de um utilitário esporte. Agora que existe um concorrente direto — o Renault Duster, já analisado aqui —, a Ford teve de ir além em termos de qualidade de aparência. E o resultado foi muito bom.

Vale notar que a Ford concebeu o modelo em um país emergente, o nosso, destinado a atender outros tantos mercados, em sua maioria também emergentes, sem desapontar os consumidores que prezam pelo estilo de um automóvel. Isso, não é todo dia que se vê.

 

 

  Foi uma surpresa ver duas capas diferentes para o espelho retrovisor, quando tem e quando não tem o repetidor de luzes de direção. Nesta versão, além de mais interessante, as duas cores e a própria luz ajudam a disfarçar o grande tamanho dessas peças, pois estamos na era dos espelhos enormes.

  A ideia dessa porção lateral do capô subir para a coluna dá bastante fluidez ao estilo e contribui para o visual dinâmico. Contudo, faz a região para onde está apontado ficar bem volumosa, e a base da coluna, um pouco espessa.

  Essas duas peças estão separadas visualmente na região apontada, o que foge um pouco do padrão mais integrado do restante das partes em preto. É compensado pela interessante falsa tomada de ar que as duas peças juntas formam.

  O novo contorno da grade dianteira que a Ford está usando lembra o da grade da Aston Martin, embora J. Mays, o vice-presidente de estilo da empresa, discorde dessa semelhança. De qualquer forma, tem ficado bom e é um dos itens mais importantes da identidade da marca.

 

 

  A traseira saliente em relação ao vidro é um recurso estético já usado em outros modelos da Ford. Foi válido terem usado no EcoSport também: combina bem com toda a proposta de estilo do carro.

  Os vincos e o chanfro na parte inferior estão conectados visualmente e, junto com a linha de contorno do rebaixo da placa de licença, formam uma espécie de moldura. Interessante.

  As linhas inferiores das janelas, tanto traseira quanto laterais, subindo nas proximidades de se encontrarem quebram qualquer monotonia e dão elegância e dinamismo ao visual. O uso do vinco evita transições estranhas das superfícies nessa área e, ao mesmo tempo, forma um músculo na linha de cintura como um item estético adicional interessante.

  A região inferior da lateral saliente e com os apliques em plástico contornando todo o carro faz parte de uma receita de estilo bem tradicional para utilitários esporte. Formou um interessante contraste com toda a modernidade do restante do modelo.

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  O vinco bem marcado na lateral é mais um componente da identidade de estilo. Traz uma característica musculosa para a linha de cintura e evidencia o visual dinâmico.

  O contorno das janelas forma um gráfico simples e com curvaturas suaves e bem feitas. As colunas em preto alongam o carro visualmente e deixam o conjunto mais elegante; dessa forma o belo desenho da coluna C fica em evidência.

  O que faz a maior diferença e mais inova na silhueta em relação à geração anterior é a coluna avançada e bem inclinada, mais moderna e que propicia uma aparência muito mais dinâmica.

  As molduras das caixas de rodas deixam os para-lamas musculosos. Os vincos estão na dose certa, deixando o visual da seção bem moderno e em harmonia com o estilo do carro.

 

 

  Os faróis de neblina circulares, uma solução simples e fácil, ficaram bem. Mas, como o visual do carro é tão moderno, teria sido interessante explorar alguma coisa parecida com o do Fiesta.

  Parte da atual identidade de estilo: nada de faróis enormes ou contornos complexos. Finos e alongados em direção às laterais, eles ficaram muito bem, assim como o fato de estarem conectados pela abertura que abriga o emblema do oval azul. Forma-se assim um contorno único, valorizado pela superfície que capta luz logo abaixo, delimitada pelo vinco. A iluminação por leds na função de luz de posição é o grande diferencial desses faróis.

  Essa parte que emoldura a abertura inferior pode ser em prata, o que dá um toque bem interessante ao desenho frontal. Em preto, como na foto, também não fica nada mal.

  Em meio aos dois vincos do capô surge, de maneira suave, esse músculo que sobe para a coluna. É uma solução diferenciada e interessante.

 

 

  Os vincos vêm das laterais e formam chanfros que emolduram as lanternas como mais uma interessante solução estética. Várias outras partes do carro têm esse mesmo recurso; assim, tudo faz sentido e vai combinando.

  Quando a dianteira tem a parte que emoldura a abertura inferior pintada na cor prata, nesse rebaixo da placa de licença é aplicada uma peça também na cor prata. Foi dada atenção a todos os detalhes.

  Esteticamente, a cereja do bolo na traseira foi a maçaneta para abertura da tampa ser embutida discretamente na lanterna direita. Foi bem feito e é interessante, mas fica uma sensação de que seria mais útil se toda a lanterna fizesse sua função, que é sinalizar.

  Os contornos das lanternas são simples, bem feitos e combinam bem com o estilo do carro. Contudo, pela relação de tamanho das partes da lanterna que possuem função com o tamanho da traseira, a conclusão é que elas são bem pequenas: mais um motivo para questionar se a maçaneta está em um lugar indevido.

 

 

  O EcoSport fez escola por aqui ao ser lançado com o estepe preso à tampa traseira, o que levou várias marcas a imitar a solução de forma improvisada em carros cuja porta se abre para cima — VW CrossFox, Fiat Idea Adventure, Citroën C3 Aircross. É um dos charmes que o modelo não poderia perder, apesar das controvérsias.

  Não dá para perceber por fotos, mas visto de perto incomoda um pouco: é possível enxergar um filete da cor do carro através do vão entre o vidro traseiro e a cobertura da coluna, o que quebra a ideia de continuidade para a área envidraçada. É um problema de acabamento fácil de ser resolvido.

  Boa ideia foi usar esse chanfro para emoldurar o conjunto de janelas traseiras, pois dá um bom acabamento e ajuda a evidenciar tanto a noção de continuidade entre os vidros quanto o defletor traseiro.

  Uma boa surpresa: rodas e pneus estão rentes aos para-lamas, e não enfiados para dentro como tem acontecido com frequência. Parece bobagem, mas contribui muito para um bom visual de qualquer carro.

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O autor

Edilson Luiz Vicente é designer com 22 anos de experiência na indústria automobilística, atuados em empresas de grande porte como Volkswagen, Ford e General Motors no Brasil, Isuzu no Japão e General Motors nos Estados Unidos. É um dos poucos de seu segmento com experiência também em projetos e engenharia. Também é professor no Istituto Europeo di Design em São Paulo. Mais informações.

 

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