Hyundai HB20: boa filosofia em nova aplicação

 

O compacto nacional da marca sul-coreana obtém bom
resultado ao trazer ao segmento sua linguagem de desenho

Texto: Edilson Luiz Vicente – Fotos: divulgação

 

Muitas vezes comentamos em nossas análises a importância que o estilo exerce para o sucesso de um modelo, mas por vezes é difícil explicar: se o desenho é um fator tão importante, por que existem carros que dividem opiniões — ou mesmo não caem no agrado de grande parcela de consumidores — e, no entanto, têm bom desempenho nas vendas?

Primeiro, o sucesso depende de vários fatores, como imagem da marca, qualidade, atendimento pós-venda, adequação do produto, preço — e o estilo é apenas mais um deles. Cada fator tem um peso diferente para cada fabricante e segmento. Assim, cada marca tem de saber se situar no mercado e corrigir os pontos falhos. Como exemplo, se detectar que sua imagem não está com a devida força ou a qualidade não está à altura do que o consumidor exige, há um trabalho a ser feito para melhorar os resultados.

É possível quantificar todos esses itens, exceto o estilo: por sua subjetividade, fica muito difícil transformar em números e assim saber com precisão o quanto ele está contribuindo nas vendas ou prejudicando o êxito do produto. Como as empresas só podem trabalhar com números, o sucesso do desenho do carro é sempre uma incógnita. Mesmo assim, no momento há dois modelos lançados recentemente no mesmo segmento, em condições semelhantes de vários dos fatores, que podem dar algum embasamento a essa discussão do quanto o estilo pode fazer diferença.

 

O HB20 não apresenta uma revolução de estilo: a impressão que passa é que a Hyundai foi meticulosa para não dar nenhum passo em falso ou correr riscos

 

São eles o Hyundai HB20 — nosso assunto da edição —, com seu estilo bem aceito por público e crítica, que já se encontra entre os 10 modelos mais vendidos do País, e o Toyota Etios, que ao contrário do HB20 tem no desenho um alvo de controvérsia e se encontra em posição bem mais discreta na tabela. Como não parece que essa situação vá mudar de imediato, é uma boa hora para estudos.

O HB20 não apresenta uma revolução de estilo, nem tampouco sua arquitetura tem alguma novidade perante a concorrência. A impressão que passa é que a Hyundai foi meticulosa para não dar nenhum passo em falso ou correr riscos. Dessa forma, aplicar sua atual e já bem aceita linguagem de estilo sem inventar surpresas foi uma solução óbvia, mas inteligente. Como acontece com a maioria de seus modelos, as proporções do novo compacto são boas, tanto na carroceria em si quanto na relação com as partes que a compõem, como o tamanho de janelas, faróis, lanternas, grade.

Tudo isso está em razoável equilíbrio — não há nada comprido ou curto demais, grande ou pequeno em excesso, ou mesmo fora de lugar. Apesar de já estarmos acostumados à atual linguagem de estilo da Hyundai em modelos como IX35, Sonata, Elantra e Azera, o HB20 ainda transmite a sensação de novidade e se destaca na categoria, mesmo quando comparado com outras boas opções de hatches compactos disponíveis no Brasil. É tudo o que uma fábrica quer para um produto recém-lançado.

A linha de cintura alta e inclinada está presente para conferir aquela sensação de movimento, item de estilo bem atual, assim como os faróis e lanternas estreitos e horizontais. Ainda sobre as lanternas, por questões de custos, em modelos mais acessíveis, normalmente as fábricas preferem fazer uma peça só — não em duas partes como é o caso do HB20.

 

 

O custo de duas partes é mais alto por conta do ferramental adicional, do comprimento a mais de fios, dos conectores, terminais, presilhas e coifa de borracha, além do peso extra na tampa traseira. Essa pode parecer uma economia ridícula, mas na prática faz com que muitas vezes o uso de lanternas em peça única seja uma imposição financeira e não uma opção de estilo. Se na faixa de preço do HB20 já é difícil de ver, em categorias abaixo, então, quase impossível.

Por fim, foi interessante ver como ficou a linguagem de estilo da Hyundai em um pequeno hatch. O estilo no geral é mais ousado do que a média dos concorrentes, mas a marca teve bom senso ao não abusar e inteligência para executar os detalhes componentes do estilo. Será que finalmente podemos dizer com segurança que o estilo faz uma boa diferença ou não?

Logo será lançada a versão sedã do HB20 e, como o hatch tem uma linha de cintura alta e ascendente, a traseira tenderá a ficar alta e volumosa como aconteceu com o Ford Fiesta sedã de última geração. A curiosidade está em saber como resolveram essa questão.

 

Gostaria de agradecer a todos que nos acompanharam em mais um ano e nos deixaram honrados por nos prestigiar. Quero desejar de coração aos leitores um muito feliz Natal e um Ano Novo cheio de saúde e realizações. Um grande abraço!

 

 

  Padrão do estilo atual da Hyundai, a frente é agradável e esportiva. Todos os elementos contribuem, mas o foco é o conjunto da grade central, que permite até aplicar uma pintura em preto para ficar mais esportivo ainda.

  Um vinco bem marcante contornando a dianteira não é muito usual, mas nesse caso não deixa de ser interessante. O retoque na foto pelo fabricante omitiu que a parte central do capô é rebaixada. De maneira inteligente a transição é suave, sem vincos adicionais para concorrer com o vinco principal de contorno, pois toda a frente já é bem cheia de detalhes.

  O chanfro formado no contorno e a superfície larga abaixo da moldura dos faróis de neblina deram um resultado muito bom, combinando com o toque esportivo.

  Em uma área pequena como essa não havia necessidade de duas superfícies, mas, como a transição entre elas é bem suave, não incomoda. Ajuda a evidenciar a grade dianteira, que como já comentamos é o foco do estilo.

 

 

  Não é por todos os ângulos que esse vinco fica bom, razão pela qual normalmente não é usado pelas fábricas. Visto assim, alargou demais a traseira e criou muito volume, deixando o visual pesado de forma desnecessária.

  Por legislação, o elemento refletivo tem uma altura-limite. Como a lanterna ficou bem alta, é provável que isso tenha exigido o elemento separado, mas parece que o pessoal de estilo se esqueceu de trabalhá-lo: tanto a forma como a posição poderiam ser melhores.

  Enquanto a frente foi toda bem elaborada, o para-choque traseiro não recebeu o mesmo tratamento: nada a ver esse corte com os cantos arredondados. A própria Hyundai já teve soluções melhores em outros modelos.

  Talvez não houvesse muitas opções de como terminar esse vinco por causa do vinco tão marcado da quina. Terminar desaparecendo assim foi o mais óbvio, mas não ficou muito interessante, nem combinando com o estilo do carro.

Próxima parte

 

 

  Esse vinco delimita uma superfície que recebe luz e assim acentua a linha de cintura, que é também chamada de linha de caráter da lateral. A foto retocada pela fábrica não representa o bom trabalho feito com os dois vincos: à medida em que o vinco acima (que vai até a lanterna) fica mais marcado, este vai ficando mais suave. Assim não polui o visual, pois um não concorre com o outro.

  Em regra, espelhos retrovisores passam despercebidos, mas alguns chamam atenção como esse, que ficou muito bom: tem até um toque esportivo e retrô.

  A famosa superfície “pegadora de luz”, presente em praticamente todos os carros, recebeu um tratamento interessante pelo contorno formado pelos vincos.

  Esse é o detalhe mais diferenciado da lateral, algo que não se vê em outros modelos. Ficou inteligentemente discreto.

 

 

  Não se veem muitos carros com as quinas tão marcadas justamente por isso: visto por alguns ângulos esse vinco parece interessante; por outros não. E não combina bem com o restante do carro.

  A janela traseira ficou interessante, bem estreita. Seu contorno serve como recurso de estilo e combina com a traseira. Esse tipo de contorno tem sido usado em muitos modelos atuais.

  O recurso de fazer uma pequena dobra na parte debaixo da tampa marcado por um vinco é sempre interessante. Nesse caso até parece não combinar muito bem com a traseira, mas se não estivesse aí ficaria um visual limpo demais, parecendo faltar alguma coisa.

  O vinco que acompanha a linha inferior do contorno da janela, contorna a traseira e vai para as laterais ficou elegante. Essa superfície formando uma sombra deixa a traseira ainda mais interessante.

 

 

  Favoreceu o estilo ser possível fazer partes separadas nesse local. Quando o para-choque tem de ser uma peça única, não se podem deixar áreas como essa sem pintura, por causa do custo adicional, e o resultado é uma perda na aparência. Note que o farol de neblina é bem comum: o charme fica por conta do contorno e da forma da moldura.

  O vinco se desfaz quando chega perto da moldura do farol de neblina: detalhe sutil, mas que ajuda a não poluir o visual.

  Molduras largas nas caixas de rodas e marcadas por vincos são um recurso estético bem atual e, em geral, bem-vindo, pois ajuda na estética geral, sem chamar a atenção pra isso.

 

 

 

  As janelas têm o perfil baixo e o contorno bem simples, que lembra até o contorno do primo Kia Picanto. Por mais que o pessoal do estilo tenha vontade de fazer algo diferenciado, às vezes a simplicidade é uma boa pedida, como nesse caso, pois o carro todo já tem detalhes diferenciados da concorrência o suficiente.

  Esse jeito dos asiáticos de fazer as molduras das janelas das portas talvez seja um pouco mais caro do que o modo ocidental, mas o resultado também é melhor — desde que esteja pintado em preto, como nesse caso. Em caso contrário, a aparência não fica boa.

  Faltaram fotos oficiais do HB20 visto de lado para poder mostrar melhor, mas se pode observar que a inclinação do vidro traseiro é muito boa, assim como a inclinação da coluna e da janela.

 

 

  Em termos tecnológicos, o modelo usa o que existe de mais comum em faróis; a boa aparência é por conta do contorno bem feito e dos detalhes internos.

  O coração da estética do farol é essa moldura, que faz toda a graça ao desenho, separando o refletor principal da luz de direção com curvas suaves e bem feitas. Chama a atenção para si de forma positiva, o que nos faz esquecer que o farol é bem comum. A moldura pode vir em prata ou preto, conforme a versão.

  Uma área morta no farol por conta de sua estética alongada: foi feito um pequeno e discreto trabalho, suficiente para não parecer liso demais ou que falte alguma coisa.

 

 

  Assim como acontece aos faróis, as lanternas são comuns, mas mesmo assim têm boa aparência.

  Essa parte debaixo ficou bem “bicuda” e chama a atenção para isso. Como a lanterna como um todo já tem mais dois “bicos”, não está o ideal.

  Como citado no texto, as duas partes das lanternas permitiram um tema horizontal e um contorno que tem tudo a ver com o carro: é o ponto mais alto do estilo da traseira.

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O autor

Edilson Luiz Vicente é designer com 22 anos de experiência na indústria automobilística, atuados em empresas de grande porte como Volkswagen, Ford e General Motors no Brasil, Isuzu no Japão e General Motors nos Estados Unidos. É um dos poucos de seu segmento com experiência também em projetos e engenharia. Também é professor no Istituto Europeo di Design em São Paulo. Mais informações.

 

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