Fiat Argo Trekking honra a boa tradição dos Adventures

Acerto de suspensão é destaque na versão “aventureira”, que vem com motor 1,35-litro ao menor preço da categoria

Texto: Kleber Nogueira – Fotos: divulgação

 

Por ser a marca que criou no Brasil o segmento de carros “aventureiros” há 20 anos, com a versão Adventure da Palio Weekend, até que a Fiat demorou a apresentar essa opção para o Argo. Ela aparece agora com o nome Trekking, já aplicado às picapes Fiorino e Strada e à própria Weekend, e baseada na versão Drive com motor de 1,35 litro, que produz potência de 101 cv com gasolina e 109 com álcool.

Disponível apenas com transmissão manual, o Argo Trekking tem preço sugerido de R$ 59 mil — aumento de R$ 2.400 sobre o Drive, justificado em parte por itens de série como central de áudio e faróis de neblina. Ele chega às concessionárias neste fim de abril. É a opção mais barata da categoria: o Caoa Chery Tiggo 2 (motor de 1,5 litro, 110 cv com gasolina e 115 com álcool) tem preço sugerido de R$ 60.490, o Chevrolet Onix Activ (1,4 litro, 98/106 cv) custa R$ 60.790, o Hyundai HB20X Style (1,6 litro, 122/128 cv) sai por R$ 62.290, o Renault Stepway (ex-Sandero, 1,6 litro, 115/118 cv) tem preço de R$ 64 mil, o Ford Ka Freestyle (1,5 litro, 128/136 cv) vai a R$ 64.090 e o JAC T40 (1,5 litro, 125/127 cv) sai por R$ 66.490, todos com caixa manual.

 

Suspensão e pneus (que são de uso misto) deixam o Trekking 40 mm mais alto do solo que os outros Argos; ele tem ainda teto e retrovisores em preto

 

Diante dos padrões das conhecidas versões Adventure, a Fiat aplicou poucas novidades ao desenho do Argo. Calotas e rodas de alumínio foram emprestadas pelo Cronos Drive e pelo Argo Precision, nesta ordem, e as molduras laterais vêm do Argo HGT. Novos mesmo, além da altura livre do solo (210 mm com vão mínimo de 187 mm — segundo a Fiat, maior que em Ka Freestyle, HB20X e Stepway), são os pneus Pirelli Scorpion ATR em medidas 205/60 R 15, as barras longitudinais no teto, uma profusão de adesivos e a pintura em preto para teto, retrovisores e defletor traseiro.

 

 

Tudo somado, o Trekking faz bonito pessoalmente. Se o objetivo era transmitir a sensação cosmética de robustez, o resultado foi alcançado. Por dentro, a tapeçaria privilegia os tons escuros nos bancos, de tecido áspero com costuras em laranja, que parece ser a cor da moda nos “aventureiros”. Trazem, também, o logotipo da versão bordado. Teto e revestimentos das portas são pretos e há detalhes cromados nos difusores de ar. De resto, tudo igual ao Drive. A central de áudio Uconnect, de série no Trekking, oferece tela de 7 polegadas e integração a celular por Android Auto e Apple Car Play. Ela, o desenho exterior e a economia de combustível são os maiores motivadores de compra do Argo, segundo a Fiat, em pesquisa com consumidores.

Na parte mecânica, nada muda no motor Firefly de 1,35 litro e duas válvulas por cilindro. Apenas a relação de diferencial foi encurtada em 4,7%, a fim de compensar o aumento de diâmetro dos pneus em 4% (de 185/60 R 15 para 205/60 R 15). As maiores intervenções foram no chassi: molas e amortecedores foram revistos, assim como a assistência de direção, e a altura de rodagem cresceu 40 mm (22 mm pela suspensão, 18 mm pelos pneus). A carga dos amortecedores supera a do Drive entre 5% e 20%, com a maior diferença em movimentos lentos, e os pratos de mola foram elevados para manter os ângulos corretos dos braços de controle.

 

Revestimento de bancos é novidade no interior, que vem de série com central de áudio de 7 pol e integração a celular; por enquanto, só caixa manual está disponível

 

Com pneus mais largos e aerodinâmica prejudicada pela maior altura, alguma perda em desempenho e consumo é inevitável. De fato, o Trekking tem velocidade máxima de 169 km/h com gasolina e 173 com álcool, de acordo com a fábrica, ante 180/184 km/h do Drive. A aceleração de 0 a 100 km/h pouco muda, de 11,8 para 11,6 segundos com gasolina, mantendo-se em 10,8 s com álcool. No ciclo urbano de consumo pelos padrões do Inmetro, a nova versão faz 12,1 km/l com gasolina (ante 12,9 da Drive) e 8,5 com álcool (contra 9,2). Há perdas também no ciclo rodoviário: 13,5 e 9,6 km/l no Trekking, 14,3 e 10,2 km/l no Drive.

 

Ao lado da boa disposição do motor, o Trekking mostra acerto muito bom entre conforto e estabilidade: passa por irregularidades com boa sensação de isolamento

 

No lançamento à imprensa em Mogi das Cruzes, SP, uma rápida avaliação confirmou as qualidades já conhecidas do Argo, como a boa disposição do motor e uma suspensão com acerto muito bom entre conforto e estabilidade. A calibração da versão pareceu correta para sua proposta. O rodar em asfalto ficou ligeiramente ruidoso, o que pode ser atribuído aos pneus de uso misto, mas o trabalho da suspensão é silencioso e passa-se por irregularidades em baixa velocidade com boa sensação de isolamento.

Os inconvenientes do modelo também permanecem, como o curso um tanto longo e impreciso da alavanca de transmissão e o acelerador difícil de dosar, abrupto, que sempre faz um soluço ao soltar a embreagem nas marchas baixas. Em rodovia o Trekking mostra-se justo, com uma direção bem responsiva e de peso bem notado em velocidade.

 

Respostas do motor Firefly agradam, apesar de ligeira perda com os pneus maiores; o acerto de suspensão mostrou-se bem adequado em pisos irregulares

 

Em um pequeno trecho de terra e pedriscos, plano e sem buracos, o “aventureiro” parece à vontade. Acelerando mais nessa situação, onde a pouca aderência prejudica a trajetória em pequenas curvas, fez falta o controle eletrônico de estabilidade, não oferecido nem como opcional — incompreensível, pois até a versão de 1,0 litro do Argo pode recebê-lo. Não havia trilhas mais íngremes ou com buracos.

 

 

O Firefly 1,35, conhecido por sua boa disposição e o apetite comedido, casou bem com a proposta da versão. De acordo com a Fiat, a motorização foi escolhida por sua importante fatia das vendas e por permitir um preço mais baixo que a opção de 1,75 litro. Para quem não se satisfaz com a caixa manual, estão sendo estudadas as opções da automatizada GSR ou da automática de seis marchas, associada ao motor maior. A Fiat não confirma, claro, mas se especula que em breve as versões 1,35 serão combinadas a uma transmissão automática de variação contínua (CVT).

A julgar pelo posicionamento de preço, nossa expectativa de sucesso é alta. A marca espera que ele responda por até 15% das vendas do Argo. Enfim, repetindo uma receita conhecida e no segmento por ela inventado, o Trekking tem bons atributos e traz certa dose de autenticidade, ao não se limitar ao visual “aventureiro” — mesmo que essa qualidade seja muito apreciada pelos consumidores desse nicho.

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Equipamentos e preço

Argo Trekking 1,3 manual (R$ 59 mil) – Ar-condicionado, banco do motorista e volante com ajuste de altura, cintos de três pontos para todos os ocupantes, controle elétrico de vidros, travas e retrovisores, direção assistida elétrica, faróis de neblina, fixação Isofix para cadeira infantil, monitor de pressão dos pneus, sistema de áudio Uconnect com tela de toque de 7 pol e integração a Android Auto e Apple Car Play.

• Opcionais: câmera traseira de manobras, rodas de alumínio de 15 pol.

• Garantia: três anos sem limite de quilometragem.

 

Ficha técnica

Motor
Posição transversal
Cilindros 4 em linha
Comando de válvulas no cabeçote
Válvulas por cilindro 2, variação de tempo
Diâmetro e curso 70 x 86,5 mm
Cilindrada 1.332 cm³
Taxa de compressão 13,2:1
Alimentação injeção multiponto sequencial
Potência máxima 101 cv a 6.000 rpm/ 109 cv a 6.250 rpm
Torque máximo 13,7/14,2 m.kgf a 3.500 rpm
Transmissão
Tipo de caixa e marchas manual, 5
Tração dianteira
Freios
Dianteiros a disco ventilado
Traseiros a tambor
Antitravamento (ABS) sim
Direção
Sistema pinhão e cremalheira
Assistência elétrica
Suspensão
Dianteira independente, McPherson, mola helicoidal
Traseira eixo de torção, mola helicoidal
Rodas
Dimensões 15 pol
Pneus 205/60 R 15 H
Dimensões
Comprimento 3,998 m
Largura 1,724 m
Altura 1,568 m
Entre-eixos 2,521 m
Capacidades e peso
Tanque de combustível 48 l
Compartimento de bagagem 300 l
Peso em ordem de marcha 1.130 kg
Desempenho e consumo
Velocidade máxima 169/173 km/h
Aceleração de 0 a 100 km/h 11,6/10,8 s
Consumo em cidade 12,1/8,5 km/l
Consumo em rodovia 13,5/9,6 km/l
Dados do fabricante; consumo conforme padrões do Inmetro

 

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