Salão de Detroit esquenta o frio com boas atrações

De Carro por Aí

 

Supercarros e modelos de luxo destacam-se na mostra, que
revela o momento de recuperação econômica dos Estados Unidos

 

O NAIAS, o Salão de Detroit, faz abertura oficial da temporada da apresentação de lançamentos de automóveis e picapes e nesta edição, rica exposição de novos produtos — entre 40 e 50 —, carros-conceito, avanços tecnológicos em termos de tração elétrica e híbrida e novidade tecnológica importante: durante a mostra, em 44 horas, a empresa Local Motors construiu um automóvel em impressora 3D!

É o ano do sorriso. Os EUA recuperam-se da queda econômica de 2009, gasolina baixou de preço, desemprego mingua, vendas se expandem em continuidade, e o Salão mostra isto: está colorido, decorado, sóbrio, contido, sem a economia de indigente dos últimos cinco anos. E há característica curiosa: meia dúzia das atrações está pintada em azul forte metálico — tipo cor nacional da bonança.

O atentado ao Charlie Hebdo na França mexeu nas gavetas estadunidenses, e pegaram a ficha das providências tomadas pós-11 de setembro: a entrada exigia alguns filtros, e dentro policiais do departamento antibombas, sutis como um trem a pleno vapor, inspecionando, bem acompanhados por cães farejadores.

No tema principal, Ford criou nova divisão, a Performance, para veículos esportivos, estrelando o GT (foto), performático, previsto para 2016, e adicionais modelos até 2020.

Fora do Cobo Hall, onde no térreo e porão são feitas as exposições, a cidade está no clima. Frio — segunda à noite 16 graus negativos —, mas durante o dia temperatura varia e atinge, até, simpático zero grau. Sem chuva ou neve é até agradável, e parece integrar o pacote em torno da mostra mais positiva desde a crise, incluindo o escape da cidade à decretação de autofalência.

A reação do mercado alterou sua face negativa e relembra seu slogan: a capital do automóvel. Tudo conspira para mostrar os Estados Unidos e sua indústria de automóveis em outros e rentáveis tempos. Em 2014 venderam-se 16,5 milhões — maior volume desde 2006 — e neste exercício imagina-se crescimento de 3%, chegando a 17 milhões.

O NAIAS é iniciativa dos revendedores de automóveis do entorno e Detroit, faz parte do calendário internacional e é edição anual. Neste, abre ao público de 17 a 22 de janeiro. Antes, dois dias para a imprensa — uns 5.000 jornalistas —, visitas comerciais e um dia de caridade, quando visitantes pagam em torno de US$ 500 para ver a mostra com calma e pouca gente. A importância é doada a entidades. Espera-se, nesta edição, vencer o topo de frequência: 800 mil visitantes registrados em 2004.

 

 

Real

A decisão da Ford em criar empresa paralela para fazer o GT, inequívoco esportivo, motor V6 turbo entre eixos, linhas lembrando audácias estilísticas dos anos 70, sintetiza o mercado de automóveis hoje: é o tempo do supercarro, de esportivos, sedãs performáticos. Em resumo, os fazedores de lucros. Outro aspecto é a confiança do consumidor, inflando vendas e tocando o conjunto de engrenagens capitalistas.

Das novidades, meia dúzia de sete ou oito aparecerão no Brasil — especialmente as europeias. Chrysler, Ford e General Motors, nos albores da indústria automobilística no Brasil, fizeram perder a ligação com a cultura norte-americana de automóveis — e perderam o bonde das vendas.

 

Na prática

Alfa Romeo – Terá novo caminho de vendas a partir de julho, apresentando seu novo produto de médio porte e, a seguir, família cercando boa parte dos segmentos. Insiste em sua novidade maior, o Alfa 4C, agora em versão Spider. Apenas 400 unidades no ano, número garroteado pela capacidade do fornecedor da plataforma, monocoque mesclando fibra ultraleve de carbono e estrutura de alumínio. Mantém o motor de 1,75 litro com turbo e 232 cv. Alfa esmerou-se em desenvolver o ronco do automóvel, com silenciosos Akrapovic. Baixo peso permite 0 a 100 km/h em 4,2 segundos. Difícil aparecer no Brasil importado oficialmente.

Audi – O utilitário esporte Q7, maior na marca, ainda vende bem, mas a Audi exibiu o substituto, com mudanças estéticas e forte presença de informação com diversão e conectividade. Virá ao país.

BMW – Novidades no Série 6. Virá.

Bentley – O novo Mulsanne Speed, com motor V8 de poderosos 6.750 cm³ e dois turbos, capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em 4,8 s! Nos EUA, onde os impostos somam 6%, a US$ 335.600. Aqui? Uns R$ 2 milhões e picos.

Buick – Da GM é pouco lembrada no Brasil, e faz o nunca imaginado: apresenta ao mercado de origem seu crossover Envision, já lançado na China! Há também o conceito Avenir (foto) e o conversível Cascada.

Cadillac – Marca topo da GM incrementou seu automóvel de maior prestígio, o CTS-V, com motor V8 de 6,2 litros e compressor, emprestado ao Corvette, 640 cv, em pacote incluindo freios Brembo. Sem chances de vir.

Chevrolet – Marca de entrada apresentou novo Volt. Cara de automóvel normal, híbrido com motor 1,5 como gerador de energia. Desvia os problemas da autonomia limitada dizendo-o elétrico com autonomia estendida.

Ford – Atrações são pela esportividade — e preços altos do substituto do GT; dos Mustangs Shelby GT 350 e 350R, este um carro de corridas para andar nas ruas; e do picape Raptor. Mantém a política de substituir motores V8 aspirados por V6 turbo. No GT, central, o V6 de 3,5 litros com duplo turbo e dupla injeção produz 600 cv. Elevada potência específica permitiu gracinha no NAIAS: diziam-no, em vez de EcoBoost, EcoBeast!

O GT será produzido ao final de 2016 para marcar os 50 anos da acachapante vitória dos Ford GT40 sobre os Ferraris na 24 Horas de Le Mans. Motor central, plataforma em fibra de carbono, suspensão em alumínio. A divisão Performance planeja projetos até 2020. A Ford acha o segmento atrativo e rentável.

Hyundai – Exibiu o Sonata híbrido, sem passaporte para o Brasil, e conceito chamado Santa Cruz (foto) para abrir caminho: cruza de automóvel com picape, cinco lugares, cara de briga, elevado do solo, rodas largas, charmosas porcas centrais em cubo rápido. Pequena capacidade de carga, mas a caçamba se amplia. A ideia é o conceito de Macho Man urbano.

Mercedes-Benz – Debutou o GLE Coupe, concorrente do BMW X6 e, mais impactante, topo na marca, o Mercedes-Maybach 600. Maybach era a mais prestigiosa das alemãs, assumida pela Daimler, lançando modelos concorrendo com Rolls e Bentley. Não deu certo, e a Mercedes lançou mão da prata da casa e desenvolveu o novo produto a partir da versão alongada do Classe S, feita à mão, e conceitos como o motor V12 biturbo de 523 cv, o arranjo interno, o isolamento termo acústico, tendo-o como o mais silencioso carro do mundo, e mimos como o banco traseiro direito permitindo reclinar, empurrando o da frente até o painel. É Classe S crescido 21 cm entre bancos.

Mini – Usou icônico nome John Cooper Works. John Cooper, preparador, colocou o Mini nos ralis e corridas, conseguindo ótimos resultados. A aura indica motor 2,0 litros, turbo, 228 cv. É o mais potente Mini da história. Virá ao Brasil.

Nissan – Pouco modesta, a Nissan exibiu o picape Titan, rotulando-se como criadora de novo segmento. Motores V6 e V8 Cummins diesel, para trabalho.

Toyota – As japonesas nos EUA miram no picape líder Ford F-150 e tentam copiar com charme. A Toyota fez com a nova versão do Tacoma. Outro sem visto para o Brasil.

Volkswagen – Dá passos cuidadosos para impor-se no mercado norte-americano, grande, mas com participação pequena. Uma das alavancas para isto é o Cross Coupé GTE. O protótipo é elétrico, mas com todas as ferramentas ao uso de motores endotérmicos. É evolução do Cross Blue Coupé do NAIAS 2013 e na prática veja-o como o sucessor do Tiguan sobre a nova plataforma MQB, a mesma do Golf. Usa motor VR6 e outros dois elétricos. Quando em produção nos EUA, ao fim de 2016, terá sete lugares.

Tecnologia – Com certeza a mais revolucionária presença no Salão de Detroit está no pequeno estande da Local Motors. É o Strati (foto), automóvel projetado para ser construído em impressora 3D. A primeira fase, impressão, leva 212 camadas de plástico ABS reforçado com fibra de carbono. A intermediária apara e refina os detalhes da impressão completa, e o passo final é a montagem da arquitetura mecânica, equipamento elétrico e pneus.

Não é apenas novo automóvel — pode ser a democratização de sua produção ou o surgimento de mini-indústrias. É desenvolvido em processo simples para ser construído de maneira simplória. Local Motors indica o mesmo conceito pregado pelo Dr. Gurgel com o Cena: disseminar pequenas montadoras pelo país.

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A coluna expressa as opiniões do colunista e não as do Best Cars

 

 

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