Tiro n’água: Fiat não comprou fábrica do jipe Stark

De Carro por Aí - Nasser

 

A busca por informações sobre a possível aquisição da TAC, fabricante do jipe Stark, pelo gigante italiano

 

Notícia chegou por revendedor de outras marcas: a Fiat estaria comprando a TAC — Técnica Automotiva Catarinense —, pequeno fabricante do bem formulado jipe Stark. Havia coerência: complementaria o leque de produtos da empresa, atendendo a pedidos da rede de concessionários, com inveja do Renegade e seu sucesso, da Jeep, marca irmã.

Adicional e favoravelmente à possibilidade, a FPT, uma das empresas sob a frondosa árvore da FCA NV, nova sociedade formada por Fiat SpA e Chrysler Automobiles LLC, fornecia o motor. E mais, para implementar o negócio, investimento não seria expressivo, mas coisa de pequena monta e bons resultados. A TAC, empresa pequena, criada em Santa Catarina com inversões oficiais e de empresários, lá não dera certo, transferindo-se para Sobral, no Ceará, com a mesma fórmula de auxílio de erários: Prefeitura e Estado.

Especificamente a primeira por cessão de galpão provisório e área, facilidades como instalações, arruamento, isenção de IPTU. Em âmbito do governo estadual, subscrição por aporte de capital vivo adquirindo quase 15% da empresa, vantagens de ICMS. Se estava em dificuldades, como sempre esteve, seria negócio com pouco desembolso, barato.

Na conta de possibilidades para motivar ir atrás do assunto, argumento contrário, a diferença do processo de manufatura — fazer carros em plástico reforçado com fibra de vidro é inteiramente diverso do fazê-los com uso de chapa estampada. É uma outra operação e, no caso, a solução é operar em área isolada para não misturar pessoas e processos. Como no caso.

Havia coerência, embora eu me perguntasse se Cledorvino Belini, presidente da FCA para a América Latina, membro do conselho mundial, e iniciando desacelerar para merecida aposentadoria, agregaria um pequeno negócio, necessitando equações financeiras, operacionais, revisão de todos os sistemas para entrar no grande controle operacional, administrativo e financeiro Fiat/Chrysler, e ter como resultado final pequena produção e lucros percentualmente bons, embora numericamente reduzidos.

 

Caminho
Entendi poder haver possibilidade. Jornalistas e colecionadores de automóveis têm pontos em comum, além da credulidade passiva: vão atrás de estórias para materializá-las em histórias. Fui e iniciei a peregrinação.

No Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, informaram nada haver de oficial. Parecia razoável, pois a TAC não contava com incentivos federais, apenas estaduais e municipais. Segundo passo, liguei para o Ceará, para jornalista especializado. Talvez pelo entusiasmo estadual bombando pelo crescimento da Troller, informava nada saber, exceto da operação em Sobral e da implantação dos galpões definitivos. Achei interessante e fui conferir o noticiário, entretanto nada atualizado: apenas tratava da transferência da marca para o Ceará e os bons resultados a trazer para o estado. Mau sinal.

Fui às fontes do varejo. Concessionário Fiat bem articulado disse-me, ouvira dizer, e ficara satisfeito. Afinal, se a Jeep — um dos braços, como a Fiat, da frondosa árvore da FCA — lançara o Renegade, agregar o Stark dentre os produtos disponíveis para venda pela rede Fiat seria um bom ganho. No outro lado, contatei revendedor Troller. Reação construtiva, encontrei-o preocupado. Afinal, o novo produto da pequena marca absorvida pela Ford multiplicou as vendas, em especial porque em termos de habilidades fora de estrada o Troller em muito supera o Renegade.

Ponderou: com rede de revendedores forte, maior, aguerrida como a da Fiat, um Stark Fiat seria concorrente muito incômodo num momento delicado. Como parâmetro o Troller com o modelo atual é exceção no mercado, vendendo bem mais durante a atual crise relativamente ao modelo e ao período econômico anterior.

Notícia prometia. Mantive o caminho, pois queria o furo jornalístico, fazer uma dobradinha. Afinal, foi desta Coluna o trabalho de levantamento de informações, as negativas e até, ante incontestável, a antecipação sobre a aquisição da Troller pela Ford, costurada com sutileza e arrematada durante as festas de final de ano. Procurei o revendedor TAC em Brasília, o Jucimar da Local Sales. Não era mais. “Este povo é muito atrapalhado”, disse.

Fui atrás do polo passivo da ação. Os telefones em Santa Catarina constantes em minha agenda não atendiam; o executivo maior já não o era; e chamei outra fonte local. Disse-me ter a TAC saído do condomínio empresarial onde operava, deixando para trás alugueres não pagos. Mudara-se para Sobral, cidade interessada em industrializar-se. Localizei o órgão municipal encarregado da atividade, a Secretaria de Tecnologia e Desenvolvimento. A atendente escafedeu-se em responder, assumiu-se como último degrau, colocou a trava na porta. Procedimento sugeria 50% de chances para o negócio ser verdadeiro — normalmente nestes assuntos há cláusula de sigilo, e tal procedimento aí se enquadraria.

Consultei o Arthur Mendes, assessor de imprensa da Fiat. Era domingo e assunto novo. Respondeu na segunda-feira: nada havia de apurável. No périplo busquei a FPT, empresa da mesma FCA e fornecedora do motor. Diferentemente da empresa maior, a assessora de imprensa não tinha tempo, não explicou e não retornou. Manteve-se a dúvida: não sabia ou nada havia?

Procurei ex-ocupante da cadeira, que agiu, e logo assessoria externa da assessora se manifestou. Questionada sobre o volume de motores fornecidos à TAC, voltou com informação: 200. E dado adicional: todos pagos. Entretanto, quanto ao período, nada. O caminho se afunilava e sobrou o óbvio, o comprador. Mandei mensagem por telefone ao capo de tutti capi, o mandão geral na empresa. Cledorvino Belini respondeu rápida e objetivamente: “Desconheço”.

Lições
Lamentável. A TAC sobreviveria se adquirida por empresa maior; haveria mais um produto de lazer e 4×4 no mercado; e no Ceará mais empregos e uma segunda indústria automobilística — a Troller é a primeira a dar certo. Antes a Gurgel tentara, acreditara na adesão do estado, comprou uma fábrica de transmissões, levou para lá, o apoio não veio, inviabilizou-se. De tudo, gerou esta notícia, captou um dado a servir de informação histórica neste país sem história: à falta de outros, aflorou um dado que ficará sobre a produção do Stark — menos de 200 unidades.

No escaninho das curiosidades sobre eficiência em estrutura empresarial, o nº 1 da holding responde na hora. Já a tal assessora delongou e até hoje aguardo-a para saber qual o período de fornecimento dos motores FPT ao Stark. Jornalistas e colecionadores de automóveis perseguem histórias, sejam por notícias, sejam por veículos antigos e, infelizmente, os resultados positivos são inferiores ao êxito. Mas para ambos vale o resultado paralelo: fazer novos conhecimentos, marcar espaço no assunto, conseguir novas fontes de informação.

Sem comprador a TAC fechou.

 

 

Ecosport contra-ataca

Ford tem pronta e iniciando produzir para formar estoques, iniciando vender em outubro, nova série do seu festejado Ecosport. Marca uma nova etapa na vida do produto, e a diferença está no grupo motopropulsor, o conjunto motor e câmbio, agora tecnologicamente alinhado com o do Fiesta.

Com variação do tempo de abertura das válvulas, a unidade de 1,6 litro passa a obter potência de 125/130 cv e torque de 15,4/16 m.kgf (sempre na ordem gasolina/álcool), e torna-se disponível com o câmbio Powershift de dupla embreagem e seis marchas, até então restrito à versão de 2,0 litros.

Após disputar liderança no segmento com o Renault Duster e ambos perderem-na para Honda HR-V e Jeep Renegade, a mudança já estava no programa há tempos. A empresa já tem em testes o próximo Eco, marcado por mudanças estéticas. Coisa pronta. Tanto que João Marcos Ramos, ex-líder de estilo da Ford Brasil, responsável pela equipe geradora dos recentes Eco, Ka, caminhões, foi transferido para ser chefe em acabamentos internos na matriz Ford nos EUA. O apelo com o novo casamento é oferecer o Ecosport com câmbio Powershift ao preço dos concorrentes com caixa manual.

 

Picape tripartite chega rápido

A iniciativa de Renault, Nissan e Mercedes-Benz em ter picape a partir de base comum, apenas com mudanças caracterizadoras em suas marcas, anda mais rápido que o sugerido na difícil confirmação da notícia e ao anúncio do chassi básico Nissan, exibido em junho no Salão de Buenos Aires. Renault e Nissan terão seus modelos no Salão de Frankfurt, setembro. Mercedes, não.

Única detentora de tecnologia na área, produzindo a Frontier, a Nissan sedimenta mais conhecimento relativamente aos associados e, com tal expertise e para ganho de produtividade, fornecerá o chassi rolante — motor, câmbio, suspensão, direção, eixos. Motor será novidade, com cilindrada reduzida dos atuais 2,5 litros para 2,3 litros, já enquadrado na nova norma de emissões Euro 6, e potência de 160 cv com um turbo e 190 cv com dois. Torque, medida mandatória para estes veículos, não informado, mas dado importante — o consumo, dito como 24% menor ante a versão atualmente vendida no Brasil.

No caso da Nissan (foto), conteúdo com cuidados de confortos eletrônicos, luzes em leds. Renault fará pré-apresentação mundial uma semana antes da mostra europeia, porém Mercedes mantém cautela. Não mostrará sua versão. A união sul-americana funcionará, como a Coluna explicou ao antecipar mundialmente a notícia, produzindo as picapes na fábrica Renault em Córdoba, Argentina. Dali sairão, em 2017, os modelos Renault e Nissan. Parte Mercedes sem informação, exceto início de vendas, em 2018.

 

Roda a Roda

Versão – V8 a diesel, agora opção do Range Rover Sport. Fornecido pela Ford, o V8 de 4,4 litros entrega 339 cv e torque de caminhão: 75,5 m.kgf. Engatado numa caixa automática com oito marchas, faz de 0 a 100 km/h em 6,9 segundos e tem corte de injeção de combustível a 225 km/h.

Mudança – É o mais ágil e disposto Range, integrando a nova geração, produto de coragem dos engenheiros ingleses, e generosidade administrativa da indiana Tata, controladora da marca, permitindo-lhes manter a britanicidade dos projetos sem interferir. O Sport tem enorme conteúdo em alumínio.

Enfim – Após adiar por quatro meses o surgir dos novos Sorento (foto) e Carnival, Kia marcou data para dar-lhes publicidade e iniciar vendas: final de setembro. Carros totalmente novos, preços idem, imaginados em R$ 180 mil — hoje em torno de R$ 150 mil.

Ocasião – Tens R$ 97 mil para comprar utilitário bem decorado e quase exclusivo? A Mitsubishi fará 300 unidades de seu ASX chamando-as O’Neill, californiana referência em tecnologia e estilo de vida. Tração dianteira, motor 2,0 de 160 cv, câmbio CVT e detalhes de personalização.

Marco – Toyota festeja venda de 8 milhões de veículos híbridos. Dado importante, último milhão tomou apenas 10 meses. Prius vendeu 65%.

Aqui – Sem legislação de incentivo para a preferência, por conteúdo e pequena produção, elétricos e híbridos no Brasil são muito caros, adquiridos apenas por empresas pretendendo fazer ações de simpatia ecológica.

Incentivo – Prefeito de São Paulo reduziu à metade IPVA dos elétricos. No Brasil há três mil veículos elétricos. Reduzir o imposto ajuda a baixar o custo final de uso.

Cenário – Cândida, a Presidente Dilma, depois de dizer não ter imaginado o tamanho da crise, para mostrar serviço após gastar irregularmente R$ 20 bilhões, quer reduzir 10 dos 38 ministérios. Se vendeu a imagem como administradora, perdeu-a. Não tem conhecimento, equipe ou pulso de gestão para sanear um negócio viciado, à base da troca ou compra explícita de apoios e votos.

Assessoria – Se é para mudar, cortar e resolver, peça conselhos graciosos ao Carlos Ghosn, brasileiro, cortador de empregos e fazedor de lucros na Nissan; ou Eduardo Souza Ramos e Paulo Ferraz, que de transformadora de picapes cabines-duplas, inviabilizada pelas importações, fizeram a Mitsubishi no Brasil; ou a Luiza Trajano, das lojas com seu nome. Só diz desaforo a dinheiro quem não sabe ganhá-lo.

Situação – Consumidores argentinos, ante diferença de 60% entre dólar oficial e o paralelo — lá dito Blue —, investem em automóveis. Moral dos números, demanda elevada, faltam carros, revendedores praticam ágio. Insegurança ante a crise brasileira — maior cliente dos veículos argentinos — e previsão de desvalorização com as medidas duras a ser adotadas pelo possível sucessor ao Kirshnerismo, encerrando um ciclo na Argentina ainda este ano. Carro OKm virou salvo conduto para a crise.

Registro – Apresentação do Up TSI à rede de revendedores, VW usou frase do texto da Coluna sobre o novo automóvel: “Anda como 1.8, gasta como 0.9”.

Mercado – Para concorrer no Chile com pequenos ônibus Kia e outros coreanos, gaúcha Marcopolo desenvolveu novo modelo Ideale Class, com 10 m de comprimento e capacidade para 39 passageiros. Mecânica Volkswagen.

Mais – Novas versões em motos BMW. Sport na topo de linha R 1200 GS, a R$ 60.900, e Ride para a F 800 R, a R$ 33.900. Ambas montadas em Manaus.

Polêmica – Problemas com pneus Pirelli no GP de Fórmula 1 em Spa-Francorchamps, Bélgica, prenunciam mudanças na categoria. A fornecedora reconhece a limitação da resistência e sugeriu, há dois anos, estabelecimento de limite máximo de voltas de acordo com o composto utilizado.

Futuro – Mais uma, em muitas coisas, errada na regulamentação da Fórmula 1, a cada regra limitando mais a esportividade na categoria. E inusitada postura da Pirelli, única fornecedora, expor a público o limite de sua competência tecnológica. Se estacionado o desenvolvimento, há que se refazer as regras.

Institucional – Marca criada para mostrar planos de salvação, um enclave dentro da Citroën, a DS oficializou equipe de automobilismo: agregará expertise à Equipe Virgin Racing na Fórmula E, de carros elétricos. Desenvolveu motor, câmbio, refrigeração, suspensão traseira e, com a Magneti Marelli, a gestão do motor elétrico.

Gente – Marcio Alfonso, engenheiro mecânico, aposentado, ex-diretor de engenharia da Ford, recomeço. Mesmo cargo no grupo CAOA, montadora de alguns produtos Hyundai em Anápolis, e importação de Subaru. Situação já ocorrida com Luc De Ferran, de idêntica qualificação e caminho, mas a matriz Ford cobrou-o aquietar-se e voltar à base.

 

Jeep reescreve sua história

Poucas marcas de veículos têm produto tão icônico quanto a Jeep — aliás, tão marcante que o produto assumiu a marca. E quando se pensava, ao tempo da tomada de controle do Chrysler Group LLC pela Fiat SpA, ser apenas um apêndice na Chrysler, com vendas segmentadas, sustentada por poucos modelos, os novos controladores ali viram uma poderosa alavanca para crescimento.

Sergio Marchionne, o CEO, definiu investimentos para revitalizar os produtos da linha e criar novos, como o Renegade, já em venda. E avisou ano passado, a partir do lançamento do novo Renegade, produzido na Itália, China e Brasil, que pretendia vender 1 milhão de unidades da marca em 2014. Mike Manley, número 1 na Jeep, projetou em 800 mil unidades, mas o ano fechou indicando 1.020.000 produtos.

O volume, com crescimento acima dos percentuais verificados nos mercados onde atua, ainda mostra 65% de vendas na segunda maior praça do mundo, os EUA. E na China, maior, pretende-se mais. As expectativas da FCA são de 1.730.000 unidades em 2018, crescimento consistente de 15% ao ano. Além das mudanças nos produtos, ampliou de três — Grand Cherokee, Cherokee e o jipe Wrangler — para seis com Renegade, Jeepster e Wagoneer. O Renegade tem sido importante ferramenta, por seu conjunto mecânico a oferecer maiores habilidades ante concorrentes europeus e norte-americanos do mesmo porte.

Neste ano as vendas Jeep representaram, até julho, 190% de crescimento no primeiro semestre relativamente a igual período em 2014, e analistas de mercado veem-na como a marca de melhor posicionamento no próximo triênio ou quinquênio.

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A coluna expressa as opiniões do colunista e não as do Best Cars

 

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