Bonita, cumpre o desiderato do projeto: ser um automóvel em deslocamento e, demandada, responder com valentia
Fiat apresentou a decantada Toro, sua picape quase média, cabine dupla, variadas versões: motores 1,8 flexível e 2,0 diesel; transmissões automáticas de seis e nove marchas, manual de seis. Misturou suspensão e trato de automóvel com caçamba grande, colheu picape confortável. Carga varia por versão, entre 650 kg e 1.000 kg, caçamba com insólitas portas duplas, ampliada por bandas articuladas formando plataforma resistente a 150 kg de carga. Parece cuidado à missão traçada pela FCA: ser líder como sua picape pequena Strada e vender nada fáceis 4.000 unidades/mês. Ante números de 2015, é para superar a líder Chevrolet S10, circa 2.800 mensais.
Como é
Um é o conhecido E-Torq Evo com coletor de admissão variável, arranjo que melhora a operação, com 80% de torque a 2.000 rpm. Diesel, de produção própria, 170 cv. Na versão Freedom ele vem com caixa manual — carro de trabalho —, e na de topo, a Volcano, com transmissão automática, automóvel de agroboy. Não tem caixa redutora, mas bloqueio eletrônico na primeira das 9 marchas da transmissão.
Dentro, cinco lugares verdadeiros. Painel com partes do Renegade, confortos elétricos, eletrônicos, plásticos com junções corretas e contato amigável. Em comprimento medeia entre a Renault Oroch, por alguns vista como concorrente, e as picapes antes médias e agora grandes — S10, Toyota Hilux, Ford Ranger, Mitsubishi L200, Nissan Frontier.
Caminho
Projeto brasileiro, postura corajosa. Feita na fábrica de Goiana, PE, mais moderna do grupo FCA no mundo, divide plataforma criada por Claudio Demaria, engenheiro chefe no Brasil, dita Small Wide com o pioneiro Renegade e o futuro Compass — leia notícia própria. Tração dianteira — na diesel há opção de tração total. É nacional com veleidades de comércio exterior, buscando atingir Mercosul, América Latina e México.
No caminho do projeto, como a Coluna então noticiou, para melhorar a tração frontal, o eixo traseiro foi deslocado para trás, sendo pioneira picape a entrar na atual moda automobilística mundial de rodas nas extremidades. Tal solução dinâmica trouxe resultados de conforto. Com ampla distância entre eixos de 2,99 m, os espaços internos geram conforto incomparável ante outras picapes de cabine dupla. Diz a FCA, não há diferença de comportamento entre caçamba vazia e carga total. Peter Fassbender, designer mor da empresa no Brasil, conseguiu harmonia estilística no projeto, com linhas penetrantes e assinatura luminosa atrevidas para uma picape.
Dentro
Todas as Toros são bem compostas, incluindo direção elétrica, rádio com Bluetooth, computador de bordo, ar-condicionado, sensor de estacionamento. Em segurança, apoios de cabeça e cintos de segurança de três pontos a todos os passageiros, engates Isofix para cadeiras de crianças, controles de tração e estabilidade, auxiliar de partida em rampa.
Fora
A caçamba, incorporada à cabine em construção monobloco, absorve 820 litros. Com as portas traseiras abertas e as bandas baixadas, a capacidade aumenta 405 litros. Sistema prático, permite manusear a carga sem dobrar-se para vencer a tradicional tampa. Tem 20,5 cm livres do solo. Não endosso capacidades tipo consumo, velocidade máxima, habilidades da tração total. Curiosamente o teste de lançamento foi contido, corrido, sem ocasião para sentir a diferença de comportamento com ou sem carga ou a tração 4×4.
Produto novo, criou núcleo especializado em cada revenda, tabelou revisões — a 10 mil km para motores Otto e a 20 mil km no Diesel — e pode incluir seu custo na tabela de financiamento. Entusiasmado, Norberto Klein, diretor da Mopar (leia Môpar), área de peças e acessórios, montou operação na fábrica para atender à colocação de acessórios demandados à hora do cliente conformar o carro de acordo com seu gosto.
Innova, o Toyota com sete lugares
Parece, recente lançamento do Mercedes-Benz Vito, ocupando espaço livre no mercado sul-americano, cutucou a empresa, apesar de estar no limite da capacidade industrial e em mudanças internas para aumentá-la. Fácil construí-lo, pois baseado em chassis e mecânica da picape Hilux e do utilitário SW4 construídos pela Toyota em Zárate, beiradas de Buenos Aires. Para o Brasil, cliente maior da operação argentina, motor diesel substituído pelo 2,7-litros flexível, antiga opção da Hilux, atualmente não disponível. Luiz Carlos Andrade Jr, VP da Toyota do Brasil, contraria a declaração de seu colega argentino e diz não ter planos concretos.
Furo: Compass, o nome do Projeto 551
Compass será o nome do Jeep ora chamado Projeto 551. Está em final desenvolvimento e testes. Será o terceiro produto da fábrica da FCA em Goiana, PE, ao lado do pioneiro Jeep Renegade e da picape Fiat Toro em início de produção, trinca sobre a plataforma básica batizada de Small Wide.
O Compass, que substitui o modelo homônimo hoje no mercado, será segundo degrau na escala de produtos da Jeep, sem concorrer com o Renegade, veículo de entrada nesta marca, pois maior, com decoração e conteúdo superiores. Projeto e definição de mercado traçados fora do Brasil, pois a pretensão ultrapassa fronteiras nacionais, mas cruzar fronteiras substituindo dois produtos Jeep, o Compass e o Patriot. Outubro, Salão do Automóvel, vendas em 2017.
Audi RS3, cara de hatch, andar de GT
Em ano difícil, intensa disputa com as colegas alemãs, Audi traz o RS3 como referência. Quatro portas, traseira em hatch, invejável conteúdo tecnológico: motor cinco-cilindros, 2,5 litros, pouco imagináveis 367 cv, até 1,3 bar de pressão no turbo, sete marchas, tração total para conviver com tal cavalaria, mecânica apta a suportar demandas por rendimento. Preciosismos como flaps no coletor de admissão para entrada turbulenta na câmara de combustão, nos tubos de exaustão para gerar rugido esportivo, e montagem manual. Bancos em couro, laterais das portas em camurça sintética, fibra de carbono. Poucas unidades.
Roda a Roda
Volta – Queda de vendas experimentada pela Volkswagen, resultante da descoberta de emissões poluentes por seus motores acima da barreira legal, parou e iniciou retomar crescimento. Na China cresceram 15% em janeiro, e em suas 12 marcas, 3,7% — 847.800 vendas. Maiores quedas, Brasil e Rússia.
Moda – Onda mundial, os utilitários esporte atraem marcas luxuosas e esportivas, distantes deste segmento. Já aderiram Lincoln, Cadillac, Mercedes, Bentley, Porsche. Rolls-Royce testa o seu, Maserati prepara lançamento, e Ferrari teve negada qualquer iniciativa. Sergio Marchionne, CEO da FCA, sob cuja ampla sombra está a Ferrari, descartou possibilidade.
Mercedes – Com projeto de incluir picape à sua relação de produtos, como leitor da Coluna soube por antecipação, Mercedes, Renault e Nissan fizeram acordo. Farão picape sobre base Nissan, em instalações Renault na Argentina. Nova no pedaço, para sentir o mercado, Mercedes moldou protótipo à mão e o levou secretamente a fórum de design na Austrália, um dos melhores e mais exigentes consumidores de picape. Mas o segredo vazou pelos entusiasmados convidados.
Individualização – No projeto tripartite a estrutura será igual, com carroceria idêntica para aliançadas Nissan e Renault. Porém Mercedes quer linhas exclusivas e conformação aparentemente seguindo a experiência da Mitsubishi no Brasil — diesel, tração nas quatro rodas, cabines estendida e dupla. Motor Nissan diesel 2,3-litros e 122 cv, todavia com intervenções Mercedes via AMG, 188 cv. Versões sugeridas, de entrada, simplória, tipo franciscano vivendo em Esparta; e topo como AMG. No mercado em 2018.
Mico – Por razão insondável marcas investem para obter a láurea de mais vendida. Se isto ocorre no mundo inteiro, nos EUA o negócio pega fogo, em especial entre as marcas ditas premium, BMW, Lexus, Mercedes. Fim de 2015, BMW surpreendeu e surgiu com a mais vendida. Superou Lexus por 1.400 unidades e Mercedes por 3.000.
Gato – Algum norte-americano traduziu frase do humorista Millor Fernandes, e achou que havia um rabo escondido com o gato de fora. Logo apareceu a mágica. Em dezembro a BMW pagou a cada revendedor US$ 1.750 para comprar as unidades cedidas para servir aos clientes com carros na oficina.
Manobra – Soluções do gênero são usuais, inclusive no Brasil: nos dezembros fábricas forçam trocas de frotas das locadoras com enormes descontos, para escriturar vendas. Mas nos EUA e com tal coragem, foi mal vista.
Reedição – Apresentou o protótipo Vision buscando identidade visual com o modelo A110 da então pequena marca francesa. Poucos dados, plataforma e carroceria leves, como na fórmula original, e motor turbo, quatro cilindros, capaz de ir de 0 a 100 km/h em menos de 4,5 s.
Presença – Vision é efeito demonstração e futuro Alpine em desenvolvimento pela área de competições da Renault. Quer ter equipe própria e divulgar o produto em corridas. Será construído em Dieppe, berço da Alpine. Salão de Paris, setembro, vendas em 2017, concorrente do Porsche 718, o Boxster.
Polêmica – Dr. Helmut Marko — tratamento porquanto ex-juiz de direito —, ex-piloto de Fórmula 1, recordista em Le Mans, e hoje conselheiro da Red Bull, fez declaração provocativa: pilotos de Fórmula 1 ganham demais.
Razão – Os de ponta como Lewis Hamilton, Fernando Alonso, Sebastian Vettel, algumas dezenas de milhões de dólares anuais. Para Marko duas razões: hoje os riscos de acidentes sérios são muito reduzidos; e a tecnologia aplicada exige cada vez menos dos pilotos, com decrescente influência nos resultados.
Contra – Nikki Lauda, ex-piloto de Formula 1, hoje líder da área de corridas da Mercedes, também austríaco e filho de banqueiro, contrapõe: não ganham muito relativamente ao montante de recursos envolvido na categoria…
História – Colecionadores de veículos Auto Union DKW, construídos no Brasil pela Vemag S/A, querem comemorar os 60 anos da assinatura da Resolução GEIA 001 autorizando empresa a produzi-los.
Festa – Festa será no dia 30 de julho, data do documento oficial, na rua Vemag, São Paulo, em frente a portão remanescente do prédio original onde operou a empresa. Por ele passaram quase 120 mil veículos da marca.
Gente – Hasan Allgayer, engenheiro com mestrado e MBA, mudança. Deixa a área de vendas da Shell na Costa Oeste dos EUA e assume VP de lubrificantes Shell para Brasil e Argentina.
Mercedes, 60
Fabricante foi a terceira indústria de automóveis a se fixar em São Bernardo do Campo, então lugar de fazendas, cerâmicas e algumas pequenas indústrias de móveis. Na prática era a primeira marca, pois as demais, Brasmotor e Varam, eram representantes autorizados a fazer montagem. Antes do governo JK, tendo na indústria automobilística um dos espelhos de seu sucesso, vazou o primeiro motor diesel no país, e logo após, com a legislação baixada para organizar o setor e atrair investidores, foi um dos projetos aprovados pelo GEIA, grupo encarregado de analisar propostas de nacionalização de produtos.
Quem estuda e se interessa pela história da indústria automobilística no Brasil sabe, a vinda da Mercedes representou muito mais relativamente à dezena de marcas aqui se implantando naquela época. Era tempo de empresas com problemas buscando solução em mercados virgens, e Ford, Chevrolet e International, aqui desde o início do século, eram apenas grandes agregadoras de peças importadas. A Mercedes, então com mais de meio século e profundas marcas no caminho representou a vinda de marca sólida, em atividade industrial em espectro sem similar no país àquela época.
A coluna expressa as opiniões do colunista e não as do Best Cars