Gol BlueMotion agita a bandeira da economia (relato 4)

 

Evoluções no motor de 1,0 litro somam-se a um pacote
voltado à eficiência: como ele se comporta durante 30 dias?

Texto e fotos: Roberto Agresti

 

Atualização de 6/9/12

A semana número dois do Gol BlueMotion em nossas mãos foi morna em termos de quilometragem, mas quente em se tratando de informação, como sempre acontece quando nossos carros da avaliação de Um Mês ao Volante passam pelas mãos do consultor técnico Alberto Trivellato.

Estacionado à porta da oficina Suspentécnica, de São Paulo, SP, o Gol chamou atenção dos funcionários, tanto pelo novo visual que acaba de receber quanto pelo logotipo BlueMotion, alusivo ao pacote de eficiência sobre o qual alguns já haviam lido. O extrato das impressões é positivo, com as formas do novo Gol agradando tanto à equipe quanto a Alberto. Para este, de um modo geral, detalhes de acabamento — pintura, folga entre os vãos da carroceria, padrão interno de desenho e materiais usados — não provocaram reação negativa digna de nota.

Nessa análise estática do novo Gol, um item chamou a atenção: o trinco do capô tem a característica de aliar em uma só peça duas funções, a de “macho” da tranca propriamente dita e a de trava de segurança. Tal solução causou animada análise e, ao fim, a conclusão foi dupla: palmas à engenhosidade de quem conciliou as funções e… críticas, pois a trava serve para evitar problemas em caso de mau fechamento ou falha da peça e, se ela for única, perde-se a função de segurança.

Ainda de nariz enfiado no capô, Alberto elogia a organização dos componentes, menos alguns métodos de fixação que se valem de um excessivo número de “esgana-gato” — as cintas de material plástico. Também fez torcer o nariz aproveitamentos como a base da bateria, projetada para uma bem maior do que a que equipa o Gol. Contudo, a boa pintura interna (e não tinta de fundo como, por exemplo, havia no bem mais caro “irmão” Audi A1) agrada aos olhos.

 

 
A inspeção visual e um breve teste de direção deram a Alberto Trivellato, da oficina
Suspentécnica, a convicção de que o Gol continua a cumprir seu propósito

 

Passando ao interior, nem empolgação, nem indignação: o Gol é sisudo, cinza, rigoroso, mas correto para sua categoria. Comandos estão onde se espera que estejam, sem novidades. O painel sóbrio e bem informativo agradou Alberto, e nem mesmo a ausência de regulagem da coluna de direção incomodou ao colaborador.

Dada a partida no motor para seus quilômetros ao volante, ao passar a segunda marcha o motorista se espanta pelo tranco causado. Alberto repete a operação e, mais uma vez, não consegue evitar que o Gol chacoalhe. Depois de três ou quatro vezes, só reduz o tranco “queimando” a embreagem, e reclama: “Isso é estranho: o motor permanece acelerado quando se aperta a embreagem para a troca de marcha, mesmo tirando o pé do acelerador, e uma vez que se espeta a segunda, é claro que haverá um ‘pulo’, pois a rotação não caiu como esperado”.

O giro de Alberto com o Gol prossegue e a característica incômoda permanece, mas em menor grau, nas passagens para terceira e para quarta, marchas mais longas e que atenuam o efeito. Mas ficar de olho no conta-giros revela que, sim, a rotação do motor cai de maneira muito lenta. E por qual razão?

Alberto teoriza um conjunto de fatores: “Um motor de 1.000 cm³ equipando um carro de quase uma tonelada demanda um ajuste especial. O volante do motor não pode exagerar na massa, pois isso roubaria a potência que já não é grande, apesar de favorecer o torque. A solução é encontrar um compromisso. Com o giro caindo lentamente, provocado pelo ajuste eletrônico da injeção, tem-se a impressão de que o carro está mais ‘esperto’ depois da troca de marcha, pois se dispensa que o motorista afunde o pé buscando força. Mas o conforto padece”.

Acostumado — mas não conformado — com essa característica do Gol, o foco passa ao ajuste de suspensão, não sem antes o devido elogio ao comando de câmbio. O colaborador entende que molas e amortecedores tiveram suas cargas estabelecidas perto de um limite preciso, que deu ao Gol a firmeza necessária sem contudo prejudicar o conforto.

 

 
A trava do capô com dupla função e as suspensões dianteira (no centro) e
traseira, conjuntos simples, mas com acerto bem feito nessa versão BlueMotion

 

“O fato de ele não ser um carro áspero e de rodar desconfortável, mesmo usando componentes de suspensão com carga elevada e uma pressão de pneus bastante alta, se deve à compensação em outros elementos elásticos da suspensão. O dimensionamento generoso de coxins e demais borrachas que ligam as partes móveis ao monobloco ‘isola’ o Gol, dando conforto, mas não o deixa mole demais. A opção pelos pneus de perfil alto, 175/70, também ajuda nisso: por maior que seja a pressão indicada para inflá-los, a lateral alta do pneu o faz ‘trabalhar’, flexionando e filtrando as asperezas do piso”, analisa o consultor.

O típico giro-teste de Alberto se conclui com uma selecionada escolha de obstáculos — valetas, lombadas e demais acidentes das ruas de São Paulo —e algumas bruscas mudanças de trajetória, com o claro intuito de tentar desequilibrar o Gol. O saldo é positivo, com o colaborador julgando adequado o acerto de chassi desse carro com pretensões de uso tão múltiplas.

Colcha de retalhos

De volta à oficina, no elevador, a análise das entranhas revela as origens desse Volkswagen: “Esse é um projeto da engenharia brasileira. Lá atrás, nos remotos anos 80, em vez de trazerem um carro alemão como o Golf ou o Polo de primeira geração, preferiram fazer um modelo específico para o Brasil. Sem julgar o mérito dessa escolha, o que se viu e vê nos Gols, e esse não foge à regra, é que as soluções técnicas adotadas são uma colcha de retalhos”.

Como assim?

Assim: “Vejo aqui, na suspensão dianteira, elementos de Volkswagen, de Audi, de diversos carros do grupo que passam pela minha oficina. Só que esse é o conjunto específico do Gol, e funciona há anos e muito bem. Não há nenhum demérito em usar partes e soluções, fazendo uma espécie de ‘catadão’ da tecnologia disponível na marca, desde que funcione”.

Quando o colaborador caminha em direção ao eixo traseiro, informamos do questionamento de um leitor sobre eventual uso de componentes dos Gols de gerações passadas, como eixo, assoalho traseiro e caixa de estepe — que não seriam os mesmos de Fox e Polo, apesar do senso comum de que os três modelos compartilham a plataforma.

 

 
Os detalhes construtivos do Gol, visíveis por baixo e no cofre do motor, revelaram um
carro de projeto de custo baixo, mas sem descuidos que afetem a durabilidade

 

Sobre isso, Alberto comenta: “Sim, na prática esse eixo de torção é igualzinho ao dos primeiros Gols. E daí? Qual o problema se ele funciona bem, é robusto, simples, sem surpresas? Não vejo problema nessa opção de fundir famílias diferentes em um mesmo monobloco. Espera-se, acima de tudo, a funcionalidade de um carro de viés popular. Na verdade, acho que o Gol atende a uma fórmula de sucesso e cumpre bem sua função, mesmo sendo construído de maneira fácil e barata”.

Alberto prossegue observando detalhes construtivos da seção inferior do Gol. Ele e alguns funcionários apontam aperfeiçoamentos, como a proteção das linhas de combustível e de freio, a soldagem das chapas e o cuidado com emendas e tratamento anticorrosão, que supera o encontrado em um concorrente direto, o novo Fiat Palio, recém-avaliado na seção.

“O Gol é caprichadinho, bem construído, com soluções técnicas eficientes e muito testadas. Por conta disso, atende sua proposta de oferecer simplicidade e eficiência. Todavia, acho estranho que alguns componentes estejam pintados de preto de modo que não considero normal. Desconfio que, sendo um carro da frota de imprensa, foi ‘preparado’ para sair bonito em uma eventual seção fotográfica”, ele nota. E com esse comentário Alberto nos entrega uma missão: debruçarmo-nos sob um carro novo em uma concessionária para ver se esse “preto fosco” é padrão.

Alberto compraria um Gol BlueMotion? “Por esse preço, jamais. Pagar R$ 36 mil por um Gol 1000 parece piada, por mais equipado que seja. Os R$ 28 mil do modelo de entrada, pelado, seriam uma cifra razoável se viesse com os principais equipamentos deste, em especial freios ABS, airbags e os indispensáveis ar-condicionado e direção hidráulica. O resto daria até para relevar”. E as palavras de Alberto fazem coro com as de seus colaboradores na Suspentécnica, donos de carros dessa categoria que vêm méritos, e muitos, no Gol — mas não a esse exorbitante preço.

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Último período

2 dias

189 km

Distância em cidade 189 km
Distância em estrada 0 km
Tempo ao volante 9h 03min
Velocidade média 21 km/h
Consumo médio (álcool) 7,2 km/l
Indicações do computador de bordo

 

Desde o início

14 dias

1.651 km

Distância em cidade 668 km
Distância em estrada 983 km
Tempo ao volante 50h 30min
Velocidade média 33 km/h
Consumo médio (álcool) 9,9 km/l
     Melhor marca média (álcool) 12,9 km/l
     Pior marca média (álcool) 7,2 km/l
Consumo em percurso-padrão (43,2 km)
     Álcool 14,6 km/l
Indicações do computador de bordo

 

Preço

Sem opcionais R$ 27.990
Como avaliado R$ 35.855

 

 

Ficha técnica

Motor
Posição transversal
Cilindros 4 em linha
Comando de válvulas no cabeçote
Válvulas por cilindro 2
Diâmetro e curso 67,1 x 70,6 mm
Cilindrada 999 cm³
Taxa de compressão 12,7:1
Alimentação injeção multiponto sequencial
Potência máxima (gas./álc.) 72/76 cv a 5.250 rpm
Torque máximo (gas./álc.) 9,7/10,6 m.kgf a 3.850 rpm
Transmissão
Tipo de câmbio e marchas manual /  5
Tração dianteira
Freios
Dianteiros a disco ventilado
Traseiros a tambor
Antitravamento (ABS) sim
Direção
Sistema pinhão e cremalheira
Assistência hidráulica
Suspensão
Dianteira independente, McPherson
Traseira eixo de torção
Rodas
Dimensões 5 x 14 pol
Pneus 175/70 R 14
Dimensões
Comprimento 3,895 m
Largura 1,656 m
Altura 1,464 m
Entre-eixos 2,465 m
Capacidades e peso
Tanque de combustível 55 l
Compartimento de bagagem 285 l
Peso em ordem de marcha 947 kg
Desempenho
Velocidade máxima (gas./álc.) 163/165 km/h
Aceleração de 0 a 100 km/h (gas./álc.) 13,4/12,9 s
Dados do fabricante; consumo não disponível

 

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