O Mustang europeu

Elegante, potente e divertido de dirigir, o Ford Capri
representou na Inglaterra o mesmo que seu primo nos EUA

Texto: Francis Castaings - Edição: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Em 1965 a fábrica inglesa da Ford, situada em Halewood, perto de Liverpool, desenvolvia uma idéia nascida a partir do estrondoso sucesso do norte-americano Mustang. Os responsáveis pelo Projeto Colt buscavam um cupê pequeno e atraente, que pudesse receber várias motorizações e opcionais. Seria fabricado na Inglaterra e na Alemanha.

Projetistas da Ford desenvolvem o modelo em escala natural, mock-up, do Projeto Colt em 1966

Modelos em escala natural (mock-ups) foram apresentados em clínicas em Londres, Colônia, Milão e outras cidades no início de 1966. Em julho a Ford decidia por sua produção, que começava em novembro de 1968 para que todas as concessionárias pudessem receber no mínimo uma unidade até o lançamento oficial, em 5 de fevereiro de 1969. A apresentação mundial deu-se no Salão de Bruxelas, na Bélgica, em 24 de janeiro daquele ano.

Como a designação Colt já estava registrada pela Mitsubishi, o carro foi rebatizado Capri -- nome de uma charmosa ilha italiana do litoral do Mar Tirreno, já empregado em uma versão do Ford Consul de pouco sucesso. Com linhas simples e bonitas, era difícil não agradar. Media 4,37 metros de comprimento e adotava formato
fastback, frente longa e duas portas. Logo atrás destas, na parte inferior, duas entradas de ar falsas lhe davam certa esportividade.

Um protótipo do Capri em testes sob frio intenso: o novo nome, de uma charmosa ilha italiana, foi adotado porque a Mitsubishi já detinha a marca Colt

Os vidros laterais traseiros, quase um semicírculo, foram adotados depois que estudos iniciais apontaram uma sensação de claustrofobia dos passageiros do banco posterior. Era uma carroceria esportiva e familiar para quatro passageiros. Sua motorização básica, na Inglaterra, era o 1,3-litro do primeiro Escort -- motor denominado Kent, que originaria mais tarde o Endura-E utilizado aqui no Ka e no Fiesta -- com 61 cv, quatro marchas e tração traseira.

Mal passava dos 140 km/h e de 0 a 100 km/h exigia 20 s, mas esta configuração era a mais modesta e barata. Na Alemanha, o modelo similar recebia outro 1,3 com a rara configuração V4 (quatro cilindros em V) e 50 cv. Logo depois vinha o motor 1,6, emprestado do Ford Cortina, que também cedia as caixas de câmbio para o cupê. Podia receber transmissão automática como opcional. O 1600 GT oferecia potência de 82 cv, dupla carburação e chegava a 170 km/h, fazendo de 0 a 100 km/h em 14,5 s. Para a época já era interessante, o primeiro degrau para a esportividade.

A frente longa e as janelas traseiras em forma de "C" eram características do Capri; a versão de 1,6 litro e 82 cv já oferecia certo desempenho em 1969 

O Capri tinha as versões de acabamento básica, L, XL, XLR e GT. Esta última recebia conta-giros, volante esportivo e painel e console com acabamento imitando madeira. Podia vir com a pintura em dois tons ou com capô preto-fosco, teto solar... O leque de opcionais para o Capri, a exemplo do Mustang, era enorme.

Acima vinha a versão 2000 GT Special, com quatro cilindros em V, 2,0 litros e 93 cv, motor utilizado também pelo Ford Corsair. Por fora era notável o pequeno aerofólio sobre a tampa do porta-malas e as persianas sobre o vidro traseiro. Tinha teto de vinil, capô preto-fosco e rodas esportivas. Fazia 175 km/h de velocidade máxima e de 0 a 100 km/h em 11 s, números muito bons para um compacto esportivo de 1970. Este modelo foi preparado pela AVO (Advanced Vehicles Operations), departamento para carros especiais da Ford na Inglaterra.

A versão mais potente, a 3000 GT com motor V6, desenvolvia 128 cv e
podia alcançar 185 km/h: despertava a adrenalina para os padrões da época

A versão de topo, 3000 GT, recebia o motor Essex de seis cilindros em V com 128 cv. Esta máquina, herdada do antigo Zodiac, mantinha o comando de válvulas no bloco e conseguia a melhor aceleração de todos os Capri: 0 a 100 km/h em 10 s. Seus pneus eram 185/70 HR 13 para suportar a velocidade máxima de 185 km/h -- já trazia adrenalina. Em 1971 a potência subia para 138 cv, o que fez a velocidade final beirar 200 km/h. Continua

Para ler

Ford Capri II - 2.8 & 3.0 Owners Workshop Manual. Esta coleção da Haynes Car Workshop Manual é muito famosa na Europa pela qualidade técnica e riqueza de detalhes. São estudos técnicos com desenhos, esquemas e fichas muito bem feitos. Inclui também dicas sobre a série III.

Acessórios

Para o Capri estava disponível toda uma gama de acessórios, para uso em carros de competição ou de rua. Pára-lamas, capô e tampa do porta-malas em fibra de vidro para aliviar o peso, barras anticapotagem, volantes, bancos especiais. Para o motor havia comandos "bravos", coletores de admissão, cornetas de aspiração, escapamentos, carburadores... Tudo para deixá-lo ainda mais feroz.

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