O Democrata que não houve

A IBAP pretendia fabricar um automóvel com projeto
brasileiro, mas foi extinta por motivos nunca esclarecidos

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: Fabrício Samahá e divulgação*

No início da década de 60, o jovem empresário Nélson Fernandes, proprietário de um clube de campo (Acre Clube) e de um hospital (Presidente) em São Paulo, tinha em mente algo ambicioso: fabricar, em uma indústria de capital nacional, modernos automóveis com projeto brasileiro. Os nacionais de então eram modelos -- em geral já defasados -- trazidos das matrizes ou licenciados por empresas estrangeiras.

Em outubro de 1963 ele fundava a Indústria Brasileira de Automóveis Presidente (IBAP), com instalações erigidas em um terreno de 1.014.719 metros quadrados em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, com 1.500 metros de frente para o quilômetro 32 da Via Anchieta e 800 m de fundos para a Estrada Velha de Santos. A planta da fábrica previa uma área construída de 300.000 m2.

A fábrica em São Bernardo do Campo: projeto de 300.000 m2 de área construída

A intenção era produzir três veículos: um carro popular com motor de 300 a 500 cm3, um utilitário e o modelo de luxo Democrata, um três-volumes em versões cupê de duas portas e sedã de quatro portas, com motor traseiro de seis cilindros e 2,5 litros. O nome Presidente Democrata soaria irônico seis meses depois, em abril de 1964, quando foi instaurado um regime ditatorial após a deposição do presidente João Goulart.

O popular deveria ser o primeiro modelo fabricado, mas uma inversão levou o Democrata a passar à frente. Sua carroceria de plástico reforçado com fibra-de-vidro permitia o início imediato da produção, sem a necessidade de demorado e caro desenvolvimento de ferramental para prensar as chapas metálicas, que o carro popular demandaria. Era uma vantagem importante ter alguns veículos prontos antes mesmo do início da capitalização da empresa.

Na entrada da unidade, uma placa com o emblema patriótico da IBAP e uma mensagem de Fernandes, que fala em "convencer até os espíritos mais céticos"

Fernandes, com elevado sentimento patriota, colocou um contorno do mapa do Brasil no logotipo da marca, dentro de uma engrenagem estilizada. Para formar o capital necessário para os investimentos, a IBAP utilizaria o mesmo esquema financeiro do clube e do hospital de Fernandes, que duas décadas depois permitiria à Gurgel (leia história) produzir o BR-800: a venda de ações. Continua

* As fotos de Fabrício Samahá são as feitas com o Democrata restaurado; as demais são de divulgação. O BCWS agradece a colaboração dos irmãos José Carlos e José Luís Finardi, do Centro Automotivo Finardi, pela oferta do carro para sessão fotográfica e de informações que contribuíram para este artigo.

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Data de publicação: 22/3/03

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