Esplendor dourado

Epítome do carro americano, o Cadillac Eldorado foi o símbolo de
status mais querido dos Estados Unidos no apogeu de Detroit

Texto: Fabiano Pereira - Fotos: divulgação

O aniversário de 50 anos da Cadillac, em 1952, merecia uma comemoração digna do nível de excelência alcançado pela marca. Era como se fossem bodas de ouro, considerando o feliz casamento dessa divisão da General Motors com o imaginário americano. Os anúncios impressos de seus carros eram enfeitados com jóias, um paralelo nítido do requinte exibido em seus produtos. Marcas mais sofisticadas, como Duesenberg, Stutz, Pierce-Arrow e Cord, já haviam passado pelo mercado, mas nos anos 50 a Cadillac reinava como ícone de luxo. Seu status e carisma eram nitidamente superiores aos de Lincoln e Packard.

Para celebrar um ano tão especial, a empresa criou dois carros-conceito para apresentar pelas exposições itinerantes Motorama e salões do país. Um deles era o Sixty-Special Townsman; o outro, um conversível com pára-brisa envolvente chamado El Dorado — assim mesmo, separado. O nome deste último fazia alusão às "bodas" da Cadillac, mas também significava a terra rica em ouro buscada por muitos conquistadores do novo mundo, que ficaria em algum lugar da América do Sul. Era usado ainda para identificar um lendário cacique dessa região, provavelmente inca, que tinha o corpo polvilhado com pó de ouro antes de mergulhar num lago.

O início: o conceito El Dorado de 1952, um conversível com pára-brisa envolvente e um nome que evocava riqueza  

O El Dorado viria estimular a Cadillac a criar uma série limitada para 1953 inspirada nele. Seu nome definitivo teve a grafia unida em uma única palavra. Por astronômicos 7.750 dólares (55 mil atualizados), o Eldorado 1953 era o carro mais caro dos Estados Unidos. Com sua produção restrita e seu preço, teve apenas 532 unidades fabricadas, uma das quais usada pelo presidente Dwight Eisenhower no dia de sua posse. Que excelente vitrine o Eldorado conseguiu logo depois de lançado!

A maneira mais fácil de se reconhecer o modelo era notando o pára-brisa envolvente, único da linha Cadillac, um estilo também encontrado no recém-lançado Corvette da Chevrolet e no Oldsmobile Ninety-Eight Fiesta. Outro detalhe exclusivo era o "V" dourado entre a grade o emblema do capô — nos outros modelos ele era cromado. Além do pára-brisa, o Eldorado diferia do Cadillac Série 62 conversível por ser 7,5 cm mais baixo, ter cobertura metálica para esconder totalmente a capota e linha da cintura suavemente chanfrada depois das portas, uma discreta alusão a roadsters europeus como o Jaguar XK.

O primeiro Eldorado de produção (agora com o nome em uma só palavra), de 1953, diferenciava-se de outros Cadillacs em detalhes de estilo, mas era o mais caro carro americano

Tecnicamente, o Eldorado não apresentava revoluções: seus maiores trunfos eram o esmero no acabamento e o status. Ele possuía o mesmo pacote dos demais Cadillac: motor V8 de 331 pol³  ou 5,4 litros, potência (bruta, como todas as citadas no artigo até 1971) de 210 cv a 4.150 rpm, torque máximo de 45,4 m.kgf a 2.700 rpm e um carburador de corpo quádruplo. O câmbio era automático de três marchas. Após um incêndio na fábrica da Hydra-Matic em agosto de 1953, 28.000 Cadillacs daquele ano receberiam a transmissão Dynaflow da Buick, mas nenhum deles era um Eldorado. Continua

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Data de publicação: 22/1/05

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