Tábuas da salvação

Simples no desenho, eficientes na mecânica, os carros K — como Dodge
Aries e Plymouth Reliant — trouxeram a recuperação à Chrysler

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação



Cupê, sedã e perua formavam as linhas Aries e Reliant; os da Plymouth eram diferenciados por detalhes como a grade inspirada nos Mercedes

As linhas retas abrangiam o painel; na mecânica, soluções modernas como motor transversal, tração dianteira e suspensão McPherson

Se você visse um deles pela rua hoje, talvez nem reparasse. Com linhas retas e sóbrias típicas da indústria norte-americana no fim da década de 1970 e começo da de 1980, eram carros do tipo que está longe de despertar entusiasmo pelo estilo. No entanto, quando se analisa a história repleta de altos e baixos da Chrysler, esses automóveis representam um passo decisivo para que a empresa tenha se salvado do risco de falência. São os carros K.

Os anos 70 foram mesmo difíceis para os fabricantes dos Estados Unidos. A década começou com padrões de segurança, passou por limites de emissões poluentes, viu a primeira crise do petróleo em 1973, a instituição do controle de consumo de combustível por meio do CAFE e, em 1979, a segunda crise do óleo negro. Enquanto isso, marcas japonesas como Honda, Toyota e Datsun (da Nissan) ganhavam mercado com carros mais compactos e econômicos que os norte-americanos, mas em alguns casos tão espaçosos quanto eles.

Para a Chrysler, o fim daquela década marcava um período de grave crise financeira. Ao mesmo tempo em que Lee Iacocca — bem-sucedido executivo que vinha da Ford — assumia a presidência da Chrysler Corporation, em novembro de 1978, a empresa anunciava que seu prejuízo no terceiro trimestre daquele ano havia sido o maior em sua história de mais de meio século.

As razões? Muitas. Em termos administrativos, havia um excesso de cargos (nada menos que 35 vice-presidentes) e de burocracia. Em termos de produção, as fábricas estavam envelhecidas e pouco eficientes. Em termos de produto, a Chrysler vinha apresentando alguns carros certos nas horas erradas — caso dos subcompactos Dodge Omni e Plymouth Horizon, lançados em 1978, cinco longos anos após se deflagrar a primeira crise do petróleo. Quando eles chegaram ao mercado, os norte-americanos já estavam de novo comprando carros maiores e mais potentes.

Então vinha a segunda crise do "ouro negro", a de 1979, e o consumidor voltava a olhar para automóveis mais econômicos: em cinco meses, a fatia dos compactos crescia de 43% para 58%, uma alteração rápida como nunca se vira nos EUA. Contudo, a dupla Omni/Horizon era pequena demais para atender aos anseios da maioria dos norte-americanos; já os chamados modelos intermediários, ou médios, da Chrysler eram grandes e beberrões em excesso para o novo momento.

Iacocca não viu outra solução: pediu ao governo federal um empréstimo de US$ 13,6 bilhões, apresentando em troca um plano de sobrevivência de cinco anos e a proposta dos carros que a empresa colocaria em produção, caso recebesse o dinheiro, para se recuperar no mercado. "Aqui está o futuro da Chrysler", acenou o executivo, prometendo que "um voto de 'sim' dos senhores colocará esses modelos em produção em menos de 10 meses".

Apesar da contrariedade de muitos, que viam na ajuda federal uma heresia a tudo em que os EUA acreditavam, a Chrysler recebia seu presente em dezembro, pouco antes do Natal de 1979.

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Data de publicação: 14/1/12

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