Cupê, sedã e perua formavam as
linhas Aries e Reliant; os da Plymouth eram diferenciados por detalhes
como a grade inspirada nos Mercedes
As linhas retas abrangiam o
painel; na mecânica, soluções modernas como motor transversal, tração
dianteira e suspensão McPherson |
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Se
você visse um deles pela rua hoje, talvez nem reparasse. Com linhas
retas e sóbrias típicas da indústria norte-americana no fim da década de
1970 e começo da de 1980, eram carros do tipo que está longe de
despertar entusiasmo pelo estilo. No entanto, quando se analisa a
história repleta de altos e baixos da Chrysler, esses automóveis
representam um passo decisivo para que a empresa tenha se salvado do
risco de falência. São os carros K.
Os anos 70 foram mesmo difíceis para os fabricantes dos Estados Unidos.
A década começou com padrões de segurança, passou por limites de
emissões poluentes, viu a primeira crise do petróleo em 1973, a
instituição do controle de consumo de combustível por meio do
CAFE e, em 1979, a segunda crise do óleo
negro. Enquanto isso, marcas japonesas como Honda, Toyota e Datsun (da
Nissan) ganhavam mercado com carros mais compactos e econômicos que os
norte-americanos, mas em alguns casos tão espaçosos quanto eles.
Para a Chrysler, o fim daquela década marcava um período de grave crise
financeira. Ao mesmo tempo em que
Lee Iacocca — bem-sucedido executivo que vinha da Ford — assumia a
presidência da Chrysler Corporation, em novembro de 1978, a empresa
anunciava que seu prejuízo no terceiro trimestre daquele ano havia sido
o maior em sua história de mais de meio século.
As razões? Muitas. Em termos administrativos, havia um excesso de cargos
(nada menos que 35 vice-presidentes) e de burocracia. Em termos de
produção, as fábricas estavam envelhecidas e pouco eficientes. Em termos
de produto, a Chrysler vinha apresentando alguns carros certos nas horas
erradas — caso dos subcompactos Dodge Omni e
Plymouth Horizon, lançados em 1978, cinco longos anos após se
deflagrar a primeira crise do petróleo. Quando eles chegaram ao mercado,
os norte-americanos já estavam de novo comprando carros maiores e mais
potentes.
Então vinha a segunda crise do "ouro negro", a de 1979, e o consumidor
voltava a olhar para automóveis mais econômicos: em cinco meses, a fatia
dos compactos crescia de 43% para 58%, uma alteração rápida como nunca
se vira nos EUA. Contudo, a dupla Omni/Horizon era pequena demais para
atender aos anseios da maioria dos norte-americanos; já os chamados
modelos intermediários, ou médios, da Chrysler eram grandes e beberrões
em excesso para o novo momento.
Iacocca não viu outra solução: pediu ao governo federal um empréstimo de
US$ 13,6 bilhões, apresentando em troca um plano de sobrevivência de
cinco anos e a proposta dos carros que a empresa colocaria em produção,
caso recebesse o dinheiro, para se recuperar no mercado. "Aqui está o
futuro da Chrysler", acenou o executivo, prometendo que "um voto de
'sim' dos senhores colocará esses modelos em produção em menos de 10
meses".
Apesar da contrariedade de muitos, que viam na ajuda federal uma heresia
a tudo em que os EUA acreditavam, a Chrysler recebia seu presente em
dezembro, pouco antes do Natal de 1979.
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