Poucos meses após a Europa, ganhávamos o Escort amplamente reestilizado para 1987, com linhas arredondadas por fora e por dentro

Para-choques envolventes em plástico e grade de um só vão estavam entre as mudanças; o XR3 vinha com rodas e aerofólio redesenhados

Do pacato GL (em azul) ao conversível, a família estava atualizada, mas não em termos de motor: só dois anos depois viria o AP da Volkswagen

Com isso, seu desempenho era mais modesto que o do XR3 original, com o qual compartilhava a mecânica, embora o Cx não fosse tão pior (0,41 com capota fechada). Mas o prazer de dirigir a céu aberto, aliado à exclusividade — o único adversário nacional, o Kadett GSi, surgiria só seis anos depois —, garantiu sua permanência no mercado por 10 anos, incluída a segunda geração.

Com uma agilidade que não se repetiria, o Escort reestilizado na Europa no início de 1986 — Mk IV para os britânicos — chegava pouco depois, em agosto, ao Brasil. As linhas estavam mais suaves, os para-choques passavam a ser de plástico e envolventes e o dianteiro englobava a "grade" de um só vão. O Cx melhorava para 0,36. Não havia mais faróis de neblina no XR3, restando os de longo alcance, mas a versão ganhava belas rodas de alumínio e novo aerofólio, que abandonava o material emborrachado do anterior.

Um novo painel com iluminação indireta (por trás) marcava a reforma do interior, que trazia outras novidades: travas das portas junto das maçanetas, comando da buzina na almofada do volante (antes, na alavanca esquerda da coluna de direção), conta-giros em forma de meia-lua e, no XR3, revestimento das regiões de pega do volante imitando couro perfurado. Volante, aliás, que vinha 1 cm maior em diâmetro e associado a uma caixa de direção com relação mais alta para reduzir o peso em manobras.

As rodas de alumínio agora eram "opcionais obrigatórios" no esportivo: com os preços congelados pelo Plano Cruzado — aquele da inflação zero por decreto —, o aumento era mascarado cobrando-se à parte por itens que antes vinham de série. Tanto a versão básica quanto a carroceria de cinco portas e o motor de 1,35 litro, de baixa aceitação, haviam ficado para trás. O 1,6 ganhava pistões, anéis e virabrequim mais leves, que traziam mais 2 cv (4 cv no XR3) e menor consumo. Na suspensão os amortecedores de toda a linha eram pressurizados, uma primazia no Brasil. O XR3 mantinha a calibração mais firme e ganhava estabilizador na traseira.

No teste da Motor 3, o XR3 Conversível recebeu elogios como "acabamento padrão Ford, sempre muito caprichado"; "o melhor volante e o sistema de comandos mais correto entre os carros brasileiros"; e "basculamento da capota simples e rápido". Seu desempenho não entusiasmou, com 0-100 km/h em 12,2 segundos e máxima de 170,3 km/h, mas o consumo melhorou em 5% na comparação com o antigo. Um problema foi a torção em pisos irregulares, causadora de ruídos.

A mesma revista comparou o XR3 hatch ao Uno 1.5 R, então uma novidade da Fiat, e indicou como pontos altos do Ford o desenho moderno, o acabamento e a posição de dirigir, enquanto a suspensão dura e os ruídos internos mereceram críticas. "Constituído de linhas modernas que o tornam extremamente bonito, o XR3 fica devendo na hora de agir como um verdadeiro esportivo", opinava a Motor 3. De fato, o 1.5 R foi mais rápido nas acelerações e retomadas e empatou em velocidade máxima.

"A dirigibilidade e maneabilidade do XR3 são pontos positivos. Ganha-se velocidade com o carro perfeitamente equilibrado e estável sobre o asfalto. O comportamento fica um pouco a desejar nas curvas de alta velocidade, onde há uma tendência a escapar a traseira de forma sensível, desequilibrando o carro", observou a revista, comprovando que o problema dos primeiros modelos ainda não havia sido sanado. Continua

Nas telas
Os Escorts nacionais e argentinos apareceram em muitos filmes e novelas nos dois países. Um modelo inicial branco é visto em Italiani a Rio, comédia italiana de 1987 filmada, claro, na Cidade Maravilhosa.

Da série seguinte, conhecida como Mk IV, há aparições como o hatch cinza de Ciudad en Celo (2007), comédia argentina, e um da mesma cor em Federal (2010), filme policial filmado em Brasília, DF, com Michael Madsen, Carolina Gómez e Selton Mello. Um hatch prata é visto em As Melhores Coisas do Mundo (2010), com Francisco Miguez e Denise Fraga.

Um XR3 conversível preto da mesma geração, já com motor de 1,8 litro, está em Caballos Salvajes, drama argentino de 1995. Também é dessa época o conversível vinho de O Homem do Ano, filme de ação de 2003 com Murilo Benício, Cláudia Abreu e Natália Lage.

Nas novelas, a vida do Escort nunca foi fácil. Carro popular, aparecia em várias produções, mas muitas vezes tinha fim trágico. Foi o caso do Escort L prata onde Otávio Jordão (Antônio Fagundes) perdeu a vida, ao bater de frente com uma carreta na estrada, em A Viagem (1994).

Outro que virou sucata foi o carro de Adriana (Cristiana Oliveira) em Salsa e Merengue (1996-1997). Interceptada em uma estrada por Heitor (Victor Fasano) em seu Audi A8, ela perde o controle do carro no meio de um canteiro de obras. Em Barriga de Aluguel (1990-1991), Aída (Renée de Vielmond) surta e atropela a amante do marido com seu Escort. Depois tenta suicídio jogando o carro contra um poste.
 
Um XR3 conversível prata era puro charme em Roque Santeiro (1985-1986), levando Tânia (Lídia Brondi) para desfilar por Asa Branca. A novela continha muitos modelos da Ford em uma estratégia de publicidade rara na época, embora comum hoje. Outro, vermelho, foi usado por Marconi Ferraço (Dalton Vigh) no primeiro capítulo de Duas Caras (2007-2008).
 
Mais um vermelho aparece em uma cena de ação da novela Bicho do Mato (2006-2007), quando Juba (André Bankoff) retira a amada Cecília (Renata Dominguez) de dentro do carro com a ajuda de um helicóptero. Detalhe: havia uma bomba no carro.
 
Um Verona da primeira geração era o carro da malvada Débora (Vivianne Pasmanter) em sua primeira novela, Felicidade (1991-1992). Ela desfilava pelo Rio fazendo suas maldades a bordo de um GLX dourado. Atropelou uma criança e, nos últimos capítulos, bateu de frente em uma árvore, ficando paraplégica. Escorts aparecem ainda em A Lei e o Crime (2009) e Caras & Bocas (2009-2010).

Com Thiago Mariz

Italiani a Rio Ciudad en Celo
Federal Caballos Salvajes
Felicidade Duas Caras
A Viagem Barriga de Aluguel

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