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por Bob Sharp

Torque e potência: nova
explicação para esclarecer melhor


Eu tenho dúvida sobre torque e potência. Quais as diferenças entre eles? Como são medidos, onde (rodas, virabrequim, etc.), e são baseadas em quê? Ex: um cv ou hp é baseado em que para expressar esse valor? O torque me causa espanto, pois tenho a impressão de que um ser humano conseguiria aplicar um torque de 8 m.kgf, coisa que um motor 1.0 tem de valor máximo aproximadamente.

Parabéns pelo site. Adoro o BCWS. Em muitas matérias tenho notado a falta de explicação em casos específicos, como compressão, relação de marchas, coeficiente aerodinâmico. Sugestão: explicar a partir de que esses valores são baseados para a medição.

Guilherme Henrique Biffi
São Paulo, SP
corpsebiffi@ig.com.br

Embora já tenhamos nos referido a este assunto em outras consultas, Guilherme, é sempre bom voltar ao tema para um melhor esclarecimento.

Para se conceituar torque e potência é preciso entrar com a noção de trabalho realizado. Subir uma escada é um trabalho. Empurrar um carro é um trabalho. Levar o corpo de um lugar a outro (andar ou correr) é um trabalho. Com o motor é a mesma coisa. Ele faz um carro andar de uma cidade a outra ou faz o veículo ir do litoral à montanha. Isso é trabalho.

Não importa se o menor motor de 1,0 litro ou um gigantesco V10 de 8,3 litros do Dodge Viper, ambos farão exatamente o mesmo trabalho. Pode-se perfeitamente considerar torque como trabalho, pois há uma força envolvida que faz o motor produzir o trabalho que dele se espera.

Agora a potência: é a menor ou maior rapidez com esse trabalho é feito. Quem for capaz de correr mais rápido que outra pessoa tem mais potência, muscular no caso. Ou gastar menos tempo para subir a escada. O Dodge Viper certamente subirá a serra mais rapidamente que o carro de 1,0 litro.

Essas duas grandezas, torque e potência, são usadas para "medir" o motor. Ambas são obtidas por meio de um artifício, que é pôr o motor para funcionar fora do carro num dispositivo feito para esse fim (o dinamômetro), mantê-lo seguro por um freio enquanto funciona todo acelerado, sendo a outra parte do freio é ligada a uma balança -- isso mesmo, uma balança como a que se usa para pesar peixe, carne e outros alimentos.

Só que entre essa outra parte do freio e a balança há uma certa distância. Se não fosse assim, não haveria como fazer a parte do freio exercer força na balança. Com a leitura em quilos da balança, multiplica-se ela pelo comprimento do braço e temos aí o torque medido.

Por exemplo, o motor exercendo a força de 10 kg por meio de um braço de 1 metro significa que o torque é de 10 x 1 = 10 quilogramas x metro. Essa unidade de torque por norma brasileira, que é igual à ISO internacional, é m.kg. Mas, como se trata de força e não de massa, é quilograma-força, daí a unidade que você lê no BCWS ser m.kgf.

A potência, como já foi dito, tem a ver com tempo. Ela também é medida no dinamômetro, palavra que veio do grego, dynos (força) e metron (medição). Uma vez no dinamômetro, observa-se a força exercida e em que rotação do motor (rotações por minuto) isso ocorre.

Digamos que o motor esteja funcionando a 5.000 rotações por minuto (rpm) e esteja "puxando'" 10 kg. A potência será de 5 x 10 = 50 cavalos-vapor (cv). Por que multiplicar por 5, e não por 5.000, é questão de simplificação de fórmulas. Inclusive, esse tal braço que vai do freio à balança sempre mede 0,7162 metro, o que explica tirar os três zeros da rotação. E hp é abreviação de horsepower, cavalo de força, unidade do sistema inglês de medidas.

Por definição, 1 cv é a potência necessária para levantar um peso de 75 kg a uma altura de 1 metro em 1 segundo. Portanto, 1 cv é igual a 75 kg.m por segundo (75 kg.m/s). O seu "torque" de 8 m.kgf daria para efetuar o trabalho de levantar 8 kg a uma altura de 1 metro. Se isso fosse feito em 1 segundo, sua potência seria de 8/75 = 0,106 cv. Se fosse em 0,1 s a potência teria de ser de 1,06 cv.

Quando se aperta um parafuso como o da roda, exerce-se um torque, que é a força aplicada na chave de roda, multiplicada pela distância entre o ponto onde se aplica a força e o parafuso. Dobrando essa distância e mantendo a força, o torque dobra. Ou então, para produzir o mesmo torque anterior, a força só precisa ser a metade.

Nas várias rotações em que esses eventos -- torque e potência -- ocorrem seus valores variam. O torque sobe à medida em que rotação aumenta, atinge um máximo e depois cai. Esse máximo é justamente o torque máximo. A potência tem o mesmo comportamento, sobe com a rotação -- mas vai atingir seu máximo (potência máxima) em rotação acima da rotação de torque máximo. Também chega uma rotação em que ela começa a cair.

Esses pontos -- de torque e potência -- são plotados num sistema cartesiano (de dois eixos, o horizontal correspondente a rotação e o vertical a torque e a potência), e traçam-se as curvas de torque e de potência.

É importante entender que o motor produz torque a partir da combustão da mistura ar-combustível, que gera uma grande pressão, resultando que os pistões se deslocam e movimentam as manivelas dispostas numa árvore, que por isso tem o nome de árvore de manivelas, também conhecido por virabrequim (do francês villebrequin). A peça que transmite o movimento dos pistões -- movimento retilíneo -- às manivelas é a biela. Cada pistão tem a sua.

Como vimos antes ao falar do aperto de roda, a distância da mão para o parafuso é crucial na questão de torque. Do mesmo jeito que o tamanho da manivela na árvore de manivelas. Como maior a manivela (o raio da manivela), maior o curso do pistão, temos que em princípio os motores de curso longo têm mais torque do que os de curso curto.

Por outro lado, quando o curso é muito grande, a velocidade média do pistão no cilindro torna-se elevada, impondo severos esforços a ele. Por isso, é muito importante encontrar o termo ideal, que atenda ao compromisso de torque e velocidade média do pistão, dentro de limites que assegurem sua integridade (saiba mais).

Agora, o que tudo isso tem a ver com o carro que você dirige? Esqueça o que se fala por aí, que "torque é para arrancada e potência é para velocidade". Isso não tem nada a ver. Tenha em mente também que torque e potência são grandezas que atuam em conjunto durante todo o tempo em que se está usando um carro.

Sempre insisto em dizer que o que vale é o quanto de potência se dispõe em baixas rotações. É claro que, para apresentar essa característica, o torque do motor tem de ser necessariamente alto. Observe que é possível muita potência com pouco torque, mas nesse caso será preciso "arder" o motor o tempo quase todo, para que essa potência elevada apareça.

Importante também avaliar a potência específica, aquela em relação ao tamanho, à cilindrada do motor. No estado atual da tecnologia, um motor de 65 cv por litro de cilindrada é o máximo para se ter uma razoável elasticidade, isto é, potência palpável em rotações baixas. Mas se um motor tem mais cilindrada, digamos 4,0 litros, mesmo que tenha potência elevada em alta rotação, em baixa ainda tem muita potência, podendo ser dirigido normalmente, sem "arder".

Enfim, o tema é longo e sobretudo interessante, mas espero ter-lhe dado um pouco de todo esse panorama. Quanto aos demais termos que você gostaria de compreender melhor, constam de nosso glossário, ao qual conduzimos o leitor quando esses termos são citados em outros artigos.

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Data de publicação: 2/9/03

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