Ao contrário do que o título pode levar a supor, não se trata de sermos contrários ao excesso de fábricas instaladas ou se instalando no Brasil para produzir automóveis. Pelo contrário, mesmo que possa parecer haver hoje mais delas do que o tamanho do mercado, o
BCWS é de opinião que quanto mais, melhor, pois concorrência acirrada nunca fez mal ao consumidor.
O enfoque do 'basta' é para esse termo inadequado que, a exemplo das deploráveis e infelizmente cada vez mais populares
'cilindradas' como unidade de medida -- em vez de litros ou centímetros cúbicos
--, vem-nos sendo despejado como bombas no cotidiano: montadoras. Tanto por elas próprias quanto pela imprensa.
Afinal, por que montadoras? Aqui no BCWS, o leitor pode notar, sempre utilizamos o termo 'fabricantes' para identificar as empresas que fabricam -- e não apenas montam -- automóveis. Realmente fabricam, pois a estrutura e os painéis da carroceria são estampados por prensas gigantescas, boa parte dos milhares de componentes que compõem um carro são fabricados nessas empresas e, não raro, produzem seus motores, transmissão e outros conjuntos mecânicos. Se fazer tudo isso fosse apenas montar, o que seria fabricar?
Claro que há casos de empresas que apenas montam carros, como aqui mesmo no Brasil, quando automóveis eram feitos a partir de conjuntos importados totalmente desmontados, ou CKD
(completely knocked down). Um bom exemplo foi o Fusca, a partir de 1952, montado pela Brasmotor antes da Volkswagen se estabelecer no país. Mais recentemente, o Dodge Dakota era apenas montado na fábrica de Campo Largo, PR, já que chassi, motor, câmbio e vários outros elementos vinham de empresas externas ou da Chrysler americana. Um pouco antes, em 1993, a General Motors montou em São Caetano do Sul, SP o modelo antigo do Vectra utilizando painéis de carroceria e muitos outros componentes importados de uma unidade Opel na Bélgica, embora o motor fosse Chevrolet brasileiro.
Na maioria dos casos, porém, chamar uma fábrica de automóveis de montadora constitui um erro conceitual, um péssimo hábito a ser combatido. Nas outras línguas usam-se os termos correspondentes a fábricas, jamais a montadoras. Como
werke, na Alemanha (Bayerische Motoren Werke, BMW), manufacturer nos Estados Unidos,
usine na França (Régie Nationale des Usines Renault, antigo
nome da empresa) e
fabbrica na Itália (Fabbrica Italiana di Automobili Torino, Fiat). No automobilismo de competição há equipes de fábrica, nunca equipes de montadora. A Argentina é exceção, pois chamam as fábricas de (indústrias) terminais
(terminales). Se não é correto, pelo menos não é tão impróprio quanto o falado aqui.
Se fábrica não é o termo correto, então a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA) deve passar a se chamar Associação Nacional das Montadoras de Veículos Automotores (ANMOVEA), não deveria?
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