Existe um termo, comum no ambiente da importação de veículos, para designar o processo de adaptação às condições brasileiras de uso: tropicalização. Normalmente ela envolve o sistema de arrefecimento e outros setores que nada têm com o clima quente, como suspensão apta a lombadas e motor capaz de digerir nossa gasolina alcoolizada. Mas há algo normalmente esquecido, tanto por importadores quanto por fabricantes nacionais: os acessórios que poderiam tornar mais ameno o clima tropical do Brasil.
Entre mais de 120 modelos que já passaram pela avaliação completa do
BCWS, não chegam a cinco os que traziam itens simples e baratos como telas enroláveis de proteção solar nos vidros laterais e/ou traseiros. A meu ver, todo carro de padrão razoável (digamos, a classe dos R$ 25 mil) já deveria oferecer esse
recurso como opcional. No entanto, nenhum nacional vem com ele hoje, embora tenha existido no Tempra e no Omega.
E o que dizer do pára-brisa com faixa degradê, tão importante para amenizar o sol ao volante? Há marcas que parecem desconhecer sua existência, mesmo nos carros mais caros. E outras, como Fiat e Ford, que até há pouco o reservavam a versões esportivas, como Marea Turbo e Fiesta Sport. Seria o sol forte um privilégio de motoristas arrojados?
Ao menos os vidros "verdes" já são de série em quase todos os veículos. Mas não entendo por que ainda não se adotam aqui os vidros realmente escuros, que vêm de fábrica com proteção solar semelhante à das películas escurecedoras
("insul-filmes") aplicadas por lojas de acessórios. O sucesso dos filmes pode ser constatado por qualquer um observando o tráfego em uma boa estrada, já que os que viajam com freqüência parecem seus maiores consumidores.
Além da vantagem de sair da concessionária com o carro pronto, os vidros escuros de fábrica eliminariam os riscos de um mau acabamento, de riscar a película (importante nas janelas ao redor do porta-malas das peruas) ou mesmo de danificar o desembaçador do vidro
traseiro em sua aplicação, o que ainda acontece em alguns casos.
Nos Estados Unidos seu emprego é comum em utilitários-esporte e minivans, da coluna central para trás, restando apenas o pára-brisa e os vidros dianteiros claros para
melhor visibilidade noturna. Agora a GM anunciou seu uso no Blazer 2002, mas apenas nos vidros laterais traseiros: se a carga vai receber menos sol, para os passageiros o desconforto permanece.
Finalmente, vale um questionamento ao leitor: você está mesmo convencido de que o revestimento interno em preto é a melhor opção? Alegando que "suja menos" ou que fica mais sofisticado -- ambos um tanto discutíveis --, a maioria dos consumidores parece preferir esse tom, levando os fabricantes a adotá-lo em massa. O resultado são carros de interior escuro, sem atrativos, e com o grande inconveniente de absorver muito mais calor.
A quem duvidar, sugiro um teste com dois carros externamente iguais, um de revestimento claro e outro preto, após
algum tempo fechados sob sol intenso. Um dos modelos mais memoráveis nesse aspecto que avaliei foi um
Lexus ES 300, preto por fora e por dentro (em couro), em pleno verão de 2000/2001. Apesar do eficiente ar-condicionado, estacionar sob sol por alguns minutos era o bastante para gerar um desconforto térmico que parecia nunca acabar.
Às vezes a mudança de tom claro para escuro é feita na nacionalização do carro (Peugeot 206 e Honda Civic são exemplos) como parte da
tropicalização. Há incoerência maior do que "tropicalizar" um automóvel tornando seu interior mais quente? Felizes são os americanos, que podem escolher
interiores em bege e até branco. Se não faz seu gosto -- na verdade nem o meu --,
um cinza-claro como o de alguns Fords e GMs já é muito mais
condizente com nosso clima.
Seja com vidros mais escuros ou interiores mais claros, precisamos nos defender da agressividade do verão. Mas para fabricantes e importadores nos ajudarem nessa tarefa é preciso, antes de tudo, que saibam que é isso o que você deseja.
Boa navegação!
O
Editor
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