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Corrida de cavalos

Edição no. 141 - 11 de janeiro de 2003

O mundo está assistindo a uma nova e empolgante -- para alguns inquietante -- corrida de cavalos (de força). No Salão de Detroit, em pleno andamento, todos viram atônitos o carro conceitual Cadillac V Sixteen, com motor V16 de 13,6 litros de cilindrada, que entra na potência de quatro dígitos: nada menos que 1.000 cv. O mesmo valor foi prometido pelo Grupo Volkswagen para o Bugatti EB 16/4 Veyron, mas este é um superesportivo, não um sedã de luxo, e utiliza quatro turbocompressores -- o Cadillac possui aspiração natural.

A corrida está por todas as categorias, de sedãs a utilitários esporte. O conceito Ford 427 de 7,0 litros entrega, ao movimento do pé direito do motorista, nada menos que 595 cv. Entre os modelos que logo estarão no mercado, o Audi Pikes Peak Quattro e o picape Ford SVT F150 Lightning já chegam a 500 cv. O Porsche Cayenne, com seus 450 cv na versão Turbo, chega a parecer tímido diante do que se está vendo nesses dias em Detroit.

Uma antecipação dessa corrida já podia ser notada nos últimos meses. Semanas depois de a Audi atingir o marco de 450 cv em um sedã esportivo de fábrica, com o RS6, a Mercedes-Benz respondeu com os 500 cv no E55 AMG. O BMW M5 de 408 cv, que parecia inatingível até há pouco, já caiu para o terceiro lugar.

Nos segmentos inferiores não é diferente. Pequenos esportivos já se aproximam de 200 cv, como o Peugeot 206 RC de 180 cv; os médio-pequenos vão à faixa dos 250, a exemplo do Alfa Romeo 147 GTA e o VW Golf R32; e os médio-grandes deixam os 300 cv bem para trás -- já são 344 no Audi S4, um a mais que no BMW M3. Nem motores diesel escapam: o Mercedes C30 Sport Coupe tem 231 cv.

A nova onda tornou-se possível graças aos avanços em tecnologia e técnicas de produção, verificados na indústria em geral e na automobilística em particular nos últimos cinco ou sete anos. Contribuiu também a evolução da variabilidade nos diversos sistemas do veículo e dos sistemas de controle de estabilidade e tração, que permitem ao motorista comum administrar e até usar toda essa potência -- a eletrônica, sempre nos bastidores e se adiantando ao futuro.

Concorreu ainda a excelência dos dispositivos de controle de emissões de gases venenosos e até daquele não-venenoso, mas considerado o grande vilão do clima: o dióxido de carbono, ou gás carbônico, aquele que colocamos para fora dos nossos pulmões. Ainda assim, religiosos fanáticos se manifestam contra as potências elevadas, como ocorreu recentemente nos Estados Unidos.

Por último, e nem por isso menos importante, o empenho das companhias de petróleo em oferecer combustíveis com conteúdo cada vez menor de enxofre, material que, ao retornar ao solo em forma de chuva ácida, afeta a saúde de seres vivos e corrói obras de arte. E não apenas lá fora: aqui mesmo a Petrobras colocou no mercado há seis meses uma surpreendente gasolina, a Podium, com a maior octanagem e o mais baixo teor de enxofre em todo o mundo.

Aos que fazem cara feia diante dessa corrida, vale lembrar que ele existe praticamente desde que o automóvel nasceu, no final do século 19. Ela está presente também em todas as formas de locomoção na terra, mar e ar. Não fosse essa mola impulsionadora de criatividade que existe nos corações e mentes de um certo grupo de engenheiros, verdadeiros gênios criadores, teríamos um mundo completamente diferente. Locomotivas e navios ainda queimariam o poluente carvão, e nos automóveis a mais curta viagem seria uma aventura.

O BCWS aplaude de pé esta formidável corrida e conclama seus leitores a fazer o mesmo.

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