"Você precisa controlar essa verborragia", advertia-me o
editor executivo de Autoesporte, nos tempos em que eu colaborava
com artigos técnicos e de serviço para a revista — o BCWS ainda
estava engatinhando.
A reclamação empregava um termo pouco adequado (verborragia é
"abundância de palavras, mas com poucas idéias", segundo o mestre
Aurélio), mas tinha sua razão de ser: tratava-se de uma publicação
impressa, com espaço contado e controlado. E lá ia a tesoura do editor
mutilando os textos, não raro removendo trechos importantes para sua
compreensão.
O fato é que meu hábito de elaborar artigos extensos, mesmo antes de
lançar nosso BCWS, já rendeu críticas ou foi visto com ceticismo
pelos colegas. Um amigo, dos mais conceituados jornalistas
automobilísticos brasileiros, escreveu-me algum tempo atrás: "Claro que,
na internet, você pode se esbaldar e ser minucioso, mas quem vai ler
tudo, da primeira à última linha? Muito poucos."
Pois bem. O texto farto que vem caracterizando o BCWS, em
oposição à tendência de revistas e sites de enxugar cada vez mais os
artigos (mesmo quando destinam espaço a futilidades do gênero "o Golf
agrada mais às garotas que o Stilo", como publicou a revista de maior
circulação do segmento), mais uma vez provou-se um sucesso na publicação
da história do Corvette, na edição passada do site. Os 50 anos foram
contados pelo colaborador Marcelo Ramos, com minha edição e a
participação de Bob Sharp, em 25 páginas, o maior artigo em quase
seis anos do BCWS.
No dia seguinte ao da estréia do artigo (27/6), consultei nossas
estatísticas de acesso para ver como os leitores haviam recebido a
suposta verborragia que os colegas desaconselhavam. De 1.371 acessos à
primeira página do Corvette, 1.184 (86%) passaram à segunda — uma queda
habitual, pois muita gente "dá uma olhadinha" em toda a nova edição
antes de retornar e se prender a um artigo.
O mais interessante foi acompanhar a seqüência de acessos: 1.079 à
terceira página, 1.023 à quarta, 989 à quinta... E assim foi até os 483
acessos (35% da primeira) à 25ª. e última página. Só que o texto
principal acabara já na 17ª., que teve 722 acessos — correspondentes a
52% da primeira ou 61% da segunda página.
Em síntese, mais da metade dos que se interessaram pelo artigo do
Corvette chegaram à última página do texto principal. Se leram "da
primeira à última linha", como disse o colega jornalista, não se pode
ter certeza — o que ainda é melhor que a situação das revistas
impressas, que nem a leitura de um artigo específico podem medir. Mas os
leitores não se dariam ao trabalho de abrir página por página se não
estivessem gostando do que viam e liam.
Verborragia? Não é o caso, como nos têm confirmado inúmeros leitores,
que destacam a forma como sintetizamos um grande volume de informações
nos vários artigos. O verdadeiro mal talvez esteja na "verbofobia", o
temor de desestimular o leitor ao lhe apresentar um conteúdo extenso — e
muitas vezes oco. Um mal que leva a nivelar por baixo, como se todos se
contentassem em conhecer apenas o básico sobre o que lêem.
Um mal ao qual a equipe BCWS é imune. Questão de DNA.
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P.S.:
Quando o recém-chegado colunista Luís Perez (que seja bem-vindo) e eu
definíamos o formato de Autogiro, cheguei a me impressionar com
sua sugestão de conteúdo, pois resultava em uma coluna bem mais
extensa que as de Bob Sharp, Luís Carlos P. Garcia e Luís Alberto
Pandini. Receio sem fundamento: o primeiro artigo foi ao ar como
previsto e fez enorme sucesso, como se pode atestar pelas mensagens do
Espaço do Leitor desta edição. |