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Verborragia ou verbofobia

Edição n°. 154 - 12 de julho de 2003

"Você precisa controlar essa verborragia", advertia-me o editor executivo de Autoesporte, nos tempos em que eu colaborava com artigos técnicos e de serviço para a revista — o BCWS ainda estava engatinhando.

A reclamação empregava um termo pouco adequado (verborragia é "abundância de palavras, mas com poucas idéias", segundo o mestre Aurélio), mas tinha sua razão de ser: tratava-se de uma publicação impressa, com espaço contado e controlado. E lá ia a tesoura do editor mutilando os textos, não raro removendo trechos importantes para sua compreensão.

O fato é que meu hábito de elaborar artigos extensos, mesmo antes de lançar nosso BCWS, já rendeu críticas ou foi visto com ceticismo pelos colegas. Um amigo, dos mais conceituados jornalistas automobilísticos brasileiros, escreveu-me algum tempo atrás: "Claro que, na internet, você pode se esbaldar e ser minucioso, mas quem vai ler tudo, da primeira à última linha? Muito poucos."

Pois bem. O texto farto que vem caracterizando o BCWS, em oposição à tendência de revistas e sites de enxugar cada vez mais os artigos (mesmo quando destinam espaço a futilidades do gênero "o Golf agrada mais às garotas que o Stilo", como publicou a revista de maior circulação do segmento), mais uma vez provou-se um sucesso na publicação da história do Corvette, na edição passada do site. Os 50 anos foram contados pelo colaborador Marcelo Ramos, com minha edição e a participação de Bob Sharp, em 25 páginas, o maior artigo em quase seis anos do BCWS.

No dia seguinte ao da estréia do artigo (27/6), consultei nossas estatísticas de acesso para ver como os leitores haviam recebido a suposta verborragia que os colegas desaconselhavam. De 1.371 acessos à primeira página do Corvette, 1.184 (86%) passaram à segunda — uma queda habitual, pois muita gente "dá uma olhadinha" em toda a nova edição antes de retornar e se prender a um artigo.

O mais interessante foi acompanhar a seqüência de acessos: 1.079 à terceira página, 1.023 à quarta, 989 à quinta... E assim foi até os 483 acessos (35% da primeira) à 25ª. e última página. Só que o texto principal acabara já na 17ª., que teve 722 acessos — correspondentes a 52% da primeira ou 61% da segunda página.

Em síntese, mais da metade dos que se interessaram pelo artigo do Corvette chegaram à última página do texto principal. Se leram "da primeira à última linha", como disse o colega jornalista, não se pode ter certeza — o que ainda é melhor que a situação das revistas impressas, que nem a leitura de um artigo específico podem medir. Mas os leitores não se dariam ao trabalho de abrir página por página se não estivessem gostando do que viam e liam.

Verborragia? Não é o caso, como nos têm confirmado inúmeros leitores, que destacam a forma como sintetizamos um grande volume de informações nos vários artigos. O verdadeiro mal talvez esteja na "verbofobia", o temor de desestimular o leitor ao lhe apresentar um conteúdo extenso — e muitas vezes oco. Um mal que leva a nivelar por baixo, como se todos se contentassem em conhecer apenas o básico sobre o que lêem.

Um mal ao qual a equipe BCWS é imune. Questão de DNA.


P.S.: Quando o recém-chegado colunista Luís Perez (que seja bem-vindo) e eu definíamos o formato de Autogiro, cheguei a me impressionar com sua sugestão de conteúdo, pois resultava em uma coluna bem mais extensa que as de Bob Sharp, Luís Carlos P. Garcia e Luís Alberto Pandini. Receio sem fundamento: o primeiro artigo foi ao ar como previsto e fez enorme sucesso, como se pode atestar pelas mensagens do Espaço do Leitor desta edição.

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