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Dava para desconfiar

Publicado em 20/11/99

A oferta de vantagens e concessões em âmbito estadual (isenção de IPVA e fornecimento de 1.000 litros grátis em São Paulo) e nacional, para os compradores de automóveis zero-quilômetro a álcool, dava mesmo para desconfiar.

Depois de uma década jogando no lixo uma tecnologia nacional, já bem desenvolvida à época e com importância cada vez mais estratégica à medida em que o petróleo escasseasse, ou na melhor hipótese ficasse muito caro, era difícil acreditar que governo e usineiros estivessem mesmo interessados em recuperar o tempo perdido e em resgatar o uso do combustível vegetal de forma séria e duradoura.

Alguns consumidores correram às concessionárias, outros -- mais cautelosos ou apenas à espera do lançamento de seu modelo predileto a álcool -- preferiram aguardar. Todos viram o resultado,bem mais cedo do que se imaginava: conduzido por interesses dos usineiros, o preço do álcool subiu vertiginosamente nas últimas semanas e, embora acabe por empurrar também o preço da gasolina (que leva 24% de álcool), tornou bem menos interessante o custo por quilômetro rodado, antes tão favorável ao combustível verde-e-amarelo.

Semanas atrás, na edição de 9 de outubro, o Best Cars já antecipava em artigo a respeito (leia) o que poderia ocorrer: "A médio prazo, porém, aumento substancial do consumo e interesses políticos podem elevar o preço do combustível, hipótese considerável num país de economia instável como o nosso." Infelizmente, nem todos puderam nos ouvir e muitos podem não ter considerado essa possibilidade, elevando rapidamente a procura pelos carros a álcool no mercado. Conversões de motores vinham sendo o tema mais questionado pelos leitores do site.

Neste momento, comerciantes já estimam em 20% a depreciação média de um usado quando movido a esse combustível. Estão cautelosos na compra, assim como quem adquire um zero-quilômetro. Conforme o andamento da situação, proprietários podem se ver em dificuldades ainda maiores. Isso se não houver nova falta de álcool nos postos, como bem lembra quem passou por isso no final da década passada.

Uma tecnologia nacional, pioneira e viável, vai sendo mais uma vez desperdiçada, vítima de interesses condenáveis. Fica aqui registrado nosso protesto.
 


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