Por volta de um ano atrás, muito se falou na possibilidade de liberação
da venda de automóveis movidos a diesel no Brasil. Os mais eufóricos
chegaram a avaliar alguns dos muitos modelos produzidos aqui — o que não
é de hoje — apenas para exportação, como acontece com quase todo modelo
que almeje um mercado europeu ou sul-americano.
Isso porque apenas nos Estados Unidos, praticamente, o diesel ainda
responde por parcela ínfima do mercado. Na Europa, sua participação
entre os automóveis supera a da gasolina na França, Espanha, Áustria,
Bélgica e Luxemburgo, estando perto do equilíbrio na Itália. Quem já
viajou para países vizinhos, como Argentina e Uruguai, também pôde notar
a freqüência com que se vêem carros alimentados pelo óleo — não raro
brasileiros.
Por aqui, continuamos com três opções de combustível (gasolina, álcool e
gás natural), já temos motores flexíveis,
mas nada de carros a diesel. Por que mais esta peculiaridade brasileira?
Há uma razão técnica e uma econômica. A técnica é o alto teor de enxofre
do diesel refinado no País, que o torna inadequado aos modernos motores
de automóveis. Não é incontornável, porém: uma indústria que adapta
carros a gasolina para consumir até 26% de álcool (oficiais — deixemos
de lado os "rabos de galo" e os postos inescrupulosos) pode, sem dúvida,
adequar motores a um diesel com mais enxofre, como já é feito com
utilitários e caminhões. Ou, por outro lado, que se invista na melhoria
do combustível, o que também não é difícil para uma Petrobras que produz
a excelente gasolina Podium, com 102 octanas e
baixo teor de enxofre.
O maior obstáculo está no motivo econômico. Dizia-se que o diesel era
fortemente subsidiado, para conter os custos do transporte de carga,
sendo a gasolina onerada para compensar o subsídio. Não é mais, mas pela
diferença de preços entre esses combustíveis — bem maior que em outros
países — percebe-se que o motorista de automóveis ainda paga mais
impostos para que o diesel custe menos. E que possa sair mais barato
rodar com caminhões, ônibus e... os utilitários esporte de luxo, que têm
o direito de usá-los por uma brecha da lei.
Como resolver a questão? É um processo trabalhoso, que envolve o uso de
transportes alternativos — por via férrea, fluvial etc. — para reduzir o
consumo de diesel pelos caminhões. Mas, dentro da atual legislação, é
flagrante o absurdo de que carros de luxo travestidos de jipes e picapes
possam usar diesel, enquanto os donos de automóveis, não.
Ocorre que a lei permite motor a diesel em picapes, bastando que tenham
capacidade de carga acima de 1.000 kg, e nos assim chamados jipes,
utilitários com tração integral e reduzida. Isso inclui veículos como
Grand Cherokee, Pajero Full e Land Cruiser Prado, que custam mais de R$
150 mil. Faz sentido que seus usuários usem um combustível com menor
tributação, às custas do pobre motorista de carro 1,0-litro?
Seria oportuno rever esta questão, limitando o uso do combustível a
veículos realmente utilitários, como os furgões de passageiros (vans) e
os classificados como caminhões leves, com peso bruto total acima de 3,5
toneladas.
Se é proibido, que seja para todos.
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