Estive esta semana no
lançamento de um carro, digamos, diferente: o CrossFox. Apresentado pela
Volkswagen como "o primeiro utilitário esporte compacto", não deixa de
ser uma meia-solução para que a empresa pudesse concorrer, de alguma
forma, com o Ford EcoSport. Na falta de um modelo legítimo nesta
categoria — o que a VW não tem nem mesmo na Europa —, até que o carro
pequeno convertido para um jeito fora-de-estrada convence, ao menos na
aparência.
Veículos como ele, que fogem às categorias usuais, costumam dar trabalho
aos departamentos de marketing. Neste caso, a estratégia da VW
foi apresentar à imprensa dados, obtidos em pesquisas com potenciais
compradores, que apontam o EcoSport como um direto concorrente do
CrossFox — por mais estranho que isso possa parecer ao leitor do BCWS.
A argumentação da empresa incluiu, veja só, uma analogia com a indústria
de chocolates. A idéia era explicar que o consumidor não conhece a
divisão em categorias que uma Nestlé ou Garoto, por exemplo, adota
internamente para esse tipo de produto. E que o mesmo raciocínio
serviria para quem compra automóvel: para esse público, o fato de o
CrossFox não ser um utilitário esporte verdadeiro seria irrelevante para
que fosse considerado uma alternativa ao EcoSport.
Não foi a primeira vez em que a imprensa viu esse tipo de mistura de
categorias. A Citroën é pródiga nessa tarefa, tendo mostrado seu C3 como
concorrente de carros tão opostos quanto EcoSport e Meriva. Há alguns
anos a Mercedes-Benz, ao falar em vendas, costumava comparar seu Classe
A ao Vectra e outros sedãs médios, já que era essa sua faixa de preço na
época. E a GM, quando lançou a Meriva, incluiu a Xsara Picasso — bem
maior e mais cara — em seu leque de competidores.
O CrossFox, no entanto, marca a primeira vez em que um fabricante
declara abertamente à imprensa que o consumidor médio não entende nada
de automóvel — não com estas palavras, claro. E para o BCWS isso
é um problema.
Desde que iniciamos este site, há sete anos e meio, insistimos em
critérios coerentes para enquadrar os carros em segmentos. Apontamos
distorções, como o de sedãs médio-pequenos (da classe do Astra) que se
pretendiam concorrentes do Vectra (um médio-grande). Evidenciamos que
apenas preço não é suficiente para definir categoria. Expusemos os
"quatro Ps" considerados em nossa seleção para comparativos: proposta,
porte, potência e preço. Fizemos questão de informar, em alguns
confrontos, que modelos de categorias diferentes estavam em análise
juntos por determinada razão especial.
É um trabalho extenso, demorado, mas que rende resultados. Mensagens de
muitos leitores deixam claro que eles absorvem, aqui, noções corretas de
categorias — não raro, desfazendo equívocos passados por publicações que
parecem não saber o que fazem. Estou certo de que usam esse conhecimento
para escolher melhor na hora da compra. E, se escolhem melhor, nossa
missão é cumprida.
Para quem, como o BCWS, vê a grande importância desse critério,
fica uma insatisfação quando um fabricante endossa a confusão que
existe na mente de alguns consumidores. É verdade que pouca gente se
interessa pelas categorias das fábricas de chocolates. Mas errar nesse
tipo de compra significa gastar, quando muito, a milésima parte do que
custa um automóvel. |