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Uma aposta na confusão

Para justificar uma novidade de difícil enquadramento, o
fabricante apela ao desconhecimento de muitos consumidores

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorEstive esta semana no lançamento de um carro, digamos, diferente: o CrossFox. Apresentado pela Volkswagen como "o primeiro utilitário esporte compacto", não deixa de ser uma meia-solução para que a empresa pudesse concorrer, de alguma forma, com o Ford EcoSport. Na falta de um modelo legítimo nesta categoria — o que a VW não tem nem mesmo na Europa —, até que o carro pequeno convertido para um jeito fora-de-estrada convence, ao menos na aparência.

Veículos como ele, que fogem às categorias usuais, costumam dar trabalho aos departamentos de marketing. Neste caso, a estratégia da VW foi apresentar à imprensa dados, obtidos em pesquisas com potenciais compradores, que apontam o EcoSport como um direto concorrente do CrossFox — por mais estranho que isso possa parecer ao leitor do BCWS.

A argumentação da empresa incluiu, veja só, uma analogia com a indústria de chocolates. A idéia era explicar que o consumidor não conhece a divisão em categorias que uma Nestlé ou Garoto, por exemplo, adota internamente para esse tipo de produto. E que o mesmo raciocínio serviria para quem compra automóvel: para esse público, o fato de o CrossFox não ser um utilitário esporte verdadeiro seria irrelevante para que fosse considerado uma alternativa ao EcoSport.

Não foi a primeira vez em que a imprensa viu esse tipo de mistura de categorias. A Citroën é pródiga nessa tarefa, tendo mostrado seu C3 como concorrente de carros tão opostos quanto EcoSport e Meriva. Há alguns anos a Mercedes-Benz, ao falar em vendas, costumava comparar seu Classe A ao Vectra e outros sedãs médios, já que era essa sua faixa de preço na época. E a GM, quando lançou a Meriva, incluiu a Xsara Picasso — bem maior e mais cara — em seu leque de competidores.

O CrossFox, no entanto, marca a primeira vez em que um fabricante declara abertamente à imprensa que o consumidor médio não entende nada de automóvel — não com estas palavras, claro. E para o BCWS isso é um problema.

Desde que iniciamos este site, há sete anos e meio, insistimos em critérios coerentes para enquadrar os carros em segmentos. Apontamos distorções, como o de sedãs médio-pequenos (da classe do Astra) que se pretendiam concorrentes do Vectra (um médio-grande). Evidenciamos que apenas preço não é suficiente para definir categoria. Expusemos os "quatro Ps" considerados em nossa seleção para comparativos: proposta, porte, potência e preço. Fizemos questão de informar, em alguns confrontos, que modelos de categorias diferentes estavam em análise juntos por determinada razão especial.

É um trabalho extenso, demorado, mas que rende resultados. Mensagens de muitos leitores deixam claro que eles absorvem, aqui, noções corretas de categorias — não raro, desfazendo equívocos passados por publicações que parecem não saber o que fazem. Estou certo de que usam esse conhecimento para escolher melhor na hora da compra. E, se escolhem melhor, nossa missão é cumprida.

Para quem, como o BCWS, vê a grande importância desse critério, fica uma insatisfação quando um fabricante endossa a confusão que existe na mente de alguns consumidores. É verdade que pouca gente se interessa pelas categorias das fábricas de chocolates. Mas errar nesse tipo de compra significa gastar, quando muito, a milésima parte do que custa um automóvel.

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Data de publicação: 2/4/05

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