Encontrar o caminho

Da variedade de cilindradas, o mercado nacional tem passado a
uma uniformização, mas não para os inadequados 1.000 cm³

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorQuem acompanhou nosso mercado nas décadas de 1960 e 1970 lembra-se bem da diversidade de cilindradas dos motores de carros nacionais. Entre os 850 cm³ do Renault Dauphine/Gordini e os 5,2 litros dos Dodges V8, tínhamos modelos 1,2 a 1,6 como o Fusca, 2,5 a 4,1 como o Opala e 4,5 a 4,95 como a linha Galaxie/Landau. Não havia diferenças de tributação entre as várias classes de cilindrada e, por muito tempo, o preço do combustível não preocupava os donos de carros de motores maiores.

Com as crises do petróleo, de 1973 e 1979, e as sucessivas recessões econômicas dos anos 80 para cá, perdemos os motores maiores. Os 4,1 litros do Opala, depois adotados pelo Omega, tornaram-se nossa maior cilindrada desde o fim dos V8 da Chrysler e da Ford, ainda no início daquela década. Em 1990 veio o incentivo fiscal aos motores de até 1.000 cm³, com menor alíquota de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), e o que aconteceu depois todos sabemos: eles se tornaram o padrão do carro brasileiro, dominando até 71,1% do mercado, como ocorreu no acumulado de 2001.

Com o encerramento da produção do Omega, em 1998, foi-se nosso último automóvel de seis cilindros (a não ser pela série reduzidíssima do Golf VR6 em 2003) e tornamo-nos produtores de carros com motores pequenos. Hoje o maior é o 2,45-litros do Marea, seguido pelo 2,2 do Vectra, ambos quase fora do mercado. As faixas de tributação do IPI têm influência direta nisso, pois modelos com mais de 2.000 cm³ pagam muito mais imposto que os de motores menores. De outro lado, os 1.000 têm perdido mercado: representaram 57,3% dos carros vendidos no ano passado e 55,2% em abril último. Uma participação ainda expressiva, mas em clara trajetória descendente.

O que se nota hoje é uma tendência à padronização das cilindradas. O segmento de 1,4 litro, que havia desaparecido nos anos 80 (depois de contar com Chevette e Corcel) e na década seguinte contou apenas com versões de vida curta do Corsa e do Fiesta, ressurgiu em 2003 com 206, Fit, C3 e Celta. Agora a Fiat adota o mesmo padrão, no lugar de seu exclusivo 1,25, e em breve haverá a Volkswagen. Enquanto isso, o motor de 1,0 litro é progressivamente abandonado: já não equipa as peruas Parati e Palio Weekend, perdeu versões de 16 válvulas — a do Gol deixou o mercado recentemente —, o motor turbo da VW e, ao que tudo indica, será extinto da linha 206 no ano que vem.

Crescem os pequenos, diminuem os grandes. Carros de maior porte têm sido oferecidos com motores de menor cilindrada, como os 1,6 já usados em Scénic, Focus, Corolla e agora na Xsara Picasso; o próximo será o Marea. Contribui, claro, a constante evolução que vem tornando esses propulsores adequados a modelos mais pesados, com potência já superando 110 cv.

Embora a indústria faça silêncio a respeito, fica a impressão de haver um esforço conjunto dos fabricantes para que a barreira dos 1.000 cm³ — o limite para a menor alíquota de IPI — seja movida um pouco mais para cima, até 1.400. É o que o BCWS entende que deveria ter sido feito desde o início, há 15 anos, pois 1,0 litro sempre foi muito pouco para nossos padrões de uso. O mercado, ainda que tenha demorado, prova que está encontrando seu caminho.

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Data de publicação: 28/5/05

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