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Escrever certo agora é mérito

Como um político honesto, a assessoria de imprensa
que não comete erros ao informar passa a merecer elogios

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorNo início da semana estávamos, eu e o colunista Bob Sharp, juntos no evento de lançamento da Fiat Idea. Folheávamos o material distribuído à imprensa quando ele, apontando para a ficha técnica, disse: "Olhe que bonito". Referia-se a uma bem-feita descrição da suspensão, com termos corretos e até uma linha em separado para o elemento elástico (no caso, molas helicoidais em ambos os eixos, mas há modelos nacionais com barras de torção, molas semi-elíticas e parabólicas).

É curioso, mas uma ficha técnica de boa qualidade como a produzida pela Fiat tornou-se, neste Brasil, algo como a honestidade na classe política: o que deveria ser obrigatório acaba, por sua raridade, sendo destacado como um mérito especial. Para dificuldade dos jornalistas — pois nem todos têm conhecimento técnico suficiente — e prejuízo de seus leitores, são comuns hoje as informações à imprensa com termos mal empregados e que, não raro, geram confusão.

Não é preciso sair do assunto suspensão para encontrar bons exemplos. Quando lançou o Celta 1,4-litro, a General Motors informou que havia "barras de torção" em ambos os eixos. O BCWS, habituado ao uso (inadequado) desse termo pela empresa ao se referir a barras estabilizadoras, acabou por publicar que a versão 1,4 havia recebido o segundo tipo, já que o primeiro (barras de torção) é incompatível com as molas helicoidais, que o Celta tinha e manteve. Dias depois, uma inspeção no carro comprovou: nada de estabilizadores. A "barra de torção" na traseira era na verdade o eixo de torção, que o carro sempre teve. E no eixo dianteiro? Bem, até hoje não se sabe o que era a barra que a GM enxergou.

A confusão entre barra e eixo de torção também aconteceu com a Honda, logo no lançamento do Fit, o que justificou um boxe em nossa avaliação para explicar a diferença. Já a Volkswagen, talvez buscando uma imagem sofisticada para seu eixo de torção — um conceito simples, mas que não deveria envergonhar ninguém —, costumava falar em sistema "interdependente". Tradução: uma roda depende em parte da outra do mesmo eixo traseiro; logo, não é uma suspensão independente, ainda que o termo faça parecer.

O problema, contudo, não acontece só com setores de compreensão mais difícil pelos menos versados em mecânica. No material do novo Passat lia-se "faróis dianteiros e traseiros", uma falha inaceitável. No do Peugeot 206, linha 2006, relaciona-se um melhor controle em pisos irregulares à suspensão elevada, como se houvesse alguma relação entre os fatos. Algumas marcas endossam o inadequado "piloto automático" ao se referir ao controlador de velocidade. E a GM saiu-se com esta pérola no texto da Zafira 2006: "a proteção negra em volta do modelo faz com que a altura de 1.687 milímetros pareça mais baixa e longa". Acredite.

Seria outra grande contribuição para o consumidor se as assessorias reduzissem o uso desnecessário de inglês. Não é preciso escrever neutral control em vez de controle de ponto-morto, CD player em vez de toca-CDs, double wishbone em vez de braços sobrepostos e, claro, airbag em vez de bolsa inflável. Mas o que dói, mesmo, é ler brake-light em vez de luz suplementar de freio (inclusive no material da Idea), pois o termo inglês significa apenas "luz de freio", suplementar ou não. E só caiu no uso comum, aqui, porque era a marca comercial de um fabricante do equipamento, a exemplo de insulfilme, gilete e jipe.

Não se trata de desmerecer o bom trabalho da maior parte das assessorias de imprensa. Mas, certamente, um pouco mais de cuidado ao escrever seria um grande serviço ao trabalho dos jornalistas e à informação correta do consumidor, que é o objetivo final de todos.

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Data de publicação: 3/9/05

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