No início da semana
estávamos, eu e o colunista Bob Sharp, juntos no evento de lançamento
da Fiat Idea. Folheávamos o material distribuído à imprensa quando
ele, apontando para a ficha técnica, disse: "Olhe que bonito".
Referia-se a uma bem-feita descrição da suspensão, com termos corretos
e até uma linha em separado para o elemento elástico (no caso, molas
helicoidais em ambos os eixos, mas há modelos nacionais com barras de
torção, molas semi-elíticas e parabólicas).
É curioso, mas uma ficha técnica de boa qualidade como a produzida
pela Fiat tornou-se, neste Brasil, algo como a honestidade na classe
política: o que deveria ser obrigatório acaba, por sua raridade, sendo
destacado como um mérito especial. Para dificuldade dos jornalistas —
pois nem todos têm conhecimento técnico suficiente — e prejuízo de
seus leitores, são comuns hoje as informações à imprensa com termos
mal empregados e que, não raro, geram confusão.
Não é preciso sair do assunto suspensão para encontrar bons exemplos.
Quando lançou o Celta 1,4-litro, a General Motors informou que havia
"barras de torção" em ambos os eixos. O BCWS, habituado ao uso
(inadequado) desse termo pela empresa ao se referir a barras
estabilizadoras, acabou por publicar que a versão 1,4 havia recebido o
segundo tipo, já que o primeiro (barras de torção) é incompatível com
as molas helicoidais, que o Celta tinha e manteve. Dias depois, uma
inspeção no carro comprovou: nada de estabilizadores. A "barra de
torção" na traseira era na verdade o eixo de torção, que o carro
sempre teve. E no eixo dianteiro? Bem, até hoje não se sabe o que era
a barra que a GM enxergou.
A confusão entre barra e eixo de torção também aconteceu com a Honda,
logo no lançamento do Fit, o que justificou um boxe em nossa
avaliação para explicar a
diferença. Já a Volkswagen, talvez buscando uma imagem sofisticada
para seu eixo de torção — um conceito simples, mas que não deveria
envergonhar ninguém —, costumava falar em sistema "interdependente".
Tradução: uma roda depende em parte da outra do mesmo eixo traseiro;
logo, não é uma suspensão independente, ainda que o termo faça
parecer.
O problema, contudo, não acontece só com setores de compreensão mais
difícil pelos menos versados em mecânica. No material do novo Passat
lia-se "faróis dianteiros e traseiros", uma falha inaceitável. No do
Peugeot 206, linha 2006, relaciona-se um melhor controle em pisos
irregulares à suspensão elevada, como se houvesse alguma relação entre
os fatos. Algumas marcas endossam o inadequado "piloto automático" ao
se referir ao controlador de velocidade.
E a GM saiu-se com esta pérola no texto da Zafira 2006: "a proteção
negra em volta do modelo faz com que a altura de 1.687 milímetros
pareça mais baixa e longa". Acredite.
Seria outra grande contribuição para o consumidor se as assessorias
reduzissem o uso desnecessário de inglês. Não é preciso escrever
neutral control em vez de controle de ponto-morto, CD player
em vez de toca-CDs, double wishbone em vez de braços
sobrepostos e, claro, airbag em vez de bolsa inflável. Mas o
que dói, mesmo, é ler brake-light em vez de luz suplementar de
freio (inclusive no material da Idea), pois o termo inglês significa
apenas "luz de freio", suplementar ou não. E só caiu no uso comum,
aqui, porque era a marca comercial de um fabricante do equipamento, a
exemplo de insulfilme, gilete e jipe.
Não se trata de desmerecer o bom trabalho da maior parte das
assessorias de imprensa. Mas, certamente, um pouco mais de cuidado ao
escrever seria um grande serviço ao trabalho dos jornalistas e à
informação correta do consumidor, que é o objetivo final de todos. |