Curiosidades da Itália

Das ruas apertadas à escassez de sedãs, as impressões
de quem esteve pela primeira vez naquele belo país

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorViagens ao exterior em geral, e ao dito Primeiro Mundo em particular, são boas oportunidades de registrar curiosidades e obter impressões sobre o mundo que envolve o automóvel. Durante a semana passada, do dia 4 ao 9, estive na Itália a convite da Fiat brasileira para visitar o Salão de Bolonha, a Galleria Ferrari em Modena e o Museo Dell'Automobile em Turim, entre outras agradáveis atividades. E decidi compartilhar com o leitor um pouco do que vi por lá — não nos locais citados, o que o Best Cars mostrará em artigos dedicados, mas sim nas ruas.

Minha primeira surpresa, logo diante do aeroporto de Bolonha, foi a ausência de sedãs entre os táxis, o que se repetiria — exceto por um, e só um, Citroën C5 — por todo o período da viagem. Os motoristas "de praça" italianos usam muitas peruas, minivans e alguns furgões (como Fiat Doblò). À medida em que circulava pelas cidades, percebi que não só eles: os carros particulares também são, em sua maioria, dessas categorias ou então hatches. Quando se vê um sedã três-volumes é quase sempre um modelo de luxo, como Alfa Romeo, Audi, BMW ou Mercedes-Benz. Uma particularidade local, ao que parece, pois em países como Alemanha e França os sedãs são comuns a partir do segmento médio.

Outra opção que os italianos apreciam — sem trocadilhos — em massa são motores a diesel, que já respondem pela maior parcela das vendas de automóveis. Algo que se percebe com clareza nas ruas, mas não pela emissão de fumaça negra, que não existe: apenas pelos logotipos indicativos (TDi, HDi, MultiJet e outros) e, em certas condições, pelo ruído característico do motor. Confesso que me surpreendi quando caminhava por uma rua de Modena e ouvi a aproximação de um som que parecia o de um utilitário esporte moderno, só que mais baixo. Era um cupê Alfa Romeo GT!

É fácil entender a razão dessa escolha: a gasolina custa caro por lá, cerca de 1,20 euro (R$ 3,40), enquanto o diesel fica pouco abaixo (em torno de 1,15 euro/R$ 3,25) e rende muito mais quilômetros por litro. Também tem ampla aceitação na Itália o gás liquefeito de petróleo (GLP), o mesmo vendido aqui em botijões para cozinha, diferente de nosso GNV. Álcool? Nada por enquanto, mas no Salão de Bolonha várias marcas mostraram protótipos com motor capaz de rodar com 85% de etanol (E85).

Pelo que sempre ouvi de visitantes freqüentes à Europa, esperava encontrar na Itália um vasto leque de cores nos automóveis. Engano: se há uma pequena parcela de carros em tons alegres de verde, azul ou vermelho, a maioria recai em prata, cinza e preto — além de tons sóbrios de azul — já tão manjados por aqui. De fato, uma revista italiana comenta que o mercado passa pela mesma triste situação do nosso: a massificação de cores em nome do valor de revenda, em paralelo à oferta restrita por parte das concessionárias, às quais interessa esse quadro por diminuir estoques.

Da mesma forma, notei poucos automóveis com teto solar (não era difícil identificá-los por andarmos bastante de microônibus), ao contrário do que havia observado há nove anos em visita à Alemanha. Talvez os italianos tenham mais dias de sol que os germânicos e por isso não façam questão de curti-lo ao volante. No setor de duas rodas, o que se vêem aos milhares por lá são motonetas. Algumas grandes, a maioria de pequena cilindrada, quase todas com um pára-brisa aplicado como acessório — e não poderia ser diferente para encarar o inverno local. Já motocicletas são raras.

A idade média da frota é típica de país desenvolvido, com poucos carros velhos nas ruas, mesmo assim em bom estado. Efeito, sem dúvida, de três medidas: inspeções de segurança e emissões poluentes, imposto de circulação que aumenta com a idade do carro — em vez de diminuir como nosso IPVA — e dois programas de renovação, em que o governo deu bônus a quem trocasse seu carro velho por um novo. E mais um desses programas está a caminho, eu soube.

Além dos veículos, impressiona na Itália o padrão das ruas e estradas, com pavimentação e sinalização de primeira linha. O trânsito urbano é civilizado, com os veículos em velocidade homogênea e a sensação de que as normas são respeitadas por todos. O mesmo se nota nas auto-estradas, onde nosso microônibus era ultrapassado por carros que, de imediato, voltavam à faixa da direita. Em várias horas de observação, não vi um motorista sequer cometer uma imprudência ou infração, o que seria difícil em qualquer cidade brasileira.

E, nas apertadíssimas ruas de construção antiga de Bolonha, chama atenção o modo como os carros são estacionados em paralelo ao meio-fio: o espaço entre eles é bem menor do que se costuma ver por aqui. Não preciso dizer que ninguém por lá usa engate para "colocar respeito" na traseira — e nem por isso os carros dos italianos em geral estão com os pára-choques danificados...

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Data de publicação: 16/12/06

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