Viagens ao exterior em
geral, e ao dito Primeiro Mundo em particular, são boas oportunidades
de registrar curiosidades e obter impressões sobre o mundo que envolve
o automóvel. Durante a semana passada, do dia 4 ao 9, estive na Itália
a convite da Fiat brasileira para visitar o
Salão de Bolonha, a Galleria
Ferrari em Modena e o Museo Dell'Automobile em Turim, entre outras
agradáveis atividades. E decidi compartilhar com o leitor um pouco do
que vi por lá — não nos locais citados, o que o Best Cars
mostrará em artigos dedicados, mas sim nas ruas.
Minha primeira surpresa, logo diante do aeroporto de Bolonha, foi a
ausência de sedãs entre os táxis, o que se repetiria — exceto por um,
e só um, Citroën C5 — por todo o período da viagem. Os motoristas "de
praça" italianos usam muitas peruas, minivans e alguns furgões (como
Fiat Doblò). À medida em que circulava pelas cidades, percebi que não
só eles: os carros particulares também são, em sua maioria, dessas
categorias ou então hatches. Quando se vê um sedã três-volumes é quase
sempre um modelo de luxo, como Alfa Romeo, Audi, BMW ou Mercedes-Benz.
Uma particularidade local, ao que parece, pois em países como Alemanha
e França os sedãs são comuns a partir do segmento médio.
Outra opção que os italianos apreciam — sem trocadilhos — em massa são
motores a diesel, que já respondem pela maior parcela das vendas de
automóveis. Algo que se percebe com clareza nas ruas, mas não pela
emissão de fumaça negra, que não existe: apenas pelos logotipos
indicativos (TDi, HDi, MultiJet e outros) e, em certas condições, pelo
ruído característico do motor. Confesso que me surpreendi quando
caminhava por uma rua de Modena e ouvi a aproximação de um som que
parecia o de um utilitário esporte moderno, só que mais baixo. Era um
cupê Alfa Romeo GT!
É fácil entender a razão dessa escolha: a gasolina custa caro por lá,
cerca de 1,20 euro (R$ 3,40), enquanto o diesel fica pouco abaixo (em
torno de 1,15 euro/R$ 3,25) e rende muito mais quilômetros por litro.
Também tem ampla aceitação na Itália o gás liquefeito de petróleo (GLP),
o mesmo vendido aqui em botijões para cozinha, diferente de nosso GNV.
Álcool? Nada por enquanto, mas no Salão de Bolonha várias marcas
mostraram protótipos com motor capaz de rodar com 85% de etanol (E85).
Pelo que sempre ouvi de visitantes freqüentes à Europa, esperava
encontrar na Itália um vasto leque de cores nos automóveis. Engano: se
há uma pequena parcela de carros em tons alegres de verde, azul ou
vermelho, a maioria recai em prata, cinza e preto — além de tons
sóbrios de azul — já tão manjados por aqui. De fato, uma revista
italiana comenta que o mercado passa pela mesma triste situação do
nosso: a massificação de cores em nome do valor de revenda, em
paralelo à oferta restrita por parte das concessionárias, às quais
interessa esse quadro por diminuir estoques.
Da mesma forma, notei poucos automóveis com teto solar (não era
difícil identificá-los por andarmos bastante de microônibus), ao
contrário do que havia observado há nove anos em visita à Alemanha.
Talvez os italianos tenham mais dias de sol que os germânicos e por
isso não façam questão de curti-lo ao volante. No setor de duas rodas,
o que se vêem aos milhares por lá são motonetas. Algumas grandes, a
maioria de pequena cilindrada, quase todas com um pára-brisa aplicado
como acessório — e não poderia ser diferente para encarar o inverno
local. Já motocicletas são raras.
A idade média da frota é típica de país desenvolvido, com poucos
carros velhos nas ruas, mesmo assim em bom estado. Efeito, sem dúvida,
de três medidas: inspeções de segurança e emissões poluentes, imposto
de circulação que aumenta com a idade do carro — em vez de diminuir
como nosso IPVA — e dois programas de renovação, em que o governo deu
bônus a quem trocasse seu carro velho por um novo. E mais um desses
programas está a caminho, eu soube.
Além dos veículos, impressiona na Itália o padrão das ruas e estradas,
com pavimentação e sinalização de primeira linha. O trânsito urbano é
civilizado, com os veículos em velocidade homogênea e a sensação de
que as normas são respeitadas por todos. O mesmo se nota nas
auto-estradas, onde nosso microônibus era ultrapassado por carros que,
de imediato, voltavam à faixa da direita. Em várias horas de
observação, não vi um motorista sequer cometer uma imprudência ou
infração, o que seria difícil em qualquer cidade brasileira.
E, nas apertadíssimas ruas de construção antiga de Bolonha, chama
atenção o modo como os carros são estacionados em paralelo ao
meio-fio: o espaço entre eles é bem menor do que se costuma ver por
aqui. Não preciso dizer que ninguém por lá usa engate para "colocar
respeito" na traseira — e nem por isso os carros dos italianos em
geral estão com os pára-choques danificados... |