Impressões mexicanas

Viagem ao país mostra curiosidades aos brasileiros, como
carros com outros nomes — e muito mais baratos

por Fabrício Samahá

Como sabem os que leram nossa avaliação do Chevrolet Captiva Sport, na semana passada a General Motors levou parte da imprensa especializada à bela região de Los Cabos, na Baja California Sur, no México. E, como sabem os que lêem esta coluna há mais tempo, gosto de aproveitar viagens a outros países para observar o trânsito e os automóveis — o que fiz mais uma vez, tanto naqueles três dias em San Jose del Cabo quanto no pouco tempo que fiquei na capital, Cidade do México.

Los Cabos é uma região de turismo para americanos afortunados e, como tal, não poderia deixar de ter muitos utilitários esporte e picapes. Eles são maioria em seu trânsito, não raro identificados com adesivos de locadoras, sinal de que muitos clientes os alugam ao chegar de avião. Há também os que levam a casa nas costas, os chamados motorhomes, meio picape e meio trailer. Até nas concessionárias (vi cerca de 10, boa parte com o mesmo nome, Los Cabos) os pesados têm presença maciça. Na da Cadillac, por exemplo, havia diversos utilitários Escalade em exibição na área externa, mas nenhum sedã CTS. E sim, vêem-se regularmente Hummers por lá — mas não achei o "original" H1, só seus "filhotes" H2 e H3.

Chama a atenção em San Jose a qualidade impecável do asfalto, que surpreende diante das severas condições climáticas — calor de quase 40°C a esta época do ano, escassa vegetação. O trânsito das vias expressas por onde passamos não era muito diferente do que temos aqui embaixo do Equador: nervoso, desorganizado, com alguns veículos lentos à esquerda e outros passando rápido pela direita. Só que todo mundo anda a bem mais que os 60 a 80 km/h indicados como velocidade máxima, sinal de que fiscalização não é muito comum naquela região mexicana.

Para os brasileiros, a "fauna" de automóveis do México é curiosa. Há carros americanos que não temos, como o Dodge Charger — que empresta seu ar ameaçador à Polícia Federal — e os grandes furgões da General Motors e da Ford, bastante usados como táxis. Interessante é que estes, assim como os amplos sedãs tipo Ford Crown Victoria usados em táxis de alto padrão, têm grandes motores V8 a gasolina e câmbio automático. Nada de gás natural, como aqui, ou de diesel como em quase todo o mundo. Para quê? A gasolina lá é mais barata até que nos Estados Unidos, cerca de R$ 1 o litro.

Pelo mesmo motivo, e também pela altitude expressiva da capital (média de 2.400 metros, o que representa perda de potência estimada de 24% em relação ao nível do mar), motores de pequena cilindrada não têm vez por lá. Nossos Gol e Palio, por exemplo, são vendidos apenas em versões de 1,8 litro. Outro fato chama atenção: a multiplicidade de cores, como há muito tempo não se vê por aqui. O branco é o mais comum, explicável pelo intenso calor, enquanto preto e prata parecem não superar 10% da frota circulante cada um. O restante é uma paleta de cores com azul, verde, vinho e até amarelo, bem mais agradável aos olhos que os monótonos tons cinzentos do cenário brasileiro em geral e paulista em particular.

Fabrício Samahá, editor

Nomes trocados
Vêem-se nas ruas muitos modelos conhecidos nossos, de marcas do mundo todo. E até carros nacionais exportados para lá, como "novo" Corsa, Meriva, Montana, Palio, Siena, Strada, Idea e Palio Weekend (ambas só na versão Adventure), Ka (ainda o antigo), Fiesta sedã, EcoSport, Courier, Logan, Gol, Saveiro, Fox e SpaceFox. Boa parte deles tem o nome alterado: de Montana para Tornado, de Logan para Nissan Aprio (o Clio sedã é Nissan Platina, aparentemente porque a marca japonesa tem imagem mais sólida no México), de Gol para Pointer, de Saveiro para Pointer Pickup, de Fox para Lupo (o CrossFox não muda) e de SpaceFox para Spacevan.

Ainda mais curioso é ver o Bora com logotipo Jetta e o Jetta com logotipo Bora. A razão é que a Volkswagen sempre usou o nome Jetta no México e nos EUA, enquanto exportava o sedã ao Brasil com o nome do mercado europeu, Bora. Quando saiu a nova geração, os americanos continuaram a chamá-la de Jetta, mas os mexicanos ficaram com as duas em produção. A solução foi denominar o novo carro de Bora, caso talvez único no mundo. Nossa Jetta Variant o acompanha como Bora Sportwagen.

Gerações que convivem lado a lado são comuns no México. Eles já podem comprar em versões de topo os Peugeots 207 — o legítimo francês, não o me-engana-que-eu-gosto daqui — e 308, o novo Clio europeu e o Golf GTI, mas ainda têm os modelos antigos (206 e 307 no caso da Peugeot). O antigo Polo Classic permanece vivo como Derby, o Fiesta sedã anterior ainda existe como Ikon e, na linha Chevrolet, o veterano Corsa — nosso Classic, mas também como hatch — resiste com o nome Chevy C2 e duas reestilizações de gosto discutível, uma bem recente. O caso mais extremo é o da Nissan: junto do atual Sentra, ainda produz o de duas gerações atrás, chamado Tsuru e visto em grande quantidade nas ruas.

Em outros casos, a nova geração deixou para trás aquela vendida aqui: Vectra (o verdadeiro, alemão, até com motor V6), Focus (europeu, por isso reformulado antes do argentino e que inclui o esportivo ST) e Scénic (na versão curta, não a Grand). Alguns carros similares aos nossos são trazidos da Europa, o que acontece com Punto (incluindo a versão Turbo), Fiesta ST (apenas o esportivo, pois o sedã é brasileiro) e Mégane (também o hatch). E, em vez dos Vectras sedã e hatch brasileiros com motores "de Monza", eles têm os Astras europeus nas mesmas versões com um moderno 1,8 de 140 cv.

Em meio a tantos carros modernos e antiquados, nada mais curioso que ver em razoável quantidade — na Cidade do México, jamais em Los Cabos — o "Vocho", nosso bom e velho Fusca, vários deles com a pintura verde e branca dos táxis. O México foi o último país a deixar de fabricá-lo, em 2003, e muitos ainda circulam bravamente na capital do país com seu ar quase irrespirável, tanto pela altitude quando pela altíssima concentração de poluentes.

Deixei para o fim a informação que mais deve tirar o bom humor do leitor: chega a ser ridículo o que os mexicanos pagam pelos carros comparado a nossos preços. Um Corsa 1,8 — o mais novo, não o Classic — começa em 120 mil pesos (R$ 19 mil), um Fit 1,5 parte de 151 mil (R$ 24 mil), um Focus 2,0 europeu de 191 mil (R$ 30,4 mil) e um Passat 2,0 Turbo automático de 323 mil pesos (R$ 51,2 mil). Como se nota, nos segmentos mais altos a diferença se acentua, a ponto de um BMW 335i automático sair a US$ 54,5 mil (R$ 89 mil) e um Porsche 911 Carrera a US$ 99,5 mil (R$ 162 mil).

Em se tratando de carros, não resta dúvida: felizes são os mexicanos.
 



P.S.: Para quem pensa em conferir de perto as belezas do México, um conselho: vá até a pé se precisar, mas não voe de Aeromexico. Foram, por larga margem, os vôos de longa duração mais desconfortáveis e o pior atendimento a bordo que já constatei, em bons anos de viagens freqüentes para cobrir eventos.

Os táxis têm motores V8 e câmbio automático, pois a gasolina lá é mais barata até que nos Estados Unidos. E há multiplicidade de cores, como há muito tempo não se vê por aqui.

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Data de publicação: 30/8/08

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