Como sabem os que leram nossa avaliação do
Chevrolet Captiva Sport,
na semana passada a General Motors levou parte da imprensa
especializada à bela região de Los Cabos, na Baja California Sur, no
México. E, como sabem os que lêem esta coluna há mais tempo, gosto
de aproveitar viagens a outros países para observar o trânsito e os
automóveis — o que fiz mais uma vez, tanto naqueles três dias em San
Jose del Cabo quanto no pouco tempo que fiquei na capital, Cidade do
México.
Los Cabos é uma região de turismo para americanos afortunados e,
como tal, não poderia deixar de ter muitos utilitários esporte e
picapes. Eles são maioria em seu trânsito, não raro identificados
com adesivos de locadoras, sinal de que muitos clientes os alugam ao
chegar de avião. Há também os que levam a casa nas costas, os
chamados motorhomes, meio picape e meio trailer. Até nas
concessionárias (vi cerca de 10, boa parte com o mesmo nome, Los
Cabos) os pesados têm presença maciça. Na da Cadillac, por exemplo,
havia diversos utilitários Escalade em exibição na área externa, mas
nenhum sedã CTS. E sim, vêem-se regularmente Hummers por lá — mas
não achei o "original" H1, só seus "filhotes" H2 e H3.
Chama a atenção em San Jose a qualidade impecável do asfalto, que
surpreende diante das severas condições climáticas — calor de quase
40°C a esta época do ano, escassa vegetação. O trânsito das vias
expressas por onde passamos não era muito diferente do que temos
aqui embaixo do Equador: nervoso, desorganizado, com alguns veículos
lentos à esquerda e outros passando rápido pela direita. Só que todo
mundo anda a bem mais que os 60 a 80 km/h indicados como velocidade
máxima, sinal de que fiscalização não é muito comum naquela região
mexicana.
Para os brasileiros, a "fauna" de automóveis do México é curiosa. Há
carros americanos que não temos, como o Dodge Charger — que empresta
seu ar ameaçador à Polícia Federal — e os grandes furgões da General
Motors e da Ford, bastante usados como táxis. Interessante é que
estes, assim como os amplos sedãs tipo Ford Crown Victoria usados em
táxis de alto padrão, têm grandes motores V8 a gasolina e câmbio
automático. Nada de gás natural, como aqui, ou de diesel como em
quase todo o mundo. Para quê? A gasolina lá é mais barata até que
nos Estados Unidos, cerca de R$ 1 o litro.
Pelo mesmo motivo, e também pela altitude expressiva da capital
(média de 2.400 metros, o que representa perda de potência estimada
de 24% em relação ao nível do mar), motores de pequena cilindrada
não têm vez por lá. Nossos Gol e Palio, por exemplo, são vendidos
apenas em versões de 1,8 litro. Outro fato chama atenção: a
multiplicidade de cores, como há muito tempo não se vê por aqui. O
branco é o mais comum, explicável pelo intenso calor, enquanto preto
e prata parecem não superar 10% da frota circulante cada um. O
restante é uma paleta de cores com azul, verde, vinho e até amarelo,
bem mais agradável aos olhos que os monótonos tons cinzentos do
cenário brasileiro em geral e paulista em particular. |
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Nomes trocados
Vêem-se nas ruas muitos modelos conhecidos nossos, de marcas do
mundo todo. E até carros nacionais exportados para lá, como "novo"
Corsa, Meriva, Montana, Palio, Siena, Strada, Idea e Palio Weekend
(ambas só na versão Adventure), Ka (ainda o antigo), Fiesta sedã,
EcoSport, Courier, Logan, Gol, Saveiro, Fox e SpaceFox. Boa parte
deles tem o nome alterado: de Montana para Tornado, de Logan para
Nissan Aprio (o Clio sedã é Nissan Platina, aparentemente porque a
marca japonesa tem imagem mais sólida no México), de Gol para
Pointer, de Saveiro para Pointer Pickup, de Fox para Lupo (o
CrossFox não muda) e de SpaceFox para Spacevan.
Ainda mais curioso é ver o Bora com logotipo Jetta e o Jetta com
logotipo Bora. A razão é que a Volkswagen sempre usou o nome Jetta
no México e nos EUA, enquanto exportava o sedã ao Brasil com o nome
do mercado europeu, Bora. Quando saiu a nova geração, os americanos
continuaram a chamá-la de Jetta, mas os mexicanos ficaram com as
duas em produção. A solução foi denominar o novo carro de Bora, caso
talvez único no mundo. Nossa Jetta Variant o acompanha como Bora
Sportwagen.
Gerações que convivem lado a lado são comuns no México. Eles já
podem comprar em versões de topo os Peugeots 207 — o legítimo
francês, não o me-engana-que-eu-gosto daqui — e 308, o novo Clio
europeu e o Golf GTI, mas ainda têm os modelos antigos (206 e 307 no
caso da Peugeot). O antigo Polo Classic permanece vivo como Derby, o
Fiesta sedã anterior ainda existe como Ikon e, na linha Chevrolet, o
veterano Corsa — nosso Classic, mas também como hatch — resiste com
o nome Chevy C2 e duas reestilizações de gosto discutível, uma bem
recente. O caso mais extremo é o da Nissan: junto do atual Sentra,
ainda produz o de duas gerações atrás, chamado Tsuru e visto em
grande quantidade nas ruas.
Em outros casos, a nova geração deixou para trás aquela vendida
aqui: Vectra (o verdadeiro, alemão, até com motor V6), Focus
(europeu, por isso reformulado antes do argentino e que inclui o
esportivo ST) e Scénic (na versão curta, não a Grand). Alguns carros
similares aos nossos são trazidos da Europa, o que acontece com
Punto (incluindo a versão Turbo), Fiesta ST (apenas o esportivo,
pois o sedã é brasileiro) e Mégane (também o hatch). E, em vez dos
Vectras sedã e hatch brasileiros com motores "de Monza", eles têm os
Astras europeus nas mesmas versões com um moderno 1,8 de 140 cv.
Em meio a tantos carros modernos e antiquados, nada mais curioso que
ver em razoável quantidade — na Cidade do México, jamais em Los
Cabos — o "Vocho", nosso bom e velho Fusca, vários deles com a
pintura verde e branca dos táxis. O México foi o último país a
deixar de fabricá-lo, em 2003, e muitos ainda circulam bravamente na
capital do país com seu ar quase irrespirável, tanto pela altitude
quando pela altíssima concentração de poluentes.
Deixei para o fim a informação que mais deve tirar o bom humor do
leitor: chega a ser ridículo o que os mexicanos pagam pelos carros
comparado a nossos preços. Um Corsa 1,8 — o mais novo, não o Classic
— começa em 120 mil pesos (R$ 19 mil), um Fit 1,5 parte de 151 mil
(R$ 24 mil), um Focus 2,0 europeu de 191 mil (R$ 30,4 mil) e um
Passat 2,0 Turbo automático de 323 mil pesos (R$ 51,2 mil). Como se
nota, nos segmentos mais altos a diferença se acentua, a ponto de um
BMW 335i automático sair a US$ 54,5 mil (R$ 89 mil) e um Porsche 911
Carrera a US$ 99,5 mil (R$ 162 mil).
Em se tratando de carros, não resta dúvida: felizes são os
mexicanos.
P.S.: Para quem pensa em conferir de perto as belezas do México, um
conselho: vá até a pé se precisar, mas não voe de Aeromexico. Foram,
por larga margem, os vôos de longa duração mais desconfortáveis e o
pior atendimento a bordo que já constatei, em bons anos de viagens
freqüentes para cobrir eventos. |
Os
táxis têm motores V8 e câmbio automático, pois a gasolina lá é mais
barata até que nos Estados Unidos. E há multiplicidade de cores,
como há muito tempo não se vê por aqui. |