A
cada mês, muitos de nós acompanham as tabelas de vendas de
automóveis para saber quem se saiu melhor no período que se
encerrou. O Palio alcançou o Gol? O Mille superou o Palio? Celta ou
Classic, qual vendeu mais? Ka ou Fiesta?
O que poucos observam, apesar de também interessante, é quais carros
venderam menos. Não só os supercarros da estirpe de Ferrari e
Maserati, que por definição chegam às ruas à razão de poucas dezenas
por ano (33 e 23 unidades, nesta ordem, em 2008; a Porsche vendeu
bem mais, 825 carros), mas sobretudo os modelos produzidos ou
importados por marcas de maior volume, que por alguma razão ocupam
os últimos lugares das listagens.
Em ordem alfabética pelo fabricante, a primeira curiosidade da tabela
da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos
Automotores) é com o Audi A6, que teve apenas 42 unidades emplacadas
no ano, perdendo de longe para BMW Série 5 (213), Mercedes-Benz
Classe E (120) e até Jaguar X-Type (61) e XF (47). Um resultado
muito modesto para uma marca de expressivo carisma.
Na sequência vêm os Citroëns C5 e C6, que alcançaram 22 e 24
unidades em 2008, nesta ordem
— para se ter uma idéia,
o Ferrari F430 chegou a 29 exemplares.
O primeiro ganhou na Europa uma nova geração, que chega ao Brasil
este ano, razão para se terem apenas queimado velhos estoques. Já o
topo de linha C6 é um carro bastante caro (mais de R$ 200 mil),
controverso no desenho e pertencente a uma marca sem expressão nesse
segmento, já que seu antecessor XM também vendeu bem pouco por aqui.
O resultado, a propósito, foi julgado insuficiente pela empresa para
justificar a continuidade de sua importação.
Descendo bastante na escala de preço, vemos o carro mais barato do
mercado nacional, o monovolume chinês Effa M100. Mesmo ao se
considerar que começou a ser emplacado em abril, as 202 unidades
(que projetariam perto de 270 em 12 meses, supondo constância nas
vendas) são muito pouco para um automóvel desse preço. É menos do
que vende a Passat Variant (297), por exemplo.
Que Mercedes-Benz não é carro para grandes volumes, todos sabem —
isso valia até para o Classe A nacional, que ficou muito longe das
previsões iniciais de vendas. Mas chama atenção que as versões do
Classe B somem só 494 unidades emplacadas no ano passado, enquanto o menor
Classe A nem aparece na lista, apesar de presente na
tabela de preços da marca. Como comparação, o sedã e a perua Classe
C, de segmento superior, chegaram a 1.838 carros licenciados. |
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Enfeites de saguão
Descendo a lista, encontram-se os Mitsubishis da "lanterninha":
126
exemplares do esportivo Eclipse, 107 da minivan Grandis. Para uma
empresa que tornou os antigos Eclipses carros relativamente comuns
em nossas ruas na década de 1990, é um número que decepciona. Mas
tem explicação pela estratégia de marketing da marca, focada em
picapes e utilitários esporte com tração nas quatro rodas. O
restante é mera complementação e, como tal, não recebe esforço de
divulgação.
Outra nipônica, a Nissan, também tem larga experiência com veículos
fora-de-estrada — produz no Paraná desde 2002 o picape Frontier e o
utilitário XTerra —,mas parece só conseguir vender bem os carros
mexicanos Tiida e Sentra, além do próprio Frontier. Os demais
utilitários frequentam baixas posições na tabela (como não aparecem
na relação da Fenabrave, recorremos à da Anfavea, Associação
Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, que informa
entregas às concessionárias e não emplacamentos): 37 unidades do Murano, 145 do Pathfinder, 151 do XTerra e 267 do XTrail. Também
como referência, pela mesma Anfavea o Mitsubishi Outlander fez 1.914 exemplares e o
Volkswagen Touareg, de preço superior, 439. Diante disso, até que a
produção local do XTerra, encerrada no fim do ano, perdurou mais que
o esperado.
Nas duas francesas que se seguem, Peugeot e Renault, os números
modestos referem-se em geral a modelos de imagem, trazidos mais para
enfeitar o saguão das concessionárias que para alcançar volume. No
ano passado (mais uma vez pela Anfavea) foram 61 conversíveis 307 CC e 112 Méganes da mesma
versão. Já as 353 unidades da Grand Scénic configuram mesmo um
insucesso, sobretudo se comparadas às 2.697 (sempre Anfavea) da concorrente Citroën
Grand C4 Picasso, de preço similar e lançada pouco mais tarde. Fácil
entender por que a Renault reduziu em mais de R$ 16 mil o preço
sugerido da minivan em um ano. E também seria justo esperar melhor
resultado do Peugeot 407 (371 exemplares pela Anfavea, 306 pela
Fenabrave), diante do bom preço
promocional a que é oferecido já há vários meses.
Ficam de fora desta análise algumas marcas filiadas à Abeiva (Associação
Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores)
porque, ao contrário da Anfavea, a entidade divulga em seu site
apenas os resultados por empresa, sem especificar modelos, e a
Fenabrave não as incluiu no relatório. De qualquer forma, resultados
como o da Suzuki (150 carros em dois meses) revelam que algumas dessas importadoras também disputam com
empenho os melhores lugares no ranking dos perdedores. |
Os
demais utilitários Nissan frequentam baixas posições na tabela: 37
unidades do Murano, 145 do Pathfinder, 151 do XTerra e 267 do XTrail
— o Mitsubishi Outlander fez 1.914 exemplares |