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AVALIAÇÃO

Bom para o trabalho

Toyota Hilux SR5 4x4 é robusto e valente no fora-de-estrada, mas o motor diesel de 77 cv...

Texto e fotos: Fabrício Samahá

Transportar cinco adultos ou até uma tonelada de carga num comprimento menor que o de um Omega, por praticamente qualquer tipo de terreno e com grande confiabilidade: essa é a proposta a que melhor se aplica o pickup Hilux SR5 4x4, da Toyota, com cabine dupla e motor diesel aspirado de 2,8 litros, que o Best Cars Web Site avaliou por cerca de 800 km.

Importado oficialmente pela marca desde 1994, o Hilux é um dos utilitários mais vendidos da história. Oferece versões de tração traseira e integral, cabine simples e dupla e três opções de acabamento -- básico, DLX e SR5 --, sempre com o mesmo motor. Chegou ao Brasil com uma vantagem sobre seus conterrâneos da Nissan, Mazda e Mitsubishi: a tradição da Toyota nesse mercado, com os indestrutíveis jipes Bandeirante fabricados desde 1958 em São Bernardo do Campo, SP. Valente e robusto o pickup mostrou que é -- mas talvez o consumidor brasileiro esteja interessado em algo mais.

Herdeiro dos jipes Bandeirante, o Hilux demonstra
robustez e qualidade de construção

O Hilux SR5, topo de linha, vem com pacote de equipamentos de série interessante: direção assistida, ar-condicionado, rádio/toca-fitas, travas e vidros elétricos (com função um-toque para a descida do motorista), faixa degradê no pára-brisa e volante regulável. Como todos os Hilux, vem da Argentina e por isso está isento de imposto de importação, mas não das oscilações do dólar. O preço de R$ 45.111 está abaixo do Nissan Frontier (leia avaliação), mas supera S10 e Ranger de configuração equivalente, que oferecem maior potência e mais conforto.

Em que pese o nome, que alguns podem traduzir por "alto luxo", trata-se de um pickup simples na aparência e espartano no interior. As linhas retas, conservadoras, são similares às de outros modelos japoneses (e nacionalizados, como o Mitsubishi L200), mas antiquadas se comparadas às dos modernos S10, Ranger e Dakota. Pneus de 215 mm e suspensão bastante alta, exclusivos das versões 4x4, conferem ar imponente ao lado dos pára-choques, grade e retrovisores cromados do acabamento SR5. Há um estribo de alumínio em toda a extensão entre eixos e as luzes de direção dianteiras salientes podem ser vistas por um veículo emparelhado ao Hilux, substituindo as repetidoras de pára-lama. Mas a Toyota poderia oferecer rodas de alumínio para uma estética mais esportiva.

Interior bem-acabado traz painel de boa legibilidade, mas o banco traseiro sem encostos de cabeça depõe contra a segurança

Simplicidade com qualidade parece ser o lema do interior do Hilux. O acabamento é modesto mas bem-feito, com assoalho carpetado (um inconveniente no fora-de-estrada), bancos individuais reclináveis e revestimento em tecido. A posição de dirigir é boa, o volante regulável e os pedais relativamente leves. O apoio de braço dianteiro traz um amplo porta-objetos com dois compartimentos. Já o banco traseiro, baixo e vertical, deixa os passageiros sem apoio nas coxas e não traz encostos de cabeça, um risco pela proximidade do vidro -- além da incômoda exposição aos raios solares. Como o Código de Trânsito só os tornou obrigatórios em novos projetos, caberia ao fabricante rever essa questão de segurança.

Alguns detalhes cativam, como luzes de cortesia nas quatro portas (há quanto tempo você não as via?), marcador de combustível sempre ligado, abertura completa das janelas traseiras e amplos retrovisores externos convexos -- já o interno é pequeno e não mostra todo o vidro traseiro. Em contrapartida, o pickup fica devendo a função uma-varrida do limpador de pára-brisa, ajuste interno dos retrovisores (é preciso pôr a mão para fora e pedir ajuda no caso do direito), ajuste de altura dos cintos e alarme antifurto. O rádio/toca-fitas Alpine conta com apenas dois falantes, de qualidade sofrível, e fica distante das mãos do motorista.

A caçamba deveria ser protegida por ripas de madeira
ou revestimento plástico

Bastante reduzida pela cabine dupla, já que o comprimento total do veículo não se altera (na verdade é 5 mm menor), a caçamba deveria contar com ripas de madeira ou revestimento plástico para preservar a pintura. Falta também grade protetora no vidro traseiro. O estepe fica embaixo dela e, por falar em pneus, bicos mais expostos facilitariam a calibragem de todos eles.

Desempenho insuficiente

A exemplo das outras marcas nipônicas, a Toyota insiste em motores diesel de aspiração natural como única opção para seus pickups. Enquanto no utilitário SW4 se pode escolher entre um 3-litros turbodiesel de 116 cv, um 2,7 a gasolina de 152 cv e um V6 3,4 de 186 cv, no pickup Hilux permanece apenas o aspirado de 2,8 litros, comando no cabeçote e parcos 77 cv. Embora de geração recente, com potência máxima em regime de 3.800 rpm, o motor simplesmente não consegue acompanhar a concorrência ou oferecer um desempenho aceitável no dia-a-dia.

O conveniente porta-objetos de dois compartimentos contrasta com o incômodo acionamento da roda-livre nos cubos dianteiros

As respostas são lentas, a velocidade máxima fica em torno de 135 km/h e viajar por asfalto torna-se desconfortável pela alta rotação imposta (mais de 3.000 giros a 100 km/h). É preciso considerar o limite de velocidade de 120 km/h vigente hoje em diversas estradas. A marca deveria, como sugerimos à Nissan na avaliação do Frontier de 103 cv, providenciar a instalação de um turbocompressor no Brasil ou na Argentina, para não considerar a montagem do mesmo turbodiesel do SW4. Como está, o pickup Toyota só supera em potência o jurássico Peugeot 504, de 70 cv, o que está longe de ser um mérito.

A transmissão funcionou corretamente durante os testes. O câmbio tem engates corretos e ré de fácil engate, como uma sexta marcha. O sistema de alavanca no assoalho para comandar a tração integral (a qualquer velocidade) e a caixa de redução (só parado) não incomoda, e garante maior confiabilidade que os controles elétricos utilizados pelo Ranger e S10. Contudo, não mais se justificam as rodas-livres dianteiras não-automáticas, que exigem desconfortável ajuste nos cubos pelo motorista. Se este se esquecer de acionar os cubos antes de sair do asfalto, terá de descer (e se sujar bastante) para ligá-los no meio de um atoleiro. Se mantiver as rodas sempre "presas", aumentam o atrito e desgaste dos componentes de transmissão, ruído e consumo de combustível. Sistemas automáticos deveriam ser de série em qualquer 4x4 de hoje.

Suspensão melhorou desde os primeiros modelos, mas em
desempenho o Hilux está entre os piores do segmento

Os atuais Hilux utilizam suspensão dianteira independente com braços duplos, muito superior -- em conforto e comportamento dinâmico -- ao eixo rígido empregado nos primeiros modelos importados. Só que obter conforto de um veículo 4x4 apto a transportar 1.000 kg não é fácil, e o pickup comprova isso. É bastante duro (sobretudo a traseira) em qualquer situação, demandando cautela em curvas de piso irregular, valetas e lombadas. No fora-de-estrada revela robustez e bom vão livre do solo, 22 cm, mas deveria haver gancho de reboque também atrás. Os pneus têm desenho misto cidade/campo e podem ser substituídos para emprego exclusivo na zona rural.

Os pickups japoneses, "adotados" ou não pelo Mercosul, têm seu espaço no mercado brasileiro e em geral demonstram boa qualidade de construção. O Hilux SR5 oferece ainda interessante pacote de equipamentos e parece apto a servir em quaisquer condições durante muitos anos, mas a Toyota poderia efetuar algumas modificações para torná-lo mais competitivo -- também em conforto e desempenho -- frente a pickups mais modernos.


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