Em 1951, de Alfa Romeo, era
campeão de Fórmula 1 pela primeira vez (foto 1); voltava a ganhar o
título em 1954 e 1955 com o Mercedes W196
O quarto campeonato veio de
Lancia-Ferrari V8 (em cima), em 1956; um ano depois, outra vez de
Maserati, firmava o recorde de cinco títulos
Ainda correu de Maserati em
1958, mas em poucas provas; embaixo, Fangio em 1992 ao lado de Senna;
ele morreria três anos mais tarde |
Com
o compatriota e amigo José Froilan Gonzalez, enfrentaria grandes como os
italianos Alberto Ascari, Achille Varzi, Luigi Villoresi; os franceses
Maurice Trintignant e Jean-Pierre Wimille (morto no mesmo ano) e o
inglês, bem mais jovem que todos eles, Stirling Moss. Em 1950 era
contratado da italiana Alfa Romeo para a temporada européia do 1º
Campeonato Mundial de Fórmula 1, mas participou em outras categorias na
Europa e na Argentina. Ao todo foram 29 corridas; venceu 11. Ficou em
segundo lugar na F-1, atrás de Emilio Giuseppe "Nino" Farina, ambos com
Alfa Romeo 158.
Sua primeira vitória na categoria foi em Monte Carlo. Também foi segundo
no Campeonato Argentino na categoria Carros Especiais. Correu de
Talbot-Lago 4500 na 24 Horas de Le Mans, dividindo o carro com Louis
Rosier. Com 39 anos, Fangio não estava tão esbelto como no princípio da
carreira e tinha dificuldades com línguas estrangeiras, mas continuava
muito rápido. Conta-se que um concorrente chegou irritado ao boxe de sua
equipe pelo desempenho do carro. Fangio, assistindo tudo, pediu para dar
uma volta. Bateu duas vezes o recorde do circuito e, apesar de ser muito
elegante e cortês, “soltou” que o carro não estava tão ruim...
Em 1951 corria na terra natal de Mercedes-Benz W163, terminando o ano em
segundo lugar. Na Europa, venceu em Berna (Suíça), Reims, Bari (Itália)
e Barcelona, na Espanha. Ficou em segundo em Silverstone (Inglaterra) e
Nürburgring (Alemanha). Ganhava seu primeiro título mundial — o primeiro
latino-americano a ter tantos êxitos em corridas fora de seu país. O
carro, um Alfa Romeo Alfetta 159, tinha 1,5 litro e 420 cv. Todos
estavam admirados com sua técnica em pilotar e, em especial, de fazer
curvas. Era um fenômeno em uma época em que os carros andavam a 280
km/h, mas a segurança era baixíssima — não tinham freios eficazes,
circuitos não tinham área de escape, os pilotos não usavam cinto de
segurança e o capacete era um gorro aeronáutico melhorado. Uma época de
heróis sobre rodas.
Em 1952 Fangio correu de Ferrari 166 C em São Paulo e no Rio de Janeiro,
no Circuito da Gávea e na Quinta da Boa Vista; no Uruguai e em Buenos
Aires. Ganhou todas. De volta à Europa, fez as provas Goodwood na
Inglaterra, Mille Miglia na Itália e outra em Albi na França. Em junho
estava em Ulster, na Irlanda, pilotando um BRM com motor V16, e deveria
estar no outro dia em Monza para correr de Maserati A6GCM. O avião, por
causa do mau tempo, pousou em Paris e dali Fangio foi dirigindo para
Monza. Cansado, sofreu na prova um terrível acidente, foi engessado da cintura até o
pescoço e quase ficou paralítico. O capacete guardou as marcas da
gravidade.
Mas retornou às pistas no ano seguinte. Ganhou cinco corridas em 24 de
diversas categorias, uma delas a IV Carrera Panamericana com um Lancia
D24 Sport de motor V6 e 245 cv. Em 1954 correu o Campeonato de Marcas
com o D24 e começou a F-1 de Maserati 250 F, ganhando na Argentina e na
Bélgica. Já contratado pela Mercedes-Benz, venceu quatro corridas com o
W196 e levou seu segundo campeonato mundial. O motor de 3,0 litros
desenvolvia de 290 a 340 cv. Apesar do trauma do acidente, estava
totalmente recuperado. Famoso por suas frases, dizia que tinha que
correr o mais devagar possível para ganhar e não morrer.
Sabia pilotar sem maltratar um carro, com movimentos leves e seguros.
Seus concorrentes eram Peter Collins, Alberto Ascari. Piero Taruffi,
Jean Behra, Eugenio Castellotti, Mike Hawthorn e Stirling Moss. Em 1955
as provas de Marcas eram feitas com o Mercedes 300 SLR e as de F-1 com o
W196. Com o SLR ganhou no Inferno Verde, como era conhecido Nürburgring,
e no GP da Suíça. Faturou cinco provas e o terceiro título. Nesse ano,
porém, a Mercedes se retirava das pistas após o grave acidente em Le
Mans que vitimou o piloto Pierre Levegh e cerca de 80 espectadores.
Fangio também pensava em parar, mas persistiu. Em 1956 estava com o
Lancia-Ferrari com um V8 de 2,5 litros e 275 cv, carroceria de alumínio
e máxima de 300 km/h. Conquistava o quarto título mundial e vencia na
Bélgica, França, Inglaterra, Alemanha, Argentina e Itália.
Em 1957 voltava a uma de suas marcas preferidas com o Maserati 250 F.
Ganhou quase todas as provas e conquistou o quinto título mundial. A
prova mais inesquecível foi o GP da Alemanha, em Nürburgring: largou em
terceiro, atrás dos Ferraris de Hawthorn e Collins e, apesar de não ter
pneus especiais e grande tanque de gasolina como eles, foi ao limite.
Bateu sucessivos recordes de volta e ganhou a corrida, 3,6 segundos à
frente do segundo. Era mais uma vez o grande campeão, aos 46 anos. Foi
saldado por uma multidão, abraçado pelos ingleses da Ferrari e recebeu
um prêmio especial dos dirigentes da prova. Já cansado, participou de
poucas provas em 1958, mas tornou a ganhar na Argentina com o 250 F. Em
Havana, Cuba, foi seqüestrado por seguidores de Fidel Castro. O objetivo
era chamar atenção para o presidente Fulgêncio Batista. Mas tudo
terminou bem.
O argentino havia encerrado oficialmente sua carreira na F-1 com muito
brilho no GP da França, em 6 de julho de 1956. Foi cinco vezes campeão
mundial em quatro marcas diferentes. Voltou a correr na 84 Horas de
Nürburgring com uma equipe argentina, de Ika-Torino. Sempre acompanhou a
F-1 e gostava muito dos pilotos brasileiros. Era amigo do compatriota
Carlos Reutemann e muito do concorrente inglês Stirling Moss. Fangio
morreu aos 84 anos em 17 de julho de 1995. Parte de sua história e seus
carros estão hoje no Museu de Balcarce.
Seus maiores legados foram humildade, honestidade e caráter. Mais que um
notável piloto, foi um grande ser humano.
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