Os primeiros carros de
Gurgel: miniaturas de Mustang e Karmann Ghia para as crianças, com
carroceria de plástico e motor de um cilindro
O bugue Ipanema, de 1969, um
precursor da linha de jipes Xavante |
Em 30 de janeiro de 2009 o Brasil perdeu um grande brasileiro — um homem
de fibra, como já foi chamado até em livros dedicados a ele, em alusão
ao material plástico associado ao aço com que construía as carrocerias de seus
veículos. Perdeu João Augusto Conrado do Amaral Gurgel.
A história dos automóveis e
utilitários da Gurgel Motores que chegaram ao mercado foi publicada no
Best Cars já em 2001. Nesta edição especial de Homens &
Máquinas, veremos um pouco da personalidade do homem João Gurgel, suas
aspirações para o País e seus planos nunca concretizados.
"Carro não se fabrica"
Nascido em 1926 em Franca, no interior paulista, o engenheiro mecânico
e eletricista João Gurgel sempre procurou um meio de impor seus ideais.
É famosa a história de que em 1949, quando estudava na Escola
Politécnica de São Paulo, recebeu do professor a tarefa de projetar um
guindaste como trabalho de conclusão de curso. Entregou o esboço de um
automóvel popular com motor de dois cilindros, apelidado de Tião. O
professor nem quis ver. Respondeu-lhe: "Carro não se fabrica,
Gurgel, se compra. Ponha isso na cabeça." Para ser aprovado ele precisou desenhar o guindaste,
mas passou o resto de sua vida atrás do sonho de construir carros para o
povo.
Teimosia era mesmo a marca de Gurgel. Quando criança era curioso ao
extremo: lia livros de física e mecânica, desmontava rádios, mexia em
peças de carros. Durante a Segunda Guerra Mundial, acompanhava com
interesse o desenvolvimento técnico de bombas e aviões. Aos 16 anos
inventou um revólver a gasolina, que explodia pela centelha de uma vela.
Com 23 formou-se na Politécnica e foi aos Estados Unidos, onde estudou
no General Motors Institute. Voltaria após quatro anos, em 1953.
Aqui, trabalhou nas fábricas da General Motors e da Ford. Desta, quando
era o engenheiro mais bem remunerado e com todas as regalias, pediu
demissão para abrir seu próprio negócio: a Moplast, que fazia moldagem
de plásticos. Seu objetivo, porém, não estava nos luminosos de acrílico
que fazia: queria produzir carros.
Começou por miniaturas de Ford
Mustang e Volkswagen Karmann Ghia
para crianças, com carroceria de plástico e motor de um cilindro a
gasolina. Participou de competições de kart, em uma equipe que tinha
talentos como Emerson Fittipaldi, e em 1º de setembro de 1969, ao lado
de sua concessionária VW em São Paulo, fundou a Gurgel Motores. Três
anos depois fabricava os pequenos bugues Ipanema com mecânica da marca
alemã. Cansado da agitação da capital, comprou um terreno no interior —
em Rio Claro — para fazer sua fábrica, de onde sairiam numerosos modelos
de utilitários com motor arrefecido a ar e câmbio VW, um modelo maior (o
Carajás) com mecânica de Santana, o pequeno sedã Xef (de três lugares
lado a lado) e até carros elétricos.
Continua
|