Se o reconhecimento a uma obra de arte pode ser medido pela quantidade
de cópias que dela são feitas e pelas reações que essas cópias despertam
em pessoas de todas as idades, gostos e regiões, então Carroll Shelby é
um grande artista.
Falecido em 10 de maio de 2012 aos 89 anos, esse norte-americano será lembrado
para sempre como criador do
Cobra, o carro esporte com mecânica Ford dos anos 60.
Carroll Hall Shelby nasceu em Leesburg, no estado do Texas, em 11 de
janeiro de 1923. Já aos sete anos descobriu-se que tinha problemas em
uma válvula do coração, o que o impedia de levar a vida ativa que a
idade fazia esperar. Só por volta dos 14 sua saúde cardíaca melhorou.
Logo estava ao volante de seu Willys, acelerando pelas ruas e estradas e
provocando a ira da polícia local. Após se graduar na escola de Woodrow
Wilson, em Dallas, alistou-se na então United States Army Air Corps (USAAC),
atual Força Aérea, e serviu durante a Segunda Guerra Mundial como piloto
de testes de aviões e instrutor de voo.
Casou-se em 1943 com Jeanne Fields, com quem teve três filhos, Sharon
Anne, Michael Hall e Patrick Burke. Após deixar os aviões, tentou sem
sucesso diferentes ocupações como vender concreto e criar galinhas. Os
negócios na granja acabaram quando, em três dias, uma doença matou 40
mil dos 70 mil animais. Foi quando ele se reaproximou da velocidade,
pilotando de forma amadora um MG
TC e um Jaguar XK 120
e vencendo algumas provas.
Shelby entrou de vez no mundo das competições em 1952, pilotando um
Allard — o carro esporte inglês
com motor Cadillac V8 agradou-lhe muito e parece ter servido de
inspiração para o que viria. Chamou a atenção da Aston Martin, que o
contratou e o levou à Europa para correr. Competiu também com Maserati,
Jaguar C-type, Austin-Healey (com um modelo 100 S altamente modificado,
com compressor e carroceria mais
aerodinâmica, estabeleceu 16 recordes de velocidade norte-americanos e
internacionais), Porsche 550 Spyder e
diversos Ferraris, como o 750 Monza, o 500 Testa Rossa e o 121 LM. Foi
com um carro de Maranello, o 375, que ele venceu a subida de montanha de
Mount Washington de 1956 em tempo recorde.
No campeonato do SCCA (Clube do Carro Esporte da América) ele venceu 40
das 46 provas da temporada de 1957! Dois anos mais tarde ganhava a 24
Horas de Le Mans, na França, ao volante de um Aston Martin DBR1/300 em
parceria com Roy Salvadori. Participou também de oito provas da Fórmula
1 em 1958 e 1959, com carros Maserati e Aston Martin, tendo obtido um
quarto lugar como melhor colocação.
O coração de Carroll, então com 36 anos, voltou a lhe trazer
complicações e ele teve de abandonar as corridas. Deixou-as, mas não os
carros e o universo das pistas: abriu uma escola de pilotagem, passou a
preparar carros e a produzir componentes de alto desempenho, tanto para
as ruas quanto para competição. Foi quando descobriu um negócio que lhe
daria fama como nenhum outro: aplicar um motor V8 norte-americano a um
carro esporte inglês, como no Allard-Cadillac com que havia vencido
corridas.
A inglesa AC produzia um roadster com motor de seis cilindros em linha
da compatriota Bristol, empresa
que estava abandonando tal atividade. Shelby tornou-se importador
oficial da AC para os Estados Unidos e passou a buscar um novo
fornecedor de propulsores. Tentou a General Motors, que não se
interessou por já produzir o
Corvette, e encontrou a solução na Ford com seus motores V8, de
início com 260 pol³ (4,3 litros). Shelby atraiu gente talentosa para
ajudar nos projetos, como Ken Miles, engenheiro e piloto de testes, e
Pete Brock, projetista com passagem pela GM.
Das instalações da Shelby American, em Venice, Califórnia,
começava a sair em 1962 o AC Cobra, que logo se tornaria conhecido como
Shelby Cobra ou Ford Cobra — o nome, contou Carroll, apareceu-lhe na
mente numa noite e foi anotado num papel ao lado da cama. O carro
esporte de surpreendente desempenho logo se tornou o sonho de multidões
— e não demorou a fazer sucesso nas pistas.
Continua
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