Sonho sobre rodas

O Borgward Isabella foi a melhor interpretação do desejo
de um alemão que queria fazer seus próprios carros

Texto: Fabiano Pereira – Fotos: divulgação

No início era um sonho de criança. Em Altona, Alemanha, o pequeno Carl Friedrich Wilhelm Borgward, aficionado por automóveis, tinha como meta construir essas máquinas, o que mais tarde o levaria a se tornar engenheiro. Após trabalhar nas indústrias metalúrgica, têxtil e de maquinário agrícola, Borgward passou a produzir autopeças em Bremen em 1919. Cinco anos mais tarde surgia um triciclo de carga com motor DKW de 120 cm³, o Blitzkarren (carreta relâmpago).

O triciclo fez sucesso para serviços como o correio, assim como outros utilitários compactos da marca. Em 1929, Borgward adquiria a Hansa-Lloyd AG, fabricante de carros de luxo e principal cliente de suas autopeças. Após modelos compactos como o 400 e o 500, que não emplacaram, o Hansa 1100 de 1934 aparecia como o primeiro sucesso da empresa. Em 1939 Borgward apresentava o 2000 de seis cilindros, primeiro modelo a trazer o logotipo com seu nome. Em meio ao sucesso, a vergonha: Carl se filiara ao Partido Nazista.

Evolução do Hansa, o Isabella sedã era lançado em 1954, com linhas discretas
até em excesso, o que mudaria bastante na versão Coupé (no alto), mais tarde

Naquele ano, a produção seria quase apenas de veículos militares, com exceção do modelo 2300. Após três quartos da fábrica terem sido destruídos pelos aliados, Carl Borgward era preso em 1945 por empregar trabalho escravo russo. Em 1948 a companhia, até então mantida por um diretor de vendas, voltava para as mãos do fundador, que a dividiu em três: Borgward, Lloyd e Goliath. Era a maneira de garantir mais da matéria-prima tão racionada pelos aliados.

Já no ano seguinte surgia o Borgward Hansa 1500, apelidado de “a beleza de Bremen”. No sedã moderno e discreto, talvez um pouco demais, chamavam a atenção os dois triângulos opostos do logotipo no centro da grade. Os louros colhidos por esse modelo abriram caminho para o mais popular Isabella, em 1954, na verdade uma evolução do próprio Hansa. O novo carro, que traria o logotipo “Hansa 1500” na grade até 1957, abriria uma página inédita de sucesso comercial na história da Borgward.

Carl Borgward realizou seu sonho, o de construir os próprios automóveis. O motor usado, de 1,5 litro e comando no cabeçote, desenvolvia 60 cv

Movido por um quatro-cilindros em linha de 1.493 cm³, com comando de válvulas no cabeçote e taxa de compressão de 6,8:1, rendia 60 cv líquidos a 4.500 rpm e torque de 11,3 m.kgf a 2.500 rpm. O câmbio era manual de quatro marchas, todas sincronizadas, e o sistema de suspensão, todo independente com molas helicoidais. Freava com tambores nas quatro rodas e tinha 4,34 metros de comprimento, dos quais 2,61 m de entreeixos.

Com estrutura monobloco, pesava só uma tonelada, graças também ao uso de liga de alumínio em peças do motor e câmbio. Não tinha fôlego de atleta, mas chegava aos 137 km/h, indo de 0 a 100 km/h em 25 segundos. O Isabella dava impressão de qualidade, com peças bem encaixadas. Outro aspecto que surpreendia era o espaço interno generoso para suas dimensões, levando cinco passageiros com conforto. Por outro lado, o desenho — ainda que moderno e agradável — não tinha qualquer traço de personalidade. Continua

Carros do Passado - Página principal - Escreva-nos - Envie por e-mail

Data de publicação: 20/4/04

© Copyright - Best Cars Web Site - Todos os direitos reservados