Sua tração era traseira e a caixa manual de três velocidades. A suspensão dianteira independente foi a primeira do mundo com o conceito McPherson. Usava molas helicoidais, e a traseira, um eixo rígido com molas semi-elíticas. O Vedette freava com tambores e tinha chassi reforçado. O carro foi feito inicialmente por fornecedores, já que a unidade de Poissy fora fortemente bombardeada durante a guerra. Mas as primeiras impressões que ele deixou não seriam memoráveis.

Talvez o mais bonito modelo da linha, o cupê Comète era construído pela Facel, marca que parecia ter o dom de criar belos automóveis

A começar pelo acabamento pouco esmerado, sua pintura apresentava falhas e os cromados se degradavam logo. A consumo era elevado para aqueles anos de recursos escassos. E, por mais reforços que seu chassi tivesse recebido, ainda não eram suficientes para as condições das estradas francesas da época. Para amenizar tais críticas, logo chegavam as versões cupê e conversível, esta com três ou cinco lugares. O motor recebeu uma injeção de ânimo também: já eram 66 cv e, apesar disso, o Vedette passou a beber menos.

Outra importante revisão vinha em 1950, ano em que François Lehideux substituiu Dollfus: o chassi foi mais uma vez reforçado com estruturas duplas em X. O Ford francês finalmente deixou de sofrer tanto com os solavancos do solo. No ano seguinte a Facel passava a montar o belíssimo cupê Ford Comète com base no modelo. Era mais uma prova de que tudo que a Facel tocava virava ouro. Além de pára-choques e instrumentos renovados, a linha Vedette 1952 guardava uma interessante novidade.

No Vedette Sunliner de 1954, um amplo teto solar de lona o deixava quase conversível, embora mantendo as estruturas das portas; um motor de 3,9 litros e 100 cv era adotado no Vendôme

O Abeille (abelha) era uma legítima versão hatchback com duas tampas do porta-malas, uma para cima e outra menor para baixo, como em certas peruas. Era uma solução muito rara nos anos 1950. Com uma esquisita localização da placa e as terceiras janelas laterais cobertas, as linhas traseiras realmente lembravam o inseto que deu nome ao carro. Mais que a inusitada solução que a Ford adotou, contavam pontos os 500 kg de capacidade de carga.

Mas Lehideux queria modernizar o Ford e conseguiu driblar as limitações financeiras para, após vários estudos e protótipos, apresentar um novo Vedette no salão parisiense de 1952. O modelo 1953 não era um projeto totalmente novo, mas trazia diversos atrativos. O motor era o mesmo, mas o arrefecimento foi aprimorado. Freios de superfície maior e cilindros de roda duplos adicionaram segurança ao volante. Até um acendedor de cigarros foi oferecido. Esteticamente, passava a ter seu porta-malas num terceiro volume.

Com a absorção da Ford francesa pela Simca, o Vedette assumia novo estilo em 1957, que pouco depois chegaria ao Brasil por meio do Chambord

Pelo desenho do teto, o eixo traseiro estava muito à frente. Ainda assim era mais leve — e um belo carro. Até a opção do teto solar de lona era oferecida. A luxuosa versão Vendôme enriquecia a linha com um motor de 3,9 litros e 100 cv, como no Comète Monte Carlo. Alguns sedãs até seriam transformados em peruas. Mas o cenário político de esquerda na França da época não era favorável a uma empresa americana. A filial francesa da Ford seria vendida em junho de 1954 à Simca. O Vedette passava a constar no catálogo desta marca.

Em 1955, ganhava nova carroceria baseada nos estudos realizados pela Ford. Fazia parte da família que incluía o Versailles, Trianon, Régence e a Marly (perua). Uma reformulação do V8 em 1957 mudou os nomes, como exceção da perua, para Beaulieu, Présidence e Chambord. Esse último, com o novo desenho, seria adotado no Brasil quando o modelo foi nacionalizado, em 1959 (leia história). Assim como as estrelas do teatro de revista, o modelo originado na Ford criaria uma ponte entre o Brasil e a terra de De Gaulle. Ele foi a grande vedete da passagem da marca pela França — literalmente.

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