Madeira nobre

Na era de ouro das peruas woodies, o Chrysler
Town & Country inovou esse estilo com luxo e status

Texto: Fabiano Pereira - Fotos: divulgação

Nas primeiras décadas do automóvel, a madeira foi um material largamente empregado em carrocerias de automóveis. Conforme a tecnologia evoluiu, a confecção de chapas de aço em variados formatos foi se tornando cada vez mais fácil e o metal começou a ser mais freqüente nos automóveis. Nos Estados Unidos a linha Dodge 1914 iniciou a tendência, que se alastrou até o fim dos anos 30. Ironicamente, na década seguinte o carro mais desejado da Chrysler Corporation — da qual a Dodge é parte — seria o Chrysler Town & Country, lembrado por suas charmosas carrocerias de madeira. Ele surgiu em 1941 na forma de uma perua.

Desde a primeira perua americana a figurar no catálogo de uma fábrica, oferecida pela marca Star em 1923, a madeira vinha proporcionando um efeito mais informal que combinava com o propósito familiar desses veículos. As peruas surgiram para levar passageiros e sua bagagem até as estações de trem e de lá para casa, numa época em que este era um meio de transporte muito comum para longas viagens. Daí a razão da terminologia empregada pelos americanos, station wagon (vagão de estação). A Town & Country foi a primeira perua produzida pela própria Chrysler, embora as transformações fossem mais comuns naquela época.

A perua Town & Country de 1942: motor de seis cilindros, seis ou nove lugares e as características laterais de madeira, embora o teto já fosse de aço

A carroceria seguia a tendência desse segmento — ainda pouco explorado — de usar madeira na confecção do compartimento de passageiros, um estilo que os americanos chamam de woody. A idéia implícita de status associada à Town & Country (cidade e campo, em inglês) era a de que o proprietário era abastado o suficiente para morar na cidade e ter uma casa de campo só para lazer. Ela foi a primeira perua feita com base num sedã de quatro portas, o Windsor, e não em um chassi com apenas a frente montada. Seu teto também era de aço, em vez de madeira coberta por lona.

As partes não metálicas tinham moldura de madeira de freixo branca e painéis de mogno, embora este tenha sido substituído por apliques na maior parte dos modelos posteriores. Outro destaque entre as concorrentes era a traseira em declínio bem acentuado na perua Chrysler, como se fosse um sedã fastback — diferente do estilo retilíneo adotado pelas demais peruas americanas na época. No interior cabiam seis ou, como opção, até nove passageiros. O terceiro banco era dobrável e posicionado atrás do banco dianteiro, como em muitas limusines da época. O banco traseiro era rebatível para ampliar a capacidade de bagagem.

Depois da guerra o nome retornava, mas em outras versões de
carroceria: o sedã de quatro portas (acima) e o conversível (no alto)

A perua tinha quatro portas para os passageiros, mas a porta traseira trazia uma solução nada convencional. Em vez de uma grande tampa presa ao teto ou uma mais curta que fosse complementada por outra presa ao assoalho, a Chrysler criou duas peças que se abriam do centro para as laterais, mas apenas na área abaixo do vidro traseiro. Era a chamada porta "concha". Toda a lateral do carro, exceto capô e pára-lamas, vinha coberta por chapas de madeira. Com 3,23 metros de distância entre eixos, a Town & Country era espaçosa e pesada (1.965 kg), especialmente para sua motorização.

A Chrysler chegou a considerar fazê-la com base no chassi do New Yorker de oito cilindros, mas todas as 997 unidades produzidas foram equipadas com o motor de seis cilindros em linha do Windsor, com seus 4,0 litros e potência bruta de 112 cv a 3.600 rpm. Apenas 200 delas comportavam seis passageiros, pois a maioria dos compradores preferiu a versão de nove lugares. Produzir uma Town & Country era trabalhoso, por isso poucas foram feitas. Ainda no âmbito do conforto, a Chrysler lançou para a linha 1941 a caixa semi-automática opcional Vacamatic, de quatro marchas, que dispensava o uso de embreagem. Na verdade trabalhava como uma caixa auxiliar, com velocidades baixa e alta, que fazia as duas marchas operar como quatro. O câmbio manual, por sua vez, tinha três. Continua

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Data de publicação: 11/4/06

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