A influência da aeronáutica ficou evidente nos pistões de alumínio do motor de 424 pol³ (6,9 litros), com ângulo de 60° entre as bancadas de seis cilindros e cabeçotes em "L". Produzia até 3.500 rpm e fornecia a potência máxima de 88 cv a 2.600 rpm. Não era praxe divulgar o torque, maior trunfo desse que foi o primeiro V12 vendido em larga escala. A caixa de câmbio de três marchas enviava a tração às rodas traseiras, que eram de 27 polegadas. Trocas de marcha, feitas por uma alavanca à esquerda do motorista, eram esporádicas graças a esse conjunto vigoroso para os padrões daqueles meados de anos 10.

Em 1932 os 12 cilindros retornavam no modelo V12, depois renomeado Twelve; este conversível de quatro portas serviu ao presidente Roosevelt

O nome Twin Six significava "seis gêmeos", uma alusão à soma de dois motores iguais de seis cilindros em linha. Havia duas séries: 1-25 e 1-35. A primeira tinha entreeixos de 125 pol (3,17 metros) e a segunda de 135 pol (3,43 m). A euforia assim que o Twin Six chegou às lojas foi tal que algumas concessionárias Packard até tiveram de chamar a polícia para conter os ânimos dos curiosos. As vendas ressonaram tal popularidade e a empresa abandonou os motores de seis cilindros por algum tempo. Apreciado por magnatas e reis, o Twin Six transportou o primeiro presidente americano a tomar posse num automóvel, Warren G. Harding. Em 1918 a alavanca de câmbio passou a ser instalada no centro do carro.

A experiência da Packard com motores V12 a ajudaria a produzir 6.500 unidades de um total de 20.000 do Liberty V12, motor de aviação usado pela força aérea americana na Primeira Guerra Mundial. Mas, antes de os EUA entrarem na guerra, o fabricante elaborou dois carros de corrida pilotados por Ralph DePalma com motor de aviação. Um deles, com 299 pol³ (4,9 litros), ganhou provas entre 1917 e 1918 e chegou em sexto lugar na famosa 500 Milhas de Indianápolis em 1919. O outro bateu o recorde de velocidade em Daytona: quase 240 km/h em milha lançada e 148,3 km/h em uma milha a partir da imobilidade.

O enorme Touring Sedan de sete lugares era parte da linha 1938 do Twelve

Este último recorde só seria batido por um carro europeu 10 anos depois e, na América, duraria por mais de 30 anos. E foram esses "aviões terrestres" da Packard que inspirariam ninguém menos que Enzo Ferrari a criar, anos mais tarde, seus próprios carros de corrida — e subseqüentes modelos de rua — com motor V12. O Twin Six manteve-se popular na década de 1920, mesmo com o lançamento para 1921 do Single Six (seis simples), com motor de seis cilindros em linha bem menos oneroso de se produzir. O que determinou o fim dessa usina de disposição foi a chegada do Packard Eight, de oito cilindros em linha, em 1923.

Mas a idéia ainda teria poder e reputação suficientes para voltar em 1932, dessa vez rendendo 160 cv a 3.200 rpm. Em vez de três, como no original, o novo motor Twin Six projetado pela equipe de Jesse Vincent tinha o virabrequim apoiado em quatro mancais, para funcionamento ainda mais suave. Era o auge da disputa pelos maiores e mais possantes motores em Detroit. Outros modelos V12 americanos surgiram também nessa época. A Packard só precisou retomar sua bem-sucedida idéia para fazer companhia ao Eight, de oito cilindros, e não ficar tão para trás nos números de cilindros, que chegavam a até 16 nos casos da Cadillac e da Marmon.

Outro modelo de 1938: o conversível Victoria, de cinco lugares, com motor de 175 cv

Algumas das mais belas carrocerias do período mais cheio de glamour do carro americano cobririam o Packard V12. Entre as mais imponentes estavam as Dietrich, em versões cupê, cabriolet (conversível de duas portas), phaeton (aberto de quatro portas) e landaulet (fechado, mas imitando um conversível), entre outras, todas com entreeixos de 3,62, 3,73 ou 3,75 m. LeBaron, Brunn e Rollston foram outros encarroçadores a valorizar esteticamente o portento mecânico americano. Já em 1933 o modelo equipado com motor V12 passou a ser designado Twelve (doze). Em 1935 o motor passou a render 175 cv, valor que seria mantido até o último Packard V12 sair de linha, em 1939. Um Twelve conversível de quatro portas foi usado pelo presidente americano Franklin Roosevelt.

Custando entre 4.000 e 6.000 dólares, o Packard Twelve representava uma exorbitância para os anos de depressão econômica em que os EUA viviam. Foram 5.744 unidades dessa segunda geração, contra 35.046 do Twin Six original. Logo viria a Segunda Guerra Mundial, encerrando de vez a chamada era clássica do automóvel americano. Rivalizar com a Rolls-Royce, inspirar Enzo Ferrari e figurar entre os mais potentes e vistosos clássicos de Detroit em seus anos de ouro: os Packards Twin Six e Twelve deram mesmo razões de sobra para James Ward Packard se orgulhar de ter aceitado o desafio proposto por Alexander Winton.

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