Isso explica seu nome, que pode ser entendido como “painel de instrumentos curvo”, embora o modelo não tivesse painel, só um apoio para os pés do motorista e do passageiro que ele comportava. A manivela de partida do motor ficava na lateral do assento. A carroceria era feita em madeira. A primária suspensão usava feixes de molas elíticas longitudinais nos dois eixos e as rodas de madeira, de 28 pol, traziam pneus de 3 pol de seção. Em vez de volante, o Curved Dash tinha uma espécie de timão para esterçar as rodas. O modelo pesava 385 kg e custava 650 dólares, o preço mais baixo do mercado.

A princípio, a publicidade do Curved Dash o comparava a cavalos, não a outros carros — ideal para atrair quem nunca usara um automóvel antes. Ele vinha equipado com motor de um cilindro horizontal refrigerado a água, com cilindrada de 1,6 litro, obtida com 139,7 mm de diâmetro por 152,4 mm de curso. Rendia a potência de 4 cv a 500 rpm e usava um câmbio planetário de duas marchas com tração traseira. O carro chegava a 40 km/h e fazia cerca de 10 km/l de gasolina. Os freios eram acionados tanto nas rodas traseiras quanto no diferencial.

Dois lugares, enormes rodas de 28 pol, motor de um cilindro e potência de 4 cv: o Curved Dash fazia jus ao apelido de "carroça sem cavalos" dado aos carros de seu tempo

E foi com esse aparato que Roy Chapin, funcionário da Oldsmobile, levou um exemplar de Detroit a Manhattan em outubro de 1901 para a abertura do segundo Salão de Nova York. A jornada levou sete dias, uma proeza se considerarmos as condições precárias das estradas que existiam na época. O feito rendeu muita publicidade para o Curved Dash — e Chapin mais tarde seria um dos fundadores da Hudson. O modelo também se tornou o primeiro carro usado pelo serviço de correio americano, com uma caixa que portava a correspondência na traseira. Com rodas de aço apropriadas, o Curved Dash até foi usado como carro de inspeção para ferrovias.

A Oldsmobile comprovou o vigor e a qualidade de sua engenharia em 1903. Um dos motivos foi a vitória em sua classe no Tour de France (Volta da França) com seu modelo feito para corrida, o Flyer. Ele cravou o recorde mundial de velocidade em milha lançada (1,6 km percorrido depois de acelerar) para carros de baixo peso em Ormond Beach, Flórida: 86,4 km/h. Um Olds também conseguiu cruzar o país de São Francisco a Nova York em 13 dias, feito ainda maior que o de Chapin. Um Oldsmobile Pirate de corrida conseguiu o pioneirismo de completar uma milha em menos de um minuto, marcando 42 segundos.

Ao lado da atenção às competições, o Curved Dash recebia pequenos aprimoramentos. Um aumento de cilindrada e melhorias técnicas levaram a potência do motor a crescer 75%, passando para 7 cv em 1904. O carburador também era novo, da marca Holley. Mas, nos negócios, as mudanças seriam mais drásticas. A Leland & Faulconer se unia à Cadillac Automobile Company para criar a Cadillac Motor Car Company. Ransom Eli Olds vendia suas ações da Oldsmobile para fundar a Reo Motor Car Company, cuja produção começaria em 1905.

Olds Scout e Olds Steady -- duas unidades do Curved Dash -- participaram de uma corrida de 44 dias e 6.400 km por estradas precárias, de Nova York a Portland

Nesse ano a Oldsmobile já oferecia um novo modelo, o Touring Runabout, ao lado do Standard Runabout, o Curved Dash já conhecido. Duas unidades deste último participaram de outra competição que marcou o início do século 20. Apelidados de Olds Scout e Olds Steady, os carros participaram de uma longa corrida de Nova York a Portland, no estado de Oregon. Após 44 dias passando por 6.400 km de estradas rústicas, o Olds Scout venceu o desafio. A popularidade ajudou a reforçar a imagem do modelo, mas a evolução da concorrência era rápida. O último Curved Dash foi produzido em 1907.

No ano seguinte, em meio a uma grande crise financeira, a Oldsmobile entrou para o catálogo de marcas que estava formando a General Motors. Já sem o respaldo de Ransom Elis Olds, a marca ainda tinha seu valor fortemente atrelado à experiência do Curved Dash. Se ele não chegou ao que hoje consideramos produção em massa, foi o primeiro a ser fabricado em escala. Preparou o palco para o Ford T brilhar ao se tornar acessível para milhões de pessoas, revolucionando a indústria e a sociedade em todo o mundo.

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