Estrada versus trilhos

Vencedor em Le Mans por duas vezes, o Bentley Speed Six
teria superado um famoso trem da França à Inglaterra

Texto: Francis Castaings - Fotos: Classics.com, Christie's e divulgação

Disputas para mostrar qual máquina era mais eficiente eram comuns no princípio do século XX. Quase tudo era novidade dependendo do lugar, da indústria e da prosperidade. Depois da Primeira Guerra Mundial os aviões já haviam dado um salto em termos de velocidade. Também nesta época, sobretudo na Europa, os trens eram rápidos e alguns muito famosos e sofisticados.

Era o caso de um que fazia a ligação entre Paris e Nice na década de 1920. A origem da linha, em 1889, ligava Nice, Paris e Calais, no norte da França. Dali os passageiros iam de barco para Dover, na Inglaterra, do outro lado do Canal da Mancha, e novamente de trem até Londres. Em 1922, a companhia proprietária desta linha reformou todos os vagões. Muito luxuosos, eram de aço e pintados de azul. Foram logo chamados de Train Bleu pelos franceses e Blue Train pelos ingleses.

O Speed Six marcou um tempo que foi dos melhores para a Bentley; ao lado, um modelo 1929 com carroceria da Saoutchik; acima, dois 1930 com a da J. Gurney Nutting -- o da esquerda pertenceu a Woolf Barnato

Na época não faltavam homens intrépidos. Um deles era Woolf Barnato, um milionário sul-africano apaixonado por automóveis, em especial pelos da marca Bentley, da qual era acionista. A famosa empresa inglesa vivia seus melhores dias, em tempos anteriores à absorção pela compatriota Rolls-Royce, que aconteceria em 1931. Havia vencido a 24 Horas de Le Mans na França em 1924, 1927, 1928, 1929 e 1930. Nos três últimos anos, Barnato foi vencedor.

Em 1929 e 1930 ele esteve a bordo do modelo 6.5 Litre Speed, mais conhecido como Speed Six em alusão ao motor de seis cilindros. Cobriu 2.930 quilômetros em 24 horas, com uma média horária de 122 km/h. Sua potência variava entre 180 e 225 cv. Os carros verdes aterrorizaram a concorrência. Eram modelos com dois lugares, longo capô preso por grossos cintos, pára-brisa baixo e pára-lamas mínimos. Junto com Barnato estavam nomes como Sir Henry Birkin, Jack Buchanan, Bernard Rubin e Jean Chassagne, que formavam o grupo Bentley Boys. Eram pilotos amadores, endinheirados, mas competentes no volante.

Tim Birkin, co-piloto de Barnato, dirige o Speed Six na 24 Horas de Le Mans de 1929: a marca inglesa venceu a prova cinco vezes entre 1924 e 1930

Barnato freqüentava a alta sociedade e um dia, em Nice, no glamuroso Hotel Carlton, apostou 200 libras esterlinas que chegaria com seu Bentley a Calais, e até mesmo a Londres, antes do famoso trem. Este comboio, chamado à época de Expresso, tinha poucas paradas ao longo do trajeto, ao passo que Barnato teria de enfrentar estradas noturnas, paradas para reabastecimento e pequenas manutenções. Como na época não havia auto-estradas, ele teria de passar até mesmo dentro de cidades pequenas e grandes, enfrentando algum tráfego, trevos, cruzamentos, estradas estreitas e sinuosas. E teria de fazer 1.200 quilômetros em apenas um dia, boa parte deles à noite. Estávamos em março de 1930. Continua

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Data de publicação: 3/6/08

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