O Tipo 35 A (fotos de cima) era mais acessível com motor de 2,0 litros; a versão Grand Sport, embaixo, tinha carroceria adequada para a rua

O interior do Tipo 35 de corridas: espaço exíguo, um grande volante de madeira, posto do piloto à direita e alavanca de câmbio do lado de fora

O 35 B ou TC, de Targa Florio Compressor, extraía 135 cv do motor de 2,3 litros e chegava a 190 km/h -- um espanto para a década de 1920

O ano de 1924 seria marcado para sempre na história da empresa. Após alguns insucessos nas pistas, nascia o modelo Tipo 35, que seria um dos carros mais vitoriosos da marca — e de todos os tempos. Venceu mais de 1.000 corridas, ganhou o campeonato mundial em 1926, venceu 350 corridas em diversas categorias e bateu 47 recordes mundiais. Ainda, entre 1925 e 1929 saiu-se vitorioso em todas as edições da famosa prova italiana Targa Florio.

Sua bela carroceria feita em alumínio, sempre pintada de azul, cor oficial da fábrica, tinha medidas compactas. Media 3,68 metros de comprimento, 1,32 m de largura e 2,40 m de entreeixos e pesava apenas 750 kg. Vista de cima tinha formato em gota, o que já demonstrava preocupação com a aerodinâmica. Era um biposto, pois na maioria das provas iam piloto e mecânico, e o regulamento impunha ainda carregar estepe, que ficava no lado esquerdo da carroceria. Entre este pneu e a carroceria podia ser visto um enorme cano de escapamento, com as oito saídas do coletor lateral visíveis mesmo com a parte do duplo capô fechado.

Neste havia entradas de ar tanto na parte superior quanto nas laterais, para melhorar a ventilação. Um bom cinto de couro evitar aberturas inesperadas em altas velocidades. Tinha dois faróis circulares, o belo radiador em forma de ferradura e, apenas para as versões de rua, todos os pneus eram cobertos por pára-lamas como os usados em motocicletas. Atrás comportava dois tanques de combustível. O chassi de aço tinha longarinas em seção quadrada. Era um belo carro e sua carroceria se tornou muito carismática.

O motor de oito cilindros em linha refrigerado a água, com comando no cabeçote, tinha virabrequim com cinco mancais e mantinha a cilindrada de 2.991 cm³. Acionado por manivela (não havia arranque elétrico) e alimentado por dois carburadores da marca Solex ou Zenith, desenvolvia 90 cv a 6.000 rpm e o levava à velocidade final de 170 km/h. Sua tração era traseira, a caixa tinha quatro marchas não sincronizadas e a alavanca ficava do lado de fora da cabine, à direita do volante. Na época, a maioria dos carros de corrida tinha posição de dirigir do lado direito.

O posto de pilotagem era limitado. O volante de quatro raios podia ter aro de madeira como opcional e o painel, feito em alumínio, tinha como instrumento principal um grande conta-giros. Também contava com relógio e marcadores de temperatura, pressão de óleo e nível dos tanques de gasolina. A suspensão usava eixo rígido com molas semi-elípticas à frente e atrás. Os freios a tambor, padrão na época, vinham integrados às rodas em uma só peça de liga leve, uma novidade. A medida dos pneus era 4,40-27.

O Tipo 35 estreou no Grande Prêmio de Lyon em 1924, mas não obteve sucesso frente aos carros com compressores, como Fiat, Sunbeam e Alfa Romeo P2 — também houve problemas com pneus. A equipe chegou ao local com sete carros para correr e cerca de 40 toneladas de peças! Eram os tempos de Piero Bordino, Giuseppe Campari, Achille Varzi, Louis Chiron, Georges Boillot e Felice Nazarro. As provas eram realizadas na França em Pau, Lyon e Monthléry; também mais ao sul, em Monte Carlo, e na Itália em Brescia e Targa Florio.

Sua primeira vitória foi em Monte Mario, circuito de 10 quilômetros nas proximidades de Roma. Não parou mais de ganhar e chegar ao pódio em todos os circuitos famosos da Europa. Por causa de um dono de concessionária do sul da França, que comprou um Tipo 35 para uso próprio e em competições regionais, a difusão do pequeno esportivo foi enorme. Estavam nascendo as equipes de corridas não oficiais, sem apoio de fábricas. O Bugatti concorria em provas por toda a Europa, sobretudo na França e na Itália. Por vezes compunha todo o grid de largada. Profissionais ou não, vários o pilotaram.

Uma versão de rua mais simplificada e com entreeixos bem mais longo, de 3,12 metros, era apresentada em 1926. Batizada de 35 A, era mais acessível e menos potente: 75 cv a 4.000 rpm no motor de 1.991 cm³, suficientes para máxima de 145 km/h. Houve uma derivação, a Grand Sport, com pára-lamas, faróis e pequeno pára-brisa para permitir seu uso em rua. Em 1927 era lançada a versão 35 B, também conhecida como 35 TC (Targa Florio Compressor). Equipado com câmaras hemisféricas e compressor Roots, o motor de 2.262 cm³ desenvolvia 135 cv a 5.200 rpm. A velocidade final era de 190 km/h, número espetacular para os anos 20. Sua evolução, o Tipo 35 C de 1928, voltava à cilindrada de 1.991 cm³ do modelo de 1925, mas com maior potência (125 cv a 5.500 rpm) por meio do uso de compressor.

Produzido entre 1924 e 1931, o Tipo 35 foi, junto de Royale, Atalante e Atlantique, um dos mais bem-sucedidos modelos da empresa. Hoje podem ser vistos no Museu da cidade de Mulhouse, também na região da Alsácia francesa. No Brasil foi feita uma réplica pela empresa Tander Car, que depois passou os direitos para a L'Automobile, no final dos anos 70 e princípio dos 80. A carroceria era muito fiel, em plástico reforçado com fibra-de-vidro, e tinha bom acabamento. Mas, com motor Volkswagen arrefecido a ar em posição traseira, estava longe de ser digno do lendário 35 de origem francesa.

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