No interior, painel completo e
acabamento requintado; sob o capô, um potente V12 de 7,6 litros que
permitia 185 km/h, destaque para a época
Mesmo remodelado mais uma vez em
1935 (fotos), o Silver Arrow não conseguiu se firmar; a própria marca
seria extinta três anos mais tarde |
"Por
que não?", imaginou Faulkner, quando a empresa ainda passava por grave
crise. "Nada tem dado certo. Isso pode dar". Wright, apesar da pouca
idade, já havia passado pelas encarroçadoras Union City e Murphy e pela
General Motors. Depois de ser despedido devido aos cortes no orçamento
causados pela crise, o projetista levou suas idéias para a Pierce-Arrow
e, trabalhando em casa, criou um modelo em argila na escala 1:8, o qual
entregou junto com desenhos conceituais a Faulkner. Entusiasmado, o
vice-presidente aprovou a proposta com a então dona Studebaker, que
concordou em efetuar com o trabalho de desenvolvimento, já que tinha uma
equipe mais experiente para isso.
O carro foi considerado bastante adiante de seu tempo. O chassi
escolhido pelo engenheiro do desenvolvimento, James R. Hughes, foi um de
3,53 m entre eixos, em vez do chassi mais longo que Wright usou para seu
projeto, o que levou a certas diferenças em relação ao modelo em escala.
Diversas características de estilo o destacavam dos demais. Na frente, o
radiador com grade inclinada ajudava a melhorar a aerodinâmica, assim
como conferia um ar de esportividade. Até mesmo o grande ângulo entre as
bancadas de cilindros (80 graus) foi escolhido em função da menor altura
possível do motor, o que contribuía tanto para a aerodinâmica quanto
para rebaixar o centro de gravidade.
Os faróis como continuação dos para-lamas já eram tradicionais na marca
desde 1912, mas no Silver Arrow iam além: embutiam-se como continuação
da linha de cintura do carro, praticamente extinguindo a separação entre
para-lamas e corpo principal da carroceria — tendência que só tomaria
forma na maior parte da indústria na década seguinte. Outra
característica tradicional da Pierce podia ser vista sobre a grade — o
arqueiro símbolo da marca. Os para-lamas dianteiros, devido a sua
altura, acomodavam os estepes (um de cada lado) em compartimentos
especiais — ideia usada até hoje pelo carro inglês Bristol Blenheim 3. O
para-brisa era dividido em duas partes e pouco inclinado para trás com o
objetivo de melhorar a aerodinâmica.
Na lateral, diversos detalhes de estilo avançavam o carro em relação a
seus contemporâneos, tais como as maçanetas embutidas em rebaixos e as
saias que cobriam as rodas traseiras. Na traseira longa e curva, duas
minúsculas janelas em formato triangular, embora em nada ajudando para a
visibilidade traseira, davam um aspecto único ao carro. As lanternas
seguiam as linhas dos para-lamas. Por esse motivo, o Silver Arrow foi
considerado um dos primeiros carros cujo desenho da parte traseira teve
tanta importância quanto o da dianteira. As carrocerias de aço tinham
pintura em duas cores — a já citada prata e um tom cinza escuro, que se
iniciava no capô, formava um contorno na área envidraçada e descia em
duas partes pela traseira, envolvendo a tampa do porta-malas.
O carro contava com um motor que recebia grande publicidade, devido aos
recordes estabelecidos com ele pelo piloto Ab Jenkins nas planícies
salgadas de Bonneville, Utah em 1932. Sendo um Pierce-Arrow, o automóvel
teria de ter um interior bastante luxuoso. Seus bancos traziam um rico
revestimento de tecido, tendo o traseiro um apoio de braço central.
Madeira nobre era empregada no contorno interno dos vidros, assim como
no revestimento traseiro dos bancos dianteiros.
Criava-se assim um superfície onde se alojavam um alto-falante do rádio,
velocímetro auxiliar e relógio, iguais aos do painel de instrumentos
dianteiro. Assim, caso o proprietário optasse por ser conduzido por
motorista, poderia acompanhar do banco de trás a velocidade. Os
instrumentos principais vinham situados ao centro, com a quantidade de
marcadores que se esperava de um carro de prestígio da época. Quanto ao
desempenho, a velocidade máxima divulgada de 185 km/h era significativa
para o tempo. Dotado de caixa manual de três marchas com tração
traseira, o modelo pesava cerca de 2.300 kg e tinha suspensões com eixos
rígidos e feixes de molas semielíticas, arranjo mais comum na época. Os
freios eram a tambor.
O preço de US$ 10.000 — verdadeira fortuna naquela época — impediu o
sucesso comercial do modelo. Apenas cinco unidades foram produzidas.
Para 1934, Hughes e sua equipe trabalharam no aperfeiçoamento de alguns
aspectos do Silver, assim como procuraram torná-lo menos radical na
aparência. Mas o carro, com isso, perdeu os grandes diferenciais e não
se tornou um sucesso, com vendas estimadas também em cinco unidades.
Nova reformulação vinha no ano seguinte, o último do Silver Arrow, que
agora menos ainda tinha em comum com o modelo original. Ele então deixou
de fazer parte da linha da Pierce-Arrow.
Com apenas 26 carros fabricados em 1938, este foi o último ano daquela
que é considerada por alguns como a mais luxuosa marca norte-americana
de todos os tempos. Recentemente um grupo de entusiastas fez ressurgir a
marca com um carro projetado pelo alemão
Luigi Colani, que tem
fabricação prevista na Suíça por Sbarro e deverá ter motor de 24
cilindros e 10 litros.
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