Os primeiros passos de uma tradição

Dos compactos 303 e 315 ao luxuoso 335, a BMW deu início antes
da guerra a seu longo histórico de motores de seis cilindros em linha

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

O "duplo rim" ainda visto nas grades da BMW fazia sua estreia no 303, mostrado como sedã e conversível; o motor de 1,2 litro fornecia 30 cv

Ao lado da ampliação de cilindrada para 1,5 litro, o 315 trazia a opção do Sports Roadster (na última foto e no alto), de estilo suave e atraente

Alguns fabricantes estão muito associados a uma configuração de motor. Pense em Cadillac e um V8 virá à mente. A Porsche se notabilizou pelo boxer de seis cilindros. Fale em Ferrari ou Lamborghini e você se lembrará dos musicais 12-cilindros em "V" — ou, no caso de Maranello, também em disposição horizontal oposta — de seus esportivos mais nobres. E, não resta dúvida, citar a sigla BMW traz à memória a configuração de seis cilindros em linha.

A Bayerische Motoren Werke (fábrica de motores da Baviera) não surgiu para construir automóveis: foi fundada em 1916 em Munique, no sul da Alemanha, como fabricante de motores para aviões. Sete anos depois começava a produzir motocicletas, que logo assumiram elevada reputação de técnica, qualidade e robustez. A aquisição da empresa Dixi Werks, em 1928, trouxe a seu portfólio um pequeno automóvel — o 3/15 — feito sob licença da Austin inglesa, que o vendia como Seven. O modelo evoluiria para o 3/20 em 1933.

Embora a economia mundial ainda sentisse os efeitos da queda da bolsa de valores de Nova York em 1929, a Alemanha vivia bons tempos. Havia emprego, a inflação estava em queda e o governo nazista começava a abrir as autobahnen, rodovias de concepção moderna que permitiam alta velocidade com segurança. Diante do cenário favorável, a BMW decidiu colocar no mercado um modelo mais luxuoso e potente, seu primeiro com motor de seis cilindros em linha.

O 303 era apresentado em 1933 com o mote "o mais perfeito carro compacto alemão de alto desempenho". Sem inovar em estilo, que seguia o padrão dos automóveis de seu tempo, ele já trazia uma grade dupla no radiador com forma ovalada, o chamado duplo rim, ladeada por faróis montados nos para-lamas destacados da carroceria. Havia quatro versões, todas com duas portas: sedã, sedã conversível (em que as janelas laterais mantinham as molduras), Cabriolet (aberto com dois lugares) e Tourer (aberto com quatro lugares). Curiosamente a Daimler-Benz, que mais tarde seria uma arquirrival da BMW, construiu em Sindelfingen grande parte das carrocerias. O modelo media 3,90 metros de comprimento, 1,44 m de largura e 2,40 m de distância entre eixos e pesava 820 kg.

O chassi tubular, patenteado pela marca, recebia um compacto motor de seis cilindros e 1,2 litro, com comando de válvulas no bloco, que obtinha potência de 30 cv e o levava à velocidade máxima de 90 km/h com grande suavidade de funcionamento. Era um bom desempenho para a época, sem prejuízo da economia de combustível e da facilidade de manutenção, atributos que o fizeram muito apreciado. A caixa de câmbio manual de quatro marchas vinha sincronizada apenas na terceira e na quarta e a tração era traseira. As suspensões, redesenhadas em relação às do 3/20 (com eixo traseiro rígido em vez dos semieixos oscilantes desse modelo), mostravam um acerto dos mais eficientes e, somadas à caixa de direção por pinhão e cremalheira — tipo comum hoje, mas então muito raro —, faziam do 303 um carro prazeroso para se andar rápido, dentro do que a época permitia, claro.

Apenas um ano depois dele, outro BMW vinha acrescentar desempenho à mesma fórmula. O 315 chegava em versões sedã, Cabriolet, Tourer e Limo/Cabriolet, esta produzida na Inglaterra pela Frazer-Nash, e mantinha o desenho e as dimensões do modelo que ele substituía. A novidade estava sob o capô: o seis-em-linha passava a 1,5 litro e 34 cv, suficientes para 100 km/h. No mesmo Salão de Berlim em que o 315 era apresentado, a empresa revelava o estudo de um conversível esportivo, o 315/1 Sports Roadster, cuja aceitação foi tão alta que justificou sua entrada em uma restrita produção.

Com linhas suaves e atraentes, o 315/1 colocava os dois ocupantes quase sobre o eixo traseiro e tinha as rodas de trás parcialmente encobertas. Seu perfil era mais baixo, não havia lâminas de para-choques e a linha superior das laterais fazia um recorte arredondado na região das portas, para destacar a baixa posição dos bancos. Seu motor usava maior taxa de compressão e três carburadores em vez de dois, fornecia 40 cv e permitia 120 km/h — era um dos mais velozes carros esporte compactos de seu tempo. Com ajuda do peso reduzido de 750 kg, participou de competições com bons resultados, dando início à trajetória da marca nas pistas. Apenas 230 exemplares do roadster foram fabricados em meio a quase 10 mil das diversas carrocerias. Continua

 

Carros do Passado - Página principal - Escreva-nos - Envie por e-mail

Data de publicação: 15/2/11

© Copyright - Best Cars Web Site - Todos os direitos reservados - Política de privacidade