O "duplo rim" ainda visto nas
grades da BMW fazia sua estreia no 303, mostrado como sedã e
conversível; o motor de 1,2 litro fornecia 30 cv
Ao lado da ampliação de
cilindrada para 1,5 litro, o 315 trazia a opção do Sports Roadster (na
última foto e no alto), de estilo suave e atraente |
Alguns fabricantes estão muito associados a uma configuração de motor.
Pense em Cadillac e um V8 virá à mente. A Porsche se notabilizou pelo
boxer de seis cilindros. Fale em Ferrari
ou Lamborghini e você se lembrará dos musicais 12-cilindros em "V" — ou,
no caso de Maranello, também em disposição horizontal oposta — de seus
esportivos mais nobres. E, não resta dúvida, citar a sigla BMW traz à
memória a configuração de seis cilindros em linha.
A Bayerische Motoren Werke (fábrica de motores da Baviera) não surgiu
para construir automóveis: foi fundada em 1916 em Munique, no sul da
Alemanha, como fabricante de motores para aviões. Sete anos depois
começava a produzir motocicletas, que logo assumiram elevada reputação
de técnica, qualidade e robustez. A aquisição da empresa Dixi Werks, em
1928, trouxe a seu portfólio um pequeno automóvel — o
3/15 — feito sob licença da Austin inglesa, que o vendia como
Seven. O modelo evoluiria para o 3/20 em 1933.
Embora a economia mundial ainda sentisse os efeitos da queda da bolsa de
valores de Nova York em 1929, a Alemanha vivia bons tempos. Havia
emprego, a inflação estava em queda e o governo nazista começava a abrir
as autobahnen, rodovias de concepção moderna que permitiam alta
velocidade com segurança. Diante do cenário favorável, a BMW decidiu
colocar no mercado um modelo mais luxuoso e potente, seu primeiro com
motor de seis cilindros em linha.
O 303 era apresentado em 1933 com o mote "o mais perfeito carro compacto
alemão de alto desempenho". Sem inovar em estilo, que seguia o padrão
dos automóveis de seu tempo, ele já trazia uma grade dupla no radiador
com forma ovalada, o chamado duplo rim, ladeada por faróis montados nos
para-lamas destacados da carroceria. Havia quatro versões, todas com
duas portas: sedã, sedã conversível (em que as janelas laterais
mantinham as molduras), Cabriolet (aberto com dois lugares) e Tourer
(aberto com quatro lugares). Curiosamente a Daimler-Benz, que mais tarde
seria uma arquirrival da BMW, construiu em Sindelfingen grande parte das
carrocerias. O modelo media 3,90 metros de comprimento, 1,44 m de
largura e 2,40 m de distância entre eixos e pesava 820 kg.
O chassi tubular, patenteado pela marca, recebia um compacto motor de
seis cilindros e 1,2 litro, com comando de
válvulas no bloco, que obtinha potência de 30 cv e o levava à
velocidade máxima de 90 km/h com grande suavidade de funcionamento. Era
um bom desempenho para a época, sem prejuízo da economia de combustível
e da facilidade de manutenção, atributos que o fizeram muito apreciado.
A caixa de câmbio manual de quatro marchas vinha
sincronizada apenas na terceira e na
quarta e a tração era traseira. As suspensões, redesenhadas em relação
às do 3/20 (com eixo traseiro rígido em vez dos semieixos oscilantes
desse modelo), mostravam um acerto dos mais eficientes e, somadas à
caixa de direção por pinhão e cremalheira — tipo comum hoje, mas então
muito raro —, faziam do 303 um carro prazeroso para se andar rápido,
dentro do que a época permitia, claro.
Apenas um ano depois dele, outro BMW vinha acrescentar desempenho à
mesma fórmula. O 315 chegava em versões sedã, Cabriolet, Tourer e Limo/Cabriolet,
esta produzida na Inglaterra pela Frazer-Nash, e mantinha o desenho e as
dimensões do modelo que ele substituía. A novidade estava sob o capô: o
seis-em-linha passava a 1,5 litro e 34 cv, suficientes para 100 km/h. No
mesmo Salão de Berlim em que o 315 era apresentado, a empresa revelava o
estudo de um conversível esportivo, o 315/1 Sports Roadster, cuja
aceitação foi tão alta que justificou sua entrada em uma restrita
produção.
Com linhas suaves e atraentes, o 315/1 colocava os dois ocupantes quase
sobre o eixo traseiro e tinha as rodas de trás parcialmente encobertas.
Seu perfil era mais baixo, não havia lâminas de para-choques e a linha
superior das laterais fazia um recorte arredondado na região das portas,
para destacar a baixa posição dos bancos. Seu motor usava maior
taxa de compressão e três carburadores
em vez de dois, fornecia 40 cv e permitia 120 km/h — era um dos mais
velozes carros esporte compactos de seu tempo. Com ajuda do peso
reduzido de 750 kg, participou de competições com bons resultados, dando
início à trajetória da marca nas pistas. Apenas 230 exemplares do
roadster foram fabricados em meio a quase 10 mil das diversas
carrocerias. Continua
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