Projetos sem projeção

Apesar do pouco destaque no mercado e de não ter chegado a 10 anos,
a Kaiser obteve avanços em segurança e a primazia em hatchback

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Longe de "lançar tendências de estilo" como o anúncio apregoava, o primeiro Kaiser (1947) era apenas um derivado do Frazer já existente

Os retoques visuais para 1949 vinham juntos do conversível DeLuxe, de quatro portas, mas a versão custava muito e não conseguiu êxito

Das inúmeras fábricas de automóveis que os Estados Unidos já tiveram, algumas são conhecidas nos quatro cantos do mundo — como as "três grandes" General Motors, Ford e Chrysler —, outras razoavelmente famosas — caso da AMC — e algumas restritas aos interessados em história, o que não significa que não tenham trazido boas ideias ao mercado. É o que acontece com a Kaiser.

A Kaiser-Frazer Corporation foi fundada em Willow-Run, no estado de Michigan, em julho de 1945 pela associação de Henry J. Kaiser e Joseph W. Frazer. No começo dos anos 40, Kaiser fabricava navios para o esforço de guerra e projetava construir pequenos carros com carroceria de plástico, enquanto Frazer, desde a década de 1920, já trabalhara na Chrysler e na Willys-Overland. Consolidada a união, eles partiram para um projeto de Kaiser para um carro de tração dianteira com uma curiosa suspensão que usava, na frente, barras de torção com mais de 1,10 metro de comprimento.

Problemas de estabilidade e direção pesada — que exigiria assistência, com impacto no preço do carro de segmento popular — levaram ao abandono do projeto e, assim, a Kaiser chegou ao mercado com modelos tradicionais de tração traseira, baseados nos da Frazer, mas com menor preço.

Lançado em junho de 1946 com o ano-modelo seguinte, o Kaiser Special era um sedã de quatro portas e linhas arredondadas com o estilo da época — capô alto, para-brisa bipartido, janelas pequenas —, compartilhado com o Frazer daquele período. Ambos tinham a carroceria apoiada em chassi, com distância entre eixos de 3,14 m, e usavam o mesmo motor de seis cilindros em linha e 3,7 litros originário da marca Continental, com comando de válvulas no bloco, carburador de corpo duplo e potência bruta (padrão neste artigo) de 100 cv.

O câmbio manual de três marchas tinha a alavanca na coluna de direção. Na frente a suspensão independente usava molas helicoidais; atrás, o eixo rígido vinha associado a feixes de molas semielíticas; os freios usavam tambores com acionamento hidráulico, o padrão da época. Meses mais tarde era apresentado o acabamento superior Custom, mais potente (112 cv) e cujo preço ficava a meio termo entre as versões básica e Manhattan da Frazer. A linha 1948 trazia mínimas alterações.

Os Kaisers 1949 vinham com grade e lanternas traseiras ampliadas. Foi também o ano-modelo de estreia de uma interessante variação, chamada de Traveler na versão simples e de Vagabond na mais luxuosa, com revestimento interno em couro. Mantendo o perfil do sedã, a empresa fizera um utilitário em que toda a seção traseira se abria para acesso da carga. A tampa superior abrangia o vidro e a seção horizontal do porta-malas; a inferior, basculada para baixo, parecia a tampa da caçamba de um picape. Grandes volumes podiam ser colocados no espaço de carga obtido com o rebatimento do banco traseiro. Curioso era que, pela montagem do estepe em sua parte interna, a porta traseira esquerda não se abria.

O objetivo da Kaiser foi oferecer uma alternativa às peruas da época — muitas vezes com a parte de trás em madeira — sem os altos custos de modificar toda a carroceria, mas a solução econômica tornou, de certa forma, esses modelos os primeiros hatchbacks da história. Além disso, os carros tinham estrutura mais rígida que as peruas de madeira, representavam aumento de preço modesto sobre os sedãs e o banco não precisava de ferramentas para ampliar o volume de carga. Com essa fórmula, os modelos representaram 25% das vendas do novo ano. Continua

 

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Data de publicação: 26/4/11

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