

Uma versão alongada do 460
tornou-se o primeiro papamóvel: conforto e sobriedade que atenderam a
Pio XI e criaram uma tradição na marca



A Mercedes oferecia três
conversíveis: de cima para baixo, Cabriolet D de chassi longo, o jovial
Sport Roadster e o Cabriolet C de duas portas

Depois de receber grade e
para-brisa inclinados e o motor de 4,9 litros, o modelo ganhava mais uma
versão aberta: esse luxuoso Cabriolet F |

Toda a série Nürburg baseava-se em um chassi elevado com tubos de seção
em "U" e usava suspensões de eixos rígidos e molas semielíticas na frente e na
traseira. O motor de oito cilindros em linha, similar em conceito ao de seis
cilindros que equipava o modelo 300, tinha cilindrada de 4.622 cm³, válvulas
laterais, comando de válvulas no bloco e
lubrificação com circuito sob pressão, ainda rara na época. A potência de 80 cv
e o torque de 24,2 m.kgf resultavam em velocidade máxima de 100 km/h, conforme a
versão, nada mal para seu tempo. O câmbio manual tinha quatro marchas, a tração
era traseira e freios a tambor atuavam nas quatro rodas, que tinham pneus
6,50-20.
A opção da Mercedes por um chassi alto mostrou-se equivocada. Superado a olhos
vistos diante de concorrentes como o Horch 8, o Nürburg foi rapidamente revisto
pelo novo projetista Hans Nibel e já em 1929 ganhava um chassi mais baixo, que
permitia ampliar o espaço interno e rebaixar o
centro de gravidade, com ganho em estabilidade, além de facilitar o acesso
dos ocupantes pela nova posição dos estribos. Com um Sport Roadster,
Rudolf Caracciola e Otto Merz
participaram naquele ano do Rali Alpino e de uma prova de longa distância (oito
horas) para carros de turismo no próprio circuito de Nürburgring.
Algumas unidades do 460 ganharam entre-eixos ainda mais longo para aplicações
especiais como limusine. Um desses carros tornou-se o primeiro Papamóvel quando,
em 1930, foi presenteado ao Papa Pio XI (1922-1939), iniciando uma tradição da
marca em fornecer veículos especiais ao Vaticano. Em 1984 o exemplar,
integralmente restaurado com o devido critério, foi entregue ao Papa João Paulo
II.
Uma versão mais potente, que não substituía a 460, era apresentada em 1931: o
Nürburg 500, número que indicava a cilindrada próxima a 5,0 litros (na verdade,
4.918 cm³) do oito-cilindros. Com 100 cv e 25,8 m.kgf, era possível chegar a 110
km/h e sua elevada massa podia ser movida com mais desenvoltura. O câmbio podia
contar com uma caixa overdrive que atuava nas
quatro marchas, transformando-as em oito em termos práticos (recurso também
oferecido depois no 460 como opcional), e eram adotados faróis mais potentes da
renomada marca alemã Zeiss, ainda hoje famosa em lentes de fotografia, binóculos
e outros itens ópticos.
Além disso, um chassi com distância entre eixos intermediária de 3,42 m passava
a ser oferecido, deixando o Cabriolet D com 5,14 m de para-choque a para-choque.
O motor mais vigoroso não chegou a equipar o Sport Roadster, que foi produzido
por apenas um ano até 1929. Registra-se ainda nesse ano a fabricação de uma
limusine Pullman blindada. A Mercedes lançava uma atualização de estilo em 1932,
quando o nome Nürburg e o motor de 4,6 litros eram abandonados: agora ele se
chamava apenas 500, a não ser confundido com o modelo esporte
500 K. A grade e o para-brisa estavam
inclinados para trás, entre outras alterações que deixavam o desenho mais
adequado a seu tempo.
No ano seguinte outra alternativa de carroceria, o Cabriolet F, ampliava a gama
W08: era também um conversível de quatro portas, mas com aberturas inversas — as
dianteiras para trás, as traseiras para frente — e até sete lugares. Ao
contrário dos demais, não tinha a carroceria produzida pela própria Mercedes,
que entregava o chassi com mecânica para empresas especializadas, como Erdmann &
Rossi, Voll & Ruhrbeck, Papler e Gläser. Uma prática não exclusiva desse
Cabriolet: chassis de ambas as versões de entre-eixos podiam ser adquiridas para
receber carroceria de diferentes tipos por empresas externas.
Na terceira série, lançada para 1936, a potência subia para 110 cv e o torque
para 26,2 m.kgf mediante aumento da taxa de
compressão, o que o deixava apto a 122 km/h. Pneus mais largos, 7,00-20,
eram adotados e tanto a grade quanto o para-brisa estavam ainda mais inclinados.
Um conversível de turismo constava do catálogo, mas as versões Cabriolet C, D e
F eram logo descontinuadas.
O modelo 1939 foi o último para a série, que atingiu a maior longevidade já
vista em um Mercedes anterior à Segunda Guerra Mundial — 11 anos, nos quais
foram feitas mais de 3.800 unidades, com predomínio do 460 de chassi rebaixado.
Depois do Nürburg, a marca da estrela não mais usou eixos rígidos nas suspensões
de um automóvel e rodas com raios de madeira nunca mais foram vistas em carros. |