Se o desempenho não superava o
dos concorrentes, o Urraco foi muito elogiado pelo comportamento
dinâmico, um dos melhores de seu tempo
A versão P300, em cima, trouxe
maior cilindrada para chegar a 265 cv; a P111 era vendida nos EUA com
apenas 175 cv e outros para-choques
Fotos: Lambocars.com
O piloto Bob Wallace preparou um
P250 para rali com 3,0 litros e 310 cv |
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Não
foi uma gestação rápida, a do Urraco: mais de dois anos se passaram até
que ele chegasse ao mercado, quase junto do novo
adversário da Ferrari, o Dino 308
GT4. Com o Maserati
Merak eles formavam o trio de esportivos italianos de marcas famosas
por seus potentes V12, mas dotados de motores menores e 2+2 lugares.
Tanto o Urraco quanto o Dino tinham motor V8 transversal e desenho de
Bertone; já o Merak usava um V6 longitudinal e linhas concebidas por
Giugiaro.
No teste da revista
norte-americana Road & Track, em 1973, o comportamento
dinâmico foi o destaque do P250: "É um verdadeiro Lamborghini, só que
melhor. A direção é leve, precisa, totalmente livre de vícios. Os pneus
Michelin XWX dão grande poder de curva, que ele faz de forma estável com
muito, muito pouca inclinação de carroceria e uma atitude bastante
previsível. Maravilhoso". O Urraco foi definido como "um pequeno carro
de sonho e uma das máquinas de rua mais agradáveis já inventadas".
A inglesa Autocar endossava as impressões: "Apertadas acomodações dentro de um pacote estimulante e
bem desenvolvido em linhas gerais. Desempenho apenas moderado pelo alto
preço. Ruidoso, ruim de trocas de marcha. Comportamento e aderência
soberbos". E detalhava: "O que faz o Urraco tão rápido na estrada são
seus padrões muito altos de aderência, seu comportamento muito
previsível e seus freios potentes e bem equilibrados".
Quanto ao desempenho,
"para um motor de sua cilindrada e rendimento, o V8 é bastante
tratável, embora tenha relativamente pouca potência nas baixas
rotações". O teste apontou aceleração de 0 a 96 km/h em 8,5 segundos,
mais lento que o 911 S (6,1 s), o Alfa Romeo Montreal (7,6
s) e o Merak (8,2 s), mas em velocidade máxima o Urraco superava todos
eles: 230 km/h ante 228 do Porsche, 220 do Alfa e estimados 217 km/h do
Maserati.
Pesava contra o Lamborghini o preço 37% mais alto que o do
911 e 20% superior ao do Merak, sendo o Montreal ainda mais acessível.
Mas, para a Autocar, "seria errado tentar justificar o
Urraco em termos de valor por seu preço ou em comparação com outros
carros. O importante é que o conceito de mini-supercarro funciona: é um
carro prático, não temperamental, mais espaçoso que muitos de seu tipo —
e muito satisfatório de dirigir. Ao mesmo tempo, ele tem mais capacidade
de curva que quase todos os carros de rua que dirigimos".
Na também inglesa Car, o Lamborghini enfrentava o 911
Carrera de 2,7 litros e 210 cv e mostrava-se mais confortável: "O motor V8 é mais macio,
muito disposto a girar (você pode levá-lo a mais de
8.000 rpm), mas sem a atitude do Porsche. Ele tem também uma ampla faixa
de torque e inesperada flexibilidade". A suspensão com rodar
bem mais confortável era outro ponto determinante para esse perfil.
A conclusão dos britânicos: "O Urraco é para o homem que coloca o
absoluto em capacidade de curva, estabilidade e refinamento acima de
qualquer coisa. Apesar da relativa falta de aceleração, é quase
certamente o mais rápido, menos cansativo e mais seguro modo de rodar
pelas estradas inglesas. Mas não o recomendamos se pequenas faltas e
deficiências, inseparáveis dos produtos da Lamborghini, vão abalar seu
prazer de possuí-lo".
Além da versão P250 (que nos EUA tinha 175 cv e se chamava P111), o Urraco
teve duas outras, lançadas em
1974: a P200 de 2,0 litros (com 182 cv e 18,1 m.kgf) para o mercado
italiano, no qual os carros acima dessa cilindrada eram severamente
penalizados com imposto, e a P300 de 3,0 litros. Com duplo comando e
quatro válvulas por cilindro, esta passava a 250 cv e 26,9 m.kgf na
versão europeia, o que resultava em máxima de 250 km/h e 0-100 km/h em
5,5 segundos. Houve ainda um exemplar de 1974 preparado para rali pelo
neozelandês Bob Wallace, com motor V8 de 3,0 litros e 310 cv, câmbio de
seis marchas e extensas alterações em chassi e suspensão.
A intenção da Lamborghini era vender 2.000 unidades
por ano, meta que ficou longe de ser alcançada mesmo em seis anos. Foram
520 da versão inicial (tirada de linha em 1976), 190 da P300 e meros 66
exemplares da P200, ou seja, 776 ao todo até a conclusão em 1979.
Credita-se o fracasso à rejeição por clientes fiéis, que não viam nele
um legítimo "Lambo", mas também a problemas de qualidade e acabamento,
ergonomia infeliz e baixa durabilidade.
Ainda, os dois anos de espera até a chegada ao mercado arrefeceram a
expectativa inicial.
Se em termos comerciais o primeiro V8 da marca dos touros não
impressionou, sua combinação de estilo, desempenho, estabilidade e
imponência garantiu-lhe um espaço prestigiado entre os "mini-supercarros"
italianos dos anos 70.
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