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Segurança

O tiro que sai pela culatra

Quebra-matos e engates de reboque proliferam-se e
põem em risco a segurança – inclusive de quem usa

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: Fabrício Samahá e divulgação

A Comissão Européia, responsável por normas de segurança nos automóveis vendidos no continente, pretende proibir a venda de bull-bars, ou quebra-matos, como são mais conhecidos aqui. Instalados em utilitários a pretexto de proteger o veículo no tráfego fora-de-estrada -- por isso o nome --, são uma ameaça a pedestres, ciclistas e motociclistas em caso de atropelamentos e colisões.

Seria uma ótima notícia se nossos legisladores de trânsito, tão preocupados com motoristas que tiram uma das mãos do volante ou falam ao telefone celular com um equipamento de viva-voz, tomassem a mesma medida no Brasil. Quebra-matos e engates para reboque -- denominação que cai em desuso à medida em que cada vez menos são utilizados para seu fim original -- são uma arma no trânsito. Inclusive contra os passageiros do próprio veículo.

Possuir o reboque ou o que transportar em um é mero detalhe: a meta do engate protuberante é mesmo "proteger" a traseira do veículo, seja rodando ou estacionado. Mas as conseqüências podem ser mais graves

Não é difícil entender por quê. As partes dianteira e traseira de um automóvel são projetadas para se deformar em caso de colisão, absorvendo parte do impacto que seria transferido aos ocupantes. Um elemento metálico e reforçado, instalado no chassi ou outra parte estrutural do veículo, torna imprevisíveis a deformação e a absorção do impacto em um acidente, aumentando as possibilidades de ferimentos de região cervical e outros, tanto nos passageiros do carro que bate quanto do próprio atingido.

Chega a ser surpreendente que um fabricante que se diz muito atento à segurança instale como equipamento de série, na versão mais vendida de sua perua médio-pequena (e agora também num picape leve), o perigoso quebra-mato. Como no Brasil não existe uma legislação de testes de colisão (crash-tests) rigorosa como no Primeiro Mundo, cabe ao consumidor esclarecer-se sobre o risco e evitar o produto até que o fabricante reveja sua posição.

Outros riscos de ambos os acessórios são fartamente conhecidos. No caso do engate, é evidente a intenção de muitos usuários de constituir uma espécie de "pára-choque adicional" na traseira, que desestimule o motorista do carro de trás a encostar seu pára-choque no que possui o equipamento, em caso de manobras de estacionamento. Há também a sensação de proteção do patrimônio em caso de colisão pela traseira, que reduziria os danos materiais no veículo dotado de engate.

Começou com os jipes, passou pelos picapes e chegou à Palio Adventure de fábrica (no alto da página): o ofensivo quebra-mato

Poderia fazer sentido se o equipamento fosse instalado em uma região estrutural, mas não é o que ocorre normalmente. Parafusado às chapas inferiores da carroceria, pode causar danos mais extensos caso não suporte o impacto -- claro, cabe lembrar os riscos pessoais já mencionados, bem mais caros que um reparo de funilaria. A solução de sistema escamoteável, adotada no utilitário Ford Explorer e nos engates vendidos como acessórios pela General Motors, por exemplo, poderia servir de base para uma legislação a respeito.

O engate constitui risco pessoal mesmo com o carro estacionado, pela facilidade com que pode ferir pernas de pedestres que caminham por trás do veículo. E a superfície cromada adotada em muitos deles gera incômodos -- e perigosos -- reflexos à incidência dos faróis de quem vem atrás, problema que parecia extinto com a adoção de pára-choques foscos ou pintados nos automóveis atuais. Talvez seja justamente esse o objetivo de muitos motoristas ao passar por radares fotográficos, outro aspecto que merece atenção dos legisladores.

Ambos os equipamentos têm a preferência de muitos jovens, que vêem neles um ar esportivo e atraente. Gosto não se discute, mas é bom saber que o veículo só perde com a instalação do engate ou do quebra-mato: cria-se um peso-morto nas extremidades do veículo, justamente onde mais deveria ser evitado (por influir na distribuição de peso entre os eixos e, por extensão, no comportamento em curvas), e piora-se a aerodinâmica, no caso do elemento dianteiro.

É comum que o engate sequer tenha ligada a conexão elétrica para luz de freio, sinal claro de que não é instalado para rebocar. E muitos escolhem os cromados, que incomodam pelos reflexos e podem prejudicar a ação dos radares fotográficos

Seja por interesses condenáveis ou pela falsa impressão de segurança, quebra-matos e engates proliferam-se pelas ruas. Há até microônibus que adotam o quebra-mato na frente e na traseira, clara intenção de uso como pára-choques adicionais. O Best Cars Web Site sugere que o engate seja instalado apenas por quem efetivamente leva reboque, enquanto o quebra-mato deve ficar restrito a jipes e utilitários que transitam com freqüência por trilhas mais densas.

Fora dessas condições, sua segurança e a dos demais estão em risco. Aos legisladores de trânsito fica nosso apelo.

Obs.: o Best Cars Web Site contatou por e-mail em 25/7/01 a Fiat, fabricante da Palio e do Strada Adventure com quebra-mato de fábrica, a respeito da segurança destes modelos em colisões, mas não recebeu resposta.

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