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Hora do alongamento

Depois de encurtar em excesso as relações de marcha,
os fabricantes fariam bem em voltar ao câmbio longo

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

O fato começou a chamar a atenção de quem acompanha o Teste do Leitor, o pioneiro serviço do Best Cars Web Site em que o internauta compartilha sua opinião sobre o carro ou moto que possui. A grande maioria dos proprietários do novo Polo, em versão de 1,6 litro, lamentava o câmbio curto demais, que aumenta o nível de ruído interno e o consumo em velocidades de viagem.

"A 120 km/h o regime de giros do motor é altíssimo", reclamava um dos donos. "A relação de marcha é curta, podendo sair em 2ª. marcha, e quando em 5ª. passa a impressão de faltar marcha", dizia outro. "Não entendo a desculpa que ela [a Volkswagen] utilizou para encurtar em demasia o câmbio em relação ao europeu, dizendo que os brasileiros gostam de sair das lombadas em 3ª. marcha", disparava um terceiro, a que outro completava: "Os engenheiros tiveram um bom tempo para fazer o projeto da relação para terem o direito de errar TÃO feio".

Em favor da discutível comodidade de não se precisar reduzir marchas em certas subidas e lombadas, o Polo 1,6 ganhou um câmbio criticado -- pelos próprios compradores -- como há tempos não se via

Para o BCWS, os leitores estão cobertos de razão. Já na avaliação de lançamento do carro, em abril último, escrevíamos: "(...) não haveria a menor razão para adotar relações de marcha curtas em excesso, que produzem mais de 4.000 rpm a 120 km/h em quinta. Aliado ao pouco revestimento absorvente, isso deixou o Polo um tanto ruidoso em velocidades de viagem. A VW errou mais uma vez, como já fizera com Gol 1,0 16V, Golf 2,0 e outros modelos."

O caso do Polo 1,6, que infelizmente está longe de ser isolado, revela que alguns fabricantes foram longe demais no que chamam de "atender às exigências do consumidor brasileiro". A justificativa é que o trânsito nervoso de nossas grandes cidades, a profusão de lombadas e valetas, a topografia das ruas e estradas e, sobretudo, o gosto de nossos motoristas por veículos ágeis exigiriam relações de marcha mais curtas.

A VW está longe de ser a única: marcas como a Ford também têm exagerado nas relações curtas, aumentando o consumo e o ruído em uso rodoviário

Assim, o motor de 1,6 litro do modelo da VW foi combinado a um câmbio tão curto quanto o do 1,4 16V europeu, que tem torque bem inferior, enquanto a versão de 2,0 litros, generosa em torque, tem uma relação que não cairia mal ao 1,6. O câmbio curto demais do Bora foi estendido ao Golf 2,0 no modelo 2002, à mesma época em que um diferencial encurtado era responsável por boa parte da agilidade do novo motor do Gol 1,0 16V.

Outras marcas apelam ao mesmo expediente. O Peugeot 206 1,6 chegou ao Brasil com as relações de marcha do 1,1 francês. O Mercedes A 160, lançado com o câmbio igual ao do alemão, foi encurtado um ano depois. A Ford aproveitou a troca de motor do Ka e do Fiesta, nos modelos 2000, para adotar uma caixa das mais curtas que se conhece. Na Fiat, o Brava 2002 ganhou um motor com mais torque em baixa rotação, mas manteve as relações curtas do anterior. Continua

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Data de publicação: 4/2/03

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