O acabamento X-Line é bem
simples na aparência, mas parece o XR no ambiente interno e tem a maior
capacidade de carga da classe: 742 kg |
Ao volante
Compromisso é um conceito no qual todo projetista dorme pensando — como
equilibrar mais de uma característica em um mesmo veículo. No caso dos
picapes, esse compromisso seria a melhor equação entre veículo de
trabalho e carro de passeio. O grande desafio é equilibrar o quanto de
característica de cada exigência incluir sem prejudicar a outra. Nesse
sentido, as 320 pessoas que trabalharam no desenvolvimento do Hoggar
podem dormir tranquilas, porque entregaram um produto com o melhor
compromisso entre essas categorias oferecido em sua classe. Durante os
mais de 180 quilômetros da avaliação da imprensa no lançamento em Santa
Catarina, por vários tipos de terrenos e topografia, mal se percebeu
estar a bordo de um picape. Só mesmo ao olhar pelo retrovisor “caía a
ficha” de que aquele veículo era um utilitário, pois a sensação era de
estar rodando com um 207 qualquer.
O principal responsável por esse efeito é a suspensão, que suporta
elevado peso sem ser rígida a ponto de deixar o veículo saltitante
quando vazio. Nota-se bem a vantagem das rodas independentes quando as
irregularidades atingem apenas uma das rodas traseiras. A respeito de
desempenho, a versão XR 1,4 agrada no uso urbano, mesmo com a primeira
marcha tão curta que só mesmo na subida e carregado seria necessário
usá-la. A retomada de velocidade é lenta, em comparação com a 1,6 e com
os principais oponentes, mas há boa aceleração quando se usa o motor a
pleno. Já a disposição do Escapade 1,6 16V surpreende e pode ser
equiparada à dos 1,8 concorrentes da Fiat e da GM, com os 1,6 da Ford e
da VW (e o 1,4 da GM) ficando para trás. O motor consegue responder bem
já nas baixas rotações e tem uma retomada de velocidade rápida e linear.
Fizemos várias simulações na subida de uma serra, no litoral de Santa
Catarina, e o 16V mostrou-se do tamanho ideal para quem transporta carga
por longos trajetos, mesmo sendo o veículo 79 kg mais pesado que o XR.
Sua capacidade de carga é de 650 kg.
O melhor das duas versões avaliadas é mesmo o nível de conforto. No piso
de calçamento da Lagoa da Conceição, em Florianópolis, SC, o Hoggar foi
tão suave e silencioso quanto um carro “normal”. Durante o teste não se
observou nenhuma deficiência nos freios, mesmo com a caçamba vazia —
situação que normalmente desequilibra a frenagem dos picapes —, mas é
fato que muitos desejam o sistema antitravamento (ABS), que por isso
deveria ser oferecido ao menos no Escapade. Neste primeiro contato não
tivemos a oportunidade de avaliar os modelos com carga na caçamba nem
tivemos acesso à versão X-Line, que deixa curiosidade sobre seu
comportamento sem carga pela suspensão mais reforçada.
Segundo a Peugeot, das 1.500 unidades por mês que ela pretende vender
até o fim do ano, 14% devem ser da versão X-Line, 60% da XR e 26% da
Escapade. A garantia de motor e câmbio foi estendida para três anos (no
restante do veículo é de um ano), decisão não ampliada para outros
modelos da linha. A fábrica francesa pode estar chegando ao segmento
quase 30 anos depois das marcas concorrentes, mas prova que escolheu bem
as melhores qualidade de cada adversário para compor seu produto. O
Hoggar parece apto a conquistar boa fatia do público alvo formado em
mais de 90% por homens entre 30 a 49 anos. Ainda segundo a Peugeot, 37%
são pequenos comerciantes e 41% transportam carga. Não pergunte o que
farão os outros 59% com tanto espaço na traseira. |