Suspensão macia e boa
estabilidade foram confirmadas na avaliação na Bahia, mas o desempenho
muda por inteiro com a escolha do motor
Lento e aparentemente pesado com
o 1,0-litro (em cima), bem agradável com o 1,6, o Logan atenua seu jeito
espartano e mantém os atributos |
Com ajuste de altura do volante e o bom banco, descobrir uma posição
ideal para dirigir o Logan é fácil. Uma qualidade está nas portas amplas
e com bom ângulo de abertura. Um senão merece a alavanca de ajuste da
altura do assento do motorista, situada entre a lateral do banco e a
porta: quando ela está fechada, o espaço para a mão é exíguo. O câmbio
tem um curso justo e direção assistida hidráulica (opcional) está bem
calibrada. As vibrações do motor 1,6 em marcha lenta mal são percebidas
do habitáculo. O motor de 92/95 cv leva o Logan com facilidade às
velocidades habituais de viagem com nível de ruído razoável para a
proposta. Na bem asfaltada BA-099 o carro se mostrou equilibrado,
percorrendo curvas amplas em velocidade sem oscilações nocivas. A
suspensão absorve bem as irregularidades e em frenagem intensa o
comportamento é correto.
De volta à base, chega a hora da versão 1,0 16V. É difícil
identificá-lo, pois a única diferença entre as versões Expression de
motores diferentes está na pequena tarja no porta-malas — numa está
escrito 16V, na outra 1.6. Já na saída nota-se que o
fôlego é bem menor: é preciso recorrer a altas rotações para "acordar" o
pequeno motor. A primeira marcha bem curta acaba logo, assim como as
outras, e chegamos a 80 km/h em quarta sentindo que, se passarmos para a
quinta, a velocidade não vai progredir. Os 76/77 cv do motor de pouco
torque em baixa rotação têm uma tarefa árdua ao empurrar os 1.025 kg e a
grande área frontal à frente. Como em todo carro de 1.000 cm³, o
acelerador e o câmbio devem ser usados sem parcimônia se a intenção for
alcançar o ritmo coerente com o da rodovia. Para chegar a 120 km/h e
manter tal velocidade em aclives o empenho do motorista deve ser
redobrado
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e sem garantia de sucesso. Não há como obter milagre aqui: motor 1,0 é
muito pequeno para um carro desse porte. O desempenho fica seriamente
prejudicado pela massa que o propulsor tem que carregar.
Enfim, o novo Logan é o que deveria ter sido desde o início: um carro do
segmento de entrada dos sedãs com dimensões avantajadas, mas sem ser tão
espartano. Se ao lançá-lo a Renault pesquisasse melhor o histórico de
carros “pelados” ou rústicos demais no Brasil, descobriria que a
essencialidade entre nossos consumidores é tida como defeito, e não
qualidade. Durante a avaliação o motorista de um Siena nos parou para
perguntar do carro. As primeiras perguntas que fez foi sobre os preços
e, ao ouvir os valores, retrucou: “Mas isso é completo, né?” Eis a alma
do cliente por aqui: quer economia, quer pagar pouco, quer espaço. Quer
tudo o que os carros superiores costumam ter e não se sentir em algo
muito despojado — ou, pior ainda, deixar os vizinhos perceberem que está
nessa situação. Para esses brasileiros o novo Logan é certo, pois está
mais caprichado por fora e por dentro, sem perder suas qualidades
essenciais.
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