Peugeot 3008: bons argumentos para encarar Compass

De minivan para SUV, modelo é sofisticado e anda bem; preço de R$ 136 mil está competitivo no segmento

Texto: Geraldo Tite Simões – Fotos: divulgação

 

Marca nenhuma, hoje, pode se dar ao luxo de não oferecer um utilitário esporte — está bem, talvez a Ferrari ainda possa, mas nem a Lamborghini resistiu. No mercado brasileiro a Peugeot limitava-se à minivan 3008, com um estilo “aventureiro” que a aproximava de um SUV, mas não era o ideal. Agora chega o 3008 de segunda geração, que adere de vez ao segmento tão badalado e vem competir com o Jeep Compass.

Foi definida uma única versão, ao preço sugerido de R$ 136 mil, que mantém o trem de força da anterior: motor THP turbo a gasolina de 1,6 litro com injeção direta, potência de 165 cv e torque de 24,5 m.kgf, tração dianteira e transmissão automática de seis marchas. Os equipamentos de série são fartos, tanto de segurança quanto de conforto (veja no quadro abaixo). A garantia é de três anos.

 

Desenho robusto e anguloso do 3008 agrada; faróis (até os de neblina) e lanternas usam leds

 

Os principais alvos da Peugeot são o Jeep Compass (R$ 125 mil na versão Limited com motor flexível de 2,0 litros e 159/166 cv, R$ 133 mil na Longitude 4×4 com o turbodiesel de 2,0 litros e 170 cv), o novo Hyundai Tucson (R$ 138.900 na versão GL e R$ 147.900 na GLS com motor turbo de 1,6 litro e 177 cv) e o Kia Sportage (R$ 140 mil o EX de 2,0 litros e 156/167 cv).

 

Como nos 208 e 2008, o painel adota quadro de instrumentos lido por cima do volante, mas em vez de mostradores físicos há uma tela configurável de alta resolução

 

Outros concorrentes são Honda CR-V EXL (2,0 litros, 150/155 cv, R$ 148 mil), Hyundai IX35 GLS (2,0 litros, 157/167 cv, R$ 131.290), Mitsubishi Outlander (2,0 litros, 160 cv, R$ 143 mil), Subaru Forester S (2,0 litros, 150 cv, R$ 139.900) e Volkswagen Tiguan (turbo, 1,4 litro, 150 cv, R$ 126 mil). Entre as marcas de prestígio há as versões de entrada Audi Q3 Attraction (1,4 turbo, 150 cv, R$ 143 mil) e Mercedes-Benz GLA 200 Style (1,6 turbo, 156 cv, R$ 146.900). De todos, apenas CR-V, Forester e o Compass a diesel têm tração integral.

O primeiro impacto causado pelo novo 3008 é pelas dimensões: é alto, largo, espaçoso, mas quando colocamos em movimento parece que tudo encolhe. A proposta de estilo foi tentar “aumentar” o carro visualmente, em especial na parte dianteira, para obter a sensação de robustez tão valorizada nessa categoria. Colaboram para essa impressão as rodas de 19 polegadas com pneus 235/50. Os faróis (até os de neblina) e lanternas traseiras do modelo fabricado em Sochaux, França, usam leds. Comparado ao anterior ele está 8 centímetros mais longo e 6,2 cm maior entre eixos, mantendo largura e altura.

 

A Peugeot definiu um bom conteúdo de série, que inclui teto solar panorâmico, mas alguns recursos de assistência ao motorista ficaram na Europa

 

O interior adota a mesma ideia de 208 e 2008 com o quadro de instrumentos elevado e lido por cima do volante, para menor desvio de atenção da rodovia, mas em nova fase: em vez de mostradores físicos, há uma tela digital de alta resolução de 12,3 pol que pode ter as informações configuradas. Uma das opções mostra um conta-giros “analógico” de movimento contrário, com o zero à direita e o ponteiro subindo para o lado esquerdo. Outra opção é um conta-giros que parece uma roleta — estranho, mas divertido. A tela de 8 pol do tipo capacitivo destaca-se do centro do painel e serve ao sistema de áudio, compatível com telefone celular pelas plataformas Android Auto, Apple Car Play e Mirror Link. A Peugeot optou por não oferecer navegador integrado.

 

 

Ao volante, boas surpresas: o motorista goza de todas as regulagens elétricas do banco e cinco níveis de massagem, por meio de bolsas de ar que se inflam e desinflam no encosto. O volante tem formato ovalado e é um pouco pequeno. Como o painel é grande e alto, para não encobrir a visão dos instrumentos o volante não sobe muito — o que obriga o motorista a manter os braços mais abaixados, uma posição menos natural. Pode ser melhorada se abaixar o banco, mas aí perde-se visibilidade externa. Em suma, é preciso se acostumar com a posição um pouco diferente. Já o passageiro ao lado conta com regulagem elétrica parcial, que deixa a reclinação manual do encosto em posições predefinidas e com acionamento de difícil acesso.

Próxima parte

 

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Quadro de instrumentos elevado é uma tela configurável; outra serve ao sistema de áudio; junto à alavanca de caixa, o freio de estacionamento elétrico

 

O acabamento do 3008 agrada, com painel revestido com uma combinação feliz de materiais que simula alumínio e couro. Nas partes onde encostamos o revestimento é macio. O console central elevado, que remete ao da geração anterior, abriga a alavanca de transmissão com estilo futurista e o botão de partida. O freio de estacionamento tem comando elétrico e há conveniências como controle elétrico de vidros com função um-toque para todos, porta-luvas refrigerado, retrovisores com rebatimento automático e retrovisor interno fotocrômico.

O espaço interno é amplo, suficiente para uma família média, e os três passageiros traseiros contam com cinto de três pontos e encosto de cabeça. As portas abrem em ângulo bem amplo, o que ajuda a entrada e saída de passageiros. Grande, o compartimento de bagagem de 520 litros pode ser ampliado com o rebatimento do banco traseiro, que forma um assoalho plano, ou mesmo do dianteiro direito.

Alguns itens ficaram de fora do pacote Brasil, certamente para conter custos, como controlador da distância à frente, monitor frontal com frenagem automática; alertas para desatenção do motorista, veículo em ponto cego e saída da faixa da via; assistentes de faróis e de estacionamento, leitura de placas de sinalização, ajustes do controle de tração (como no 2008 THP), sistema de áudio Focal com 515 watts, câmera dianteira e acionamento elétrico da tampa traseira, comandado pelo movimento do pé sob o para-choque.

 

Motor turbo de 165 cv, com alto torque em baixa rotação, lida bem com os quase 1.600 kg

 

Plataforma mais leve, mesmo motor THP

O novo 3008 baseia-se na arquitetura EMP2 (Efficient Modular Plattform 2), já em amplo uso na Peugeot Citroën na Europa e que estreou por aqui na Citroën C4 Picasso. Comparada à antiga, permitiu redução de peso da ordem de 100 kg, para o que concorrem para-lamas dianteiros, braços de suspensão e estrutura do banco traseiro de alumínio, tampa traseira de termoplástico e aços de alta resistência. Nada mudou no motor THP, uma unidade ainda atual e com valores de potência e torque bem adequados aos 1.567 kg de peso do carro.

 

Com o motor turbo de 165 cv e alto torque, pode-se escolher uma tocada mais divertida ou rodar com rotação mais baixa, ainda assim com certa desenvoltura

 

Trata-se da opção a gasolina mais potente do mercado europeu, que dispõe ainda do Puretech turbo de 1,2 litro e 130 cv, além de unidades turbodiesel de 1,6 litro (100 e 120 cv) e 2,0 litros (150 e 180 cv). Embora a Peugeot não informe desempenho no Brasil, dados europeus apontam bons índices: velocidade máxima de 206 km/h e aceleração de 0 a 100 km/h em 8,9 segundos.

No lançamento à imprensa, fizemos um longo e completo teste na região serrana do Rio de Janeiro, que permitiu sentir vários aspectos de dirigibilidade, desempenho e conforto. Dada a partida, estranhamos o seletor da transmissão de tipo joystick, que foge das posições tradicionais: para engatar D é preciso acionar uma trava não muito visível. Como o cofre do motor é alto, os sensores de estacionamento também à frente são bem-vindos. Da mesma forma o “encolhimento” do vidro traseiro limita bastante a visibilidade, compensada nas manobras de ré pela câmera.

 

Acerto da suspensão deixa o 3008 com boa estabilidade, apesar da altura; rodas são de 19 pol

 

Com seis marchas, a caixa automática Aisin oferece a opção esportiva (S), que faz as trocas em faixa de rotação mais alta e deixa as retomadas bastante ágeis. Em uma serra, isso significa uma tocada mais divertida para explorar melhor os 165 cv. Na posição D o motor trabalha em rotação mais baixa, para favorecer o consumo, mas ainda assim o torque é suficiente para dar certa desenvoltura ao carro. Ao manter o acelerador no fundo, as trocas de marcha são feitas nas mesmas 6.000 rpm nos dois modos. Podem ser usados também os comandos no volante para mudanças. A rotação a 120 km/h, de 2.100 rpm, permite ruído moderado em viagens.

 

 

No trecho de serra percebemos uma das dificuldades dos engenheiros atuais: como encontrar o compromisso entre a versatilidade do SUV e a estabilidade de um automóvel? Seria natural que o 3008 apresentasse um comportamento mais macio nas curvas, com grande inclinação de carroceria, mas essa tendência foi compensada pela boa calibração da suspensão e os pneus 235. Esse ajuste cobra um preço pela rispidez em assumir irregularidades — pudemos sentir o baque seco em alguns dos muitos buracos da BR-040. Outro efeito dos pneus é o ruído de rolagem acima do usual.

Como produto, o novo 3008 mostra-se muito competitivo na categoria, um dos melhores em termos de desempenho e sofisticação do interior. A Peugeot sabe que para seu sucesso deve trabalhar a imagem da marca, o que está sendo feito por um programa de atenção ao cliente (o Total Care) relacionado a serviços e pelo Renova Peugeot, que garante a recompra do carro para troca a cada três anos. De quebra, os primeiros compradores do 3008 ganham de brinde um patinete dobrável com assistência elétrica, o Micro E-Kick.

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