De volta a 1997: os avanços e as frustrações em 17 anos

Quando o Best Cars nasceu, o mercado esperava novas fábricas
de carros e apenas um milhão de brasileiros tinha acesso à internet

 

A indústria brasileira de automóveis comemora um bom período: o ano fechará com 1,54 milhão de carros vendidos, 13% acima do anterior. Diversos fabricantes — Honda, Mercedes-Benz, Renault, Toyota — começam ou anunciam a produção de automóveis no Brasil, enquanto Ford, General Motors e Volkswagen planejam novas fábricas para atender ao crescimento do mercado.

No segmento de carros nacionais pequenos, a ousadia do recém-lançado Ford Ka sobressai, mas o Volkswagen Gol permanece o líder de vendas, seguido pelo Fiat Palio. Entre os hatches médios, comemora-se o anúncio de que o moderno VW Golf será fabricado em São José dos Pinhais, PR, com as mesmas características do alemão. Na categoria de sedãs médios, porém, é a Chevrolet que detém a hegemonia com o Vectra, colhendo os frutos de oferecer o nacional mais moderno da classe, além de ser a única com modelo grande e de seis cilindros em fabricação local, o Omega.

Não apenas o Gol lidera o mercado, como também é a Volkswagen o fabricante com maior participação. A empresa saiu-se bem da recente separação da Ford, após sete anos de união na Autolatina. As “quatro grandes”, porém, mostram alguma preocupação com as marcas que se tornarão brasileiras nos próximos anos.

 

Alguns defendem que a Mercedes aplique
sua engenharia a um hatch de altura normal e
linhas mais esportivas: quem sabe um dia?

 

Para o consumidor, a maior variedade é um benefício. Quando inaugurar sua fábrica paranaense, vizinha à da VW, a Renault fabricará a minivan Scénic, primeiro modelo do gênero no País — ao não se considerar, claro, a Kombi, que está fazendo 40 anos de produção e acaba de ganhar um teto mais alto. Há quem aposte que a velha senhora tem fôlego para mais cinco, talvez 10 anos. Alguns acham impossível.

Outro de formato monovolume é o Mercedes-Benz Classe A, recém-apresentado na Europa e previsto para fabricação local em até dois anos. Mais que a surpresa por seu estilo, o pequeno modelo causou decepção ao capotar no “teste de desvio de alce” promovido por uma revista sueca. Alguns defendem que a marca da estrela faria melhor se apostasse no segmento do Audi A3, aplicando sua engenharia a um hatch de altura normal e linhas mais esportivas. Quem sabe um dia?

Mais que os carros, porém, muitos pregam que o motorista brasileiro é que precisa de urgente aprimoramento. As esperanças recaem no Código de Trânsito Brasileiro, que entrará em vigor dia 23 de janeiro, para tirar o País da incômoda posição de campeão mundial de acidentes de tráfego. Rigorosa, a nova lei impõe multas bem mais caras e atribui pontos ao motorista infrator, que pode perder a habilitação ao exceder 20 pontos. Há quem acredite que em poucos anos o trânsito brasileiro será um dos mais seguros do mundo.

 

 

Utilitário Porsche, não

No cenário internacional, o interesse pelos utilitários esporte (sobretudo nos Estados Unidos) motiva outras marcas a participar do setor, como Infiniti, Lexus, Mercedes-Benz e, dali a dois anos, BMW. Mas ainda causa risos imaginar que um dia possa surgir, digamos, um utilitário da Porsche: não faria o menor sentido.

Essas três alemãs buscam a atenção dos aficionados com os roadsters de recente lançamento SLK, Z3 e Boxster, na ordem, mas eles sonham mesmo é com os novos Chevrolet Corvette de quinta geração, Ferrari F550 Maranello, Jaguar XK8 e Porsche 911 — que acaba de trocar o motor arrefecido a ar pelo refrigerado a água, para irritação dos puristas. No Japão, a Toyota lança um carro híbrido com motores a gasolina e elétrico, o Prius, em oposição ao GM EV1 apenas elétrico apresentado há um ano. Qual deles ganhará o futuro?

Grandes empresas estão apostando também no mercado de altíssimo luxo. A Mercedes-Benz apresenta no Salão de Tóquio o carro-conceito Maybach, destinado a milionários que não se contentam com o Classe S. Se colocado em produção, será luxuoso o bastante para competir com os carros da Rolls-Royce — marca que, depois de uma competição entre Volkswagen e BMW, ficou nas mãos da segunda. À empresa do “carro do povo” coube outra inglesa nada popular, a Bentley, e há rumores de que ela possa adquirir também a Bugatti. Se isso se confirmar, espera o bom senso que não tentem aplicar a velha grade “ferradura” da marca francesa a um carro moderno.

No dia a dia dos brasileiros, o período é de novidades tecnológicas. Já passam de um milhão os usuários da internet, a rede mundial de computadores cujo acesso, para a maioria, depende de lentas e instáveis conexões discadas. Outra conquista recente é a telefonia móvel celular, embora sua compra dependa de demorada habilitação e tenha custo proibitivo para muitos. Se alguém prevê um Brasil com mais telefones celulares que pessoas, grande parte deles com acesso regular à rede, certamente é tachado de louco.

A integração entre esses dois assuntos — internet e automóveis — ainda é mínima no País. Muitos acreditam que a rede sirva apenas para entretenimento, como salas de bate-papo: afinal, carro se conhece nas revistas impressas, que tratam o assunto com profundidade. Se o modelo de interesse não está na edição em banca, não há problema: recorre-se a um amigo colecionador ou pede-se exemplar atrasado à editora.

 

E surge um site para aficionados

Assim são o mundo do automóvel e o cotidiano de quem o aprecia — ou pretende comprar um — em 22 de outubro de 1997, quando o Best Cars Web Site é lançado à internet como uma pequena página no servidor Geocities. Trata-se da iniciativa de um jornalista de 22 anos, colaborador da revista Autoesporte, que vê ali um espaço ilimitado para suas paixões e opiniões sobre rodas. Não demora para que centenas, depois milhares, de internautas gostem da ideia e se tornem leitores assíduos.

Não é o primeiro entre os que seriam os grandes sites do setor: a primazia coube ao Webmotors, lançado um ano antes. Contudo, como tal site era puramente comercial, pode-se considerar o BCWS pioneiro entre os sites editoriais sobre carros, que se propõem a fazer o que antes só as revistas de papel conseguiam. Em pouco tempo, é o primeiro site convidado para eventos de lançamento e a receber carros para avaliação.

 

Se alguns daqueles fatos de 1997 se repetem,
outros revelam as reviravoltas pelas quais
o mercado e o dia a dia das pessoas passaram

 

A pequena página cresce em audiência e equipe, com a entrada de diversos colaboradores que prestam enorme contribuição a sua variedade e qualidade de conteúdo. Com um ano e meio de existência é convidado por um grande portal — Universo OnLine, depois apenas UOL — para englobar seu time de parceiros. Ingressa na seção Revistas, pois uma área sobre carros só seria lançada pelo portal dois anos mais tarde.

O que acontece dali em diante, como se diz, é história. Então chegamos a outubro de 2014, quando se completam 17 anos do Best Cars (o sufixo Web Site, que já andava em desuso havia tempos, foi abolido em definitivo do logotipo em 2012).

Se alguns daqueles fatos de 1997 se repetem, outros revelam as reviravoltas pelas quais o mercado e o dia a dia das pessoas passaram no período. Houve conquistas importantes, como o expressivo crescimento das vendas de automóveis — que significa o acesso dessa conveniência a mais brasileiros — e a tremenda expansão da internet, mas certas expectativas não se concretizaram, caso do avanço em civilidade de nosso trânsito.

Entre altos e baixos, conquistas e frustrações, a equipe do Best Cars tem grande prazer de comemorar seu décimo sétimo aniversário com você, leitor ou leitora que nos prestigia com sua visita. Foi para você que preparamos mais uma edição especial, com a avaliação de dois esportivos alemães muito desejados — Audi RS6 Avant e BMW M 135i — e a história da série de entrada da Ferrari com motor V8 central-traseiro.

Esperamos que seja, para você, tão agradável lê-las quanto nos foi produzi-las. E que estejamos juntos daqui a um ano para comemorar a entrada na maioridade de nosso jovem crescido Best Cars.

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